06 dezembro, 2013

Mensalão: o lado bom

Querido diário:

Um troço legal desta encrenca do "Mensalão" é que escancarou-se escabeladamente a inoperância do poder judiciário brasileiro. Tem gente que diz o contrário, impelida por uma visão excessivamente otimista (wishful thinking) das coisas brasileiras. O processo levou quase 10 anos para chegar a um desfecho, aliás nem chegou a desfecho, pois a comédia segue em vários foros (sem trocadilho).

Morosidade, leniência. Nada tenho a ver com leniência (nem mesmo chego a ser leninsta, cabendo-me -no máximo- o epíteto de lennonista, dado meu amor pelos chamados "rapazes de Liverpool"). Mas veja só: eu mesmo tenho umas cinco ou seis questões engavetadas em diferentes instâncias da vida judiciária. É para bater com as 10, e ainda pedir um copo de café preto com cachaça. A solução, já sabemos, é fazer um convênio com a empresa júnior de alguma faculdade de direito finlandesa que se encarregaria de administrar (prever, planejar, organizar, coordenar, comandar, controlar) a justiça no Brasil.

Por que filosofo? Este infindável descalabro dos preços do "Mensalão": receberam os mais altos dignitários do país em seu xilindró: deputados, senadores, ex-presidente da república e o governador de Brasília. Depois veio a farsa do emprego de José Dirceu, a aposentadoria de José Genoíno, a fuga de um trânsfuga cujo nome agora (sem trocadilho) me foge.

Com esta encrenca das prisões lotadas e antecâmaras do inferno para a classe baixa, inventou-se o "regime semiaberto", uma ideia que fracassou rotunda, completa e estrondosamente, mas que agora serve às mil maravilhas também para a classe alta, políticos de escol. Faltam, porém, milhares de réprobos. Regime fechado para todos, mais dinheiro nas cadeias, mais empregos de guardas, dentistas, lavadeiras e cozinheiras nos presídios. Mais eficiência da justiça! Mais cachaça com café, só que desta vez sem o café, meu!

DdAB
Imagem: aqui.

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