Querido Blog:
Lembro bem que, em tempos difíceis, depois chamados de "anos de chumbo", dizíamos que os colaboracionistas diziam "temos que sobreviver, entende?". Também lembrei, no outro dia, "se eu não me queimo, se tu não te queimas, de onde virá a chama?" Fizemos o que nos coube, fizemos o que pudemos. O fato concreto é que "não há mal que sempre dure", corruptela de "não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine". A ditadura militar eletiva acabou.
Mas deixou uma herança severa. Deixou milhares de indivíduos politicamente cegos. Deixou gente que nutriu uma antipatia por valores da ordem e da modernidade incompatíveis com a construção da sociedade igualitária. Não querem, estas pobres cabras-cegas (diria Lourdette), "reformas democráticas que conduzam ao socialismo". Que significa esta frase?
.a. primeiro: não queremos socialismo
.b. queremos apenas as reformas democráticas
.c. elas conduzirão a ele
.d. este "que" quer dizer: qualquer reforma democrática aproxima-nos mais do que nos distancia do socialismo
.e. depois, apenas depois, não agora, ainda é cedo para isto, depois, repito, depois-depois-depois, é que vamos definir socialismo
.f. talvez nem precisemos, se capricharmos na luta pela sociedade igualitária.
Desta tragédia que vivemos no Brasil, a ladroagem federal (Inocêncio), estadual (Arruda) e municipal (Ulbra e seu reitor acusado de liderar uma quadrilha que roubou R$ 63 milhões), a que mais me tocou hoje foi a inominável ignonímia proferida pela Profa. Rejane de Oliveira, presidente do CPERGS - o sindicato dos professores das escolas sustentadas pelas verbas orçamentárias do governo estadual: "Nós não tivemos saída, a sociedade precisa entender isso. Tentamos negociar com o governo, mas não fomos ouvidos." Este lixo, puro lixo, caso de polícia, foi dito porque o CPERGS decretou greve: não vão mais dar aulas até o Natal! As crianças e suas famílias que se danem. A sociedade jamais entenderá isto, exceto que é mais um caso de loucura, de coisa de louco que tem voz de comando neste país de loucos e ladrões!
Isto é o que diz a p.6 de Zero Hora de hoje. Nas p.4 e 5, falou deste roubo de R$ 63 milhões, ela -ZH- que ontem dera duas páginas de destaque a uma entrevista precisamente deste homem hoje desmentido pelo confronto dos jornalistas de nossa Herra das declarações do reitor de ontem e das gravações dele e seus "sequazes" (?) de hoje. Parece que ontem, enquanto eu lia a ZH, a polícia batia (como o galinheiro às raposas) na casa do ex-pastor (que foi excomungado da igreja no domingo que passou), sua filha e seu filho. Arrombou a porta da casa da filha. Só lendo.
A presidente do CPERGS não foi batida. Ela não se abalou com os últimos acontecimentos. Talvez porque não os tenha identificado. Quais seriam mesmo eles? Este troço de ficar dizendo que a sociedade, incluindo-me, numa frase imperativa destas -"tem que entender"- deixa-me contrafeito. Eu diria, simetricamente, a Profa. Rejane tem que entender que ela e seu movimento de já 30 anos ajudaram a destruir o Brasil, este país analfabeto que hoje vemos, este país com milhares de crianças, velhos e loucos pelas ruas. O país que elas -professorinhas e seu movimento sindical esdrúxulo- ajudaram a incinerar, batendo na ferradura o tempo inteiro, destruindo células importantes da sociedade igualitária. O CPERGS ajudou a destruir a educação de todos os níveis do Rio Grande do Sul. O CPERGS ajudou a eleger a Profa. Yeda Crusius como deputada e governadora do estado, e pilhas de outros dirigentes do próprio CPERGS como deputados, vereadores, e por aí vai. O CPERGS é fundador do clube da baixaria. Não sobrou nada. Ele, claro, é menos vilão do que a milicada. Mas tem sua responsabilidade. O CPERGS é uma droga!
Agora sabemos, né? Sabemos que ajudamos, com nosso medo e nosso açodamento, a derrubar a ditadura, sabemos que este troço de onda grevista não levou a nada, não mudou nada. Forçou-me e a outras pessoas honestas a buscarmos novas bandeiras. Eu busco
.1. a da renda básica e
.2. a do orçamento universal,
ou seja, não entendo a Profa. Rejane. Não entendo e acho um desatino esta greve a menos de 15 dias das festas de Natal. Natal é tão sagrado quanto Copa do Mundo. Jornalista fazer greve durante a Copa do Mundo é tão diabólico quanto a macacada do IGBE fazer greve durante a realização do censo demográfico, ou os enfermeiros plantonistas da urgência do HPS fazerem greve cada vez que entra ambulância de sirenes ligadas.
Não posso negar que, há 25 anos, as greves ajudaram a abalar o poder, mesmo que à custa de perdas sociais, perda de talentos, perda de ilusão de alunos que ter-se-ão desgarrado precisamente por causa da falta de merenda, da falta de disciplina, da oferta de substitutos ao esforço que se deve fazer para acordar cedinho e ir para a aula.
Mas são 30 anos. Se greve resolvesse, não teríamos o caos educacional, aulas em containers, classes com 40 alunos "enturmados". O CPERGS não quebrou paliçadas para montar a escola em dois turnos. O CPERGS não se insurgiu com vigor contra o ensino noturno para boa parte dos jovens e adultos que trabalhavam durante o dia. O CPERGS não foi capaz -veja onde nos leva a leitura estrita dos acontecimentos- de produzir qualquer tipo de alternativa decente à destruição -que, cá entre nós, não podemos dizer ter sido desejada- do sistema de ensino fundamental e médio estadual por parte de governantes de diversos matizes partidários.
O CPERGS é uma droga! A Profa. Rejane, uma despreparada. O Deputado Elvino Bohn Gass (líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa, p.7 de ZH) outro -eis meu direito de emitir opinião- um dromedário: "É necessário que pais, alunos e professores façam neste momento uma pressão, porque senão será rasgada uma histórica conquista dos servidores, que é o plano de carreira." Cara, deveríamos fechar os estados e, como tal, as assembléias legislativas. Os deputados ganharem R$ 27.000 só pode ser piada! O CPERGS é uma droga!
DdAB
2 comentários:
Aê, Duilio!
Assinaria tudo que foi dito.
MdPB
certo, menina! e não esqueçamos de mudar o mundo em 2010. e não estou falando nas eleições brasileiras...
DdAB
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