23 fevereiro, 2010

Lições para 2010 e mais...

querido blog:
bonitinha esta montagem sobre a "idade da pedra", não é? ou era "dormir como uma pedra", que teria saído arrevezado lá nos arquivos do Google Images? o fato é que quero falar sobre o futuro do Brasil, as eleições, essas coisas. o tema é evocado (selecionei há dias para postar) por uma entrevista que Antonio Delfim Netto deu para a Carta Capital, nas p.32-36 de 13/jan/2010. o ambiente ainda rescendia ao novo ano e ele disse uma piadinha espetacular sobre a Idade da Pedra.

falava que, muito antes que acabe o petróleo, ele será substituído como principal fonte de geração de energia no planeta que ora habitamos. e aí veio: a Idade da Pedra não acabou por falta de pedra. claro que segue-se que ela acabou porque foram criadas tecnologias mais refinadas para lidar com aquela, por assim dizer, macacada.

há dezenas de boas tiradas. outra: quando entra dinheiro, entra vento, mas quando sai, saem bens, serviços e empregos. claro que a idéia é retoricamente charmosa, mas formalmente equivocada. nem vou discutir. pois há outras proposições mais facilmente enquadráveis nas regras da discussão baseada na ciência econômica.

primeiro: "a excessiva valorização do real está destruindo as cadeias produtivas". pois esta é uma questão interessante. quais cadeias produtivas? a do automóvel? a do boi morto? acho que os bois mortos estão mais vivos, se me não expresso mal, do que nunca. o rebanho é enorme, as exportações são enormes e a geração de emprego e renda são enormes. emprego? eu disse emprego? que interessa o emprego, a quem interessa? acho que apenas bocós é que consideram que o ideal humano é ter um emprego.

mas há uma previsão: no ano que vem, o país vai ter uma surpresa enorme: um buraco nas contas correntes. esta eu quero ver. claro que haverá pilhas de coisas que ele mantém constantes para fazer a previsão e que variarão. será difícil, no caso de vermos o buraco, sabermos se ele foi mesmo provocado pelo câmbio supervalorizado. aliás, como é mesmo que sabemos que o câmbio está supervalorizado? diria ele que a taxa de juros interna deveria ser igual à externa. isto é um erro de teoria: devia, ceteris paribus, mas como algumas condições divergem, a taxa de juros faz muito bem em diferir substantivamente da externa, pelo menos para corrigir o risco de aplicar abaixo da linha do equador, essas coisas.

qual é mesmo o problema se os juros são altos? naquela linha da eficiência marginal do capital, o que me parece óbvio é que os projetos de rentabilidade ridícula é que são filtrados por essa taxa de juros alta. ou queremos mais lojinhas de fim-de-linha de bonde elétrico? ou queremos mais oficininhas mecânicas geridas por trabalhadores precarizados pela ignorância e doença física e mental? ou queremos que os donos de botecos que vendem cachaça a quem ganha menos de R$ 1.000 por mês ampliem suas maviosas instalações?

queremos capitalismo? eu, já disse, quero capitalismo com reformas democráticas que conduzam ao socialismo. quero que os "amigos do proletariado" que lhe desejam reservar os mercados domésticos, os empregos etc., seja mdesmascarados: quem gosta de trabalhador é quem inventou a renda básica. com renda básica decente (mais de R$ 1.000 por mês), quero é ver o que vai acontecer com os salários de equilíbrio do mercado e, como tal, com as empresas incompetentes, como essa do vendedor de cachaça.

ele, Delfim, volta a atacar a questão das metas de inflação, dizendo que é certo que o Brasil pode crescer a 5%a.a. independentemente da razão incremental produto/capital. esta é bonita, claro que não pode, sô. parece evidente que há relações importantes entre formação de capital e crescimento dos períodos futuros. parece evidente que o estoque de capital deve crescer mais aceleradamente, para permitir a substituição ado trabalho vivo por trabalho morto, isto é, o capital itself. condutor de trem? para que, se no Brasil nem há trens e se os houver eles virão com tecnologia que prescinde 100% do emprego desse tipo de mão-de-obra. aquele negócio de tecnologia intermediária, apropriada, é uma balela de quem não tem coragem de olhar para o teorema fundamental da renda (a renda é 100% da renda) e, como tal, discutir os problemas distribuitivos do sistema.

ao mesmo tempo, devemos lembrar que, nas duas décadas perdidas, os Estados Unidos cresceram mais do que o Brasil (é mais ou menos isto...). e agora, que louvamos o etanol, Delfim nos alerta que, no ano de 2020, os Estados Unidos estarão inundando o mundo com etanol eficientíssimo energeticamente falando. (daí o fim da pedra não ser necessário para o fim da Idade da Pedra...). diz ele, muito ajuizadamente: os Estados Unmidos voltarão a crescer por serem o único país onde há inovação e crédito. e também concorda comigo [:)] com o fato de que a riqueza chinesa poderá trazer um enorme abalo à estabilidade política e, como tal, à própria estabilidade econômica, difícil de manter-se num fio de navalha de 10%a.a..

por fim, sua última frase é: "O Congresso precisa assumir seu papel, que é o de produzir o Orçamento, fiscalizar a sua execução." e a minha: claro! no dia em que isto ocorrer, os ladrões abandonarão a política.
DdAB

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro, abordaste diversos pontos de uma só vez. Retirando a parte do socialismo, concordo com a maior parte. Mas o que eu quero saber: Seria o Brasil um substituto da China ou dos EUA?

hahaha


Abraços

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

aí, Daniel: concordo que discordes... a presença dos produtos chineses aqui é tão maciça que fiquei pensando sobre o futuro do mundo. também fui influenciado pela leitura daquele número da Carta Capital, especialmente um artigo que ainda não comentei, o de Delfim Neto e o que comentarei em seguida. neste ambiente, é que comecei a pensar naquilo que alguns (não exatamente esses três) falam sobre o mundo multilateral. volta e meia eu falo na verdadeira ONU, como uma forma pacífica de dar vazão às idéias do Império Galáctico e o capitão Flash Gordon. acho que o estado nacional está condenado. como tal, não vejo espaço para autonomia do Brasil. este estado mundial que tanto desejo vai nascer, como todos os demais, a ferro e fogo. mas vai nascer!
DdAB

maria da Paz Brasil disse...

:)

Anônimo disse...

Só comentando a imagem, não tem nada de montagem e nada de idade da pedra ... É um trabalho de um designer americano, s~~ao almofadas feitas de feltro e em tons que lembram pedras de verdade: cáqui, marrom, cinza, bege, areia...

Foto: Design Sponge