07 novembro, 2013

Feira do Livro, Blogs, Azar do Brasil



Querido diário:
Ante-ontem foi o dia mais extraordinário da Feira do Livro de Porto Alegre (ver chamada aqui). E ontem o Caderno da Feira do indefectível jornal Zero Hora tem na capa uma sort of entrevista com a escritora Jasmin Ramadan (do multiculturalismo alemão, I presume). Segue-se logicamente que ela teve um livro lançado em "nossa" feira e tem um blog hospedado no Brasil (aqui).

Ou seja, no dia 30 de outubro, estaria em seu blog (que não vi), segundo ZH:

As construções são feitas aqui, em toda parte, muito juntas umas das outras. Há edifícios altos ao lado de pitorescas casinhas decadentes e, em todas as ruas, pequenas e grandes, incontáveis fios de energia pendem como guirlandas, estendidos, às vezes mais esticados, às vezes frouxamente, de um poste a outro [...].

Eu, volta e meia, comparo o Brasil daqui e dali e agora o que me emocionou da sra. Ramadan foram os "incontáveis fios de energia que pendem como guirlandas". É a construção, não é a construção: mostram claramente os serviços industriais de utilidade pública (os fios de energia elétrica, inclusive alta tensão na Av. Ipiranga da sofrida cidade) e comunicações (os telefones, as guirlandas). O lado menos engalanado deste tipo de arcaísmo no trato urbano é o desemprego, a falta de atividade dinâmica na construção civil, o baixo investimento, a baixa demanda derivada: galerias subterrâneas para a fiação. Além de expandirem a demanda por emprego, essas coisas, ela teria a insuspeita vantagem de ver-se menos vulnerável a tempestades e -fenômeno importante- roubo de fios por parte dos detentores de empregos percários.

DdAB
Imagem: minha foto de um tijolo vindo da fábrica portando um buraco e um prego. Fico pensando se é mesmo azar do Brasil que estejamos vivendo o que muitos chamam de desindustrialização (o que, certamente, não é, de acordo com o conceito de Rowthorn & Wells). Recapitulando Rowthorn & Wells: há três itens:
.a. queda do emprego industrial (transformação)
.b. elevação do produto
.c. elevação da participação no comércio internacional.
Quem sabe, ainda não vamos importar tijolos da China?

P.S. Estava eu olhando o Facebook, distraidamente, no dia 23 de fevereiro de 2021 quando li uma chamada a certa matéria clamando por proteção à indústria de alta tecnologia no Brasil. E lá escrevi: 
Eu particularmente indago como é que a indústria de palitos dentais perdeu tanta qualidade, pois aqueles marca Gina e mais alguns outros quebram-se invariavelmente após palitarmos um ou dois dentes.
E ali embaixo temos a figura de um tijolo que comprei, inadvertidamente, em uma loja de materiais de construção em Porto Alegre. Aquele prego de forma côncava com relação à superfície plana (plana?) do tijolo é mais uma prova de que o Brasil precisa mesmo é começar "por baixo": palitos, tijolos e especialmente esgotos para atender a 100% da população e empresas.
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