16 fevereiro, 2010

soclaismo ou barbárie

querido blog:
não tá muito de primeira esta imagem do carinha do filme Paris, Texas, não é isto? mas é ele mesmo! lá, no Texas, devia estar um calor ensurdecedor, por assim dizer. a Paris de la Seine estava frígida. Pescara está mais para Porto Alegre nuns daqueles dias frios sem humidade de, digamos, julho.

faço agora as últimas reflexões desta série dedicada a minha estada em Paris. foram sete ou oito dias de intensa felicidade (índice por mim calculado, baseado em minha renda (1.000), auto-avaliação na escala de Likert (5) e avaliação de terceiros (1 na escala 0-1).

mas não eram estas evocações auto-biográficas que eu queria trazer, ou melhor, não eram apenas elas. a certa altura, chocado com a dualidade presente mesmo em Paris, claro que não tão escrachada como a que vi em Montevidéu. por exemplo, não admito em absoluto a presença de moradores de rua na rua. o lugar de morador de rua é num asilo para moradores de rua, claro. tampouco admito esmoladores -variante do verbo almolar, não é isto?- e, como tal, esmoleres, estes seres arrogantes que acham que compram a paz do mundo atirando dinheirinhos aos atirados.

em minha opinião, o menino de rua, o senhor de rua, a senhora de rua, o velho de rua, a avó de rua, tudo, tudo isto é a mesma patologia dos sistemas sociais de há muitos séculos. em Paris, lia-se às mancheias (mancheias, meu?, que é isto?; o Aurelião diz que é mainça ou maunça): j'ai faim. os ingleses, que não ficam atrás em matéria de associação ao Clube das Baixarias, diziam: can you spare 20p for a cup of tea?. o Prof. MR dizia: "por que não pedes a tua rainha?", ou ainda "cup of tea? no; i give alimonies only noble ends: drinking".

ao mesmo tempo, li um l'Humanité, raquitíssimo jornalzinho de 70 mil exemplares, 20 páginas e 1,30E$ vários elogios ao emprego. quase que o chamei de "finado l'Humanité. mas vejamos a p.4: "Nous voulons soutenir l'emploi des jeunes non pas en faisant baisser le coût du travail [...]". Basta, não precisa ir além dos três pontinhos. é claro que a Sra. Évelyne Ternant, autora da frase só pode ter sido doutrinada por economistas do mais baixo grau de criatividade para a captura das grandes lições do século XX, apregoadas desde -presumo- muito antes do momento em que Keynes denunciou o "desemprego tecnológico".

o que será que esta pobre criatura entende por "custo do trabalho"? em reais? ou cruzados novos? não seria o caso de pensar em quantidade monetária por peça produzida? e, neste caso, é óbvio que teria que baixar, baixar e baixar, tender a zero! ou seja, quero dizer que o trabalhador, tendencialmente, deve ganhar 0,01 cruzados novos por unidade produzida. e, com isto, a renda dele, seria infinitamente superior à renda básica universal, a qual -como sabemos- tiraria da rua os meninos de rua e seus "benfeitores alimonescos".

o mundo que busca as reformas democráticas que conduzam ao socialismo não pode estar pensando em elevar o custo do trabalho por peça. só pode ser louco, fora da realidade a criatura que assim pensa. só pode estar ajudando a contenar ao opróbio os milhões de desvalidos que hoje habitam a França, a Europa e a Bahia propriamente dita. [um dia, li o que parece constituir o original deste verso, lá num daqueles câmara-cascudos daqueles].

segundo lugar: emprego de jovens? ora, onde estamos? na China, que sustenta o emprego -ouvi e não sei se é lama- de jovens de oito anos de idade, revigorando a mais olímpica tradição inglesa, galhardamente copiada pelas demais nações européias? no Serviço Municipal e sua Brigada Ambiental Mundial, não há emprego remunerado para quem não tem menos de 24 anos de idade, que é declarado inadulto e, como tal, trancafiado em escolas, universidades, academias de ginástica, clínicas de embelezamento, essas coisas que os menores de 24 anos filhos de ricos já fazem em seu dia-a-dia.

Cornelius Castoriadis ou Claude Leford? socialismo ou barbárie? não gosto de ser arauto do pessimismo, o fato concreto é que juro que já estamos na barbárie. Jaguari e Pescara têm em comum uma horda de desempregados que não recebem a criativa resposta de permitir-lhes desenvolverem suas potencialidades. nem que seja a de geraram empregos para dentistas, psicólogos, podólogos, professorinhas de inglês, francês e alemão, matemática, física e química, essas coisas que fazem a festa da vida dos filhos dos ricos.
DdAB

2 comentários:

Unknown disse...

Oi, Duilio! De volta ao Brasil estou conseguindo acompanhar o blog. Tambem fiquei 08 dias em Paris e a impressao que tive foi a mesma que vc. Mas a Escandinavia é diferente. Grande abraco,
Fernanda

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

ei, Fer:
fiquei muito feliz em acompanhar teus passos europeus. és uma escritora vibrante. tomara que sigas por aqui. ou me permitas seguir as pegadas brasileiras.
DdAB