02 dezembro, 2009

Patamares da estupidez

Querido Blog:
dá uma olhada no artigo abaixo. veio da Folha de São Paulo de hoje. é burrice não comer este tipo de torta e, at the same time, é burrice que uno se vicie en azucar.

Mudou de patamar (Ruy Castro)
Em Maceió, na semana passada, mais uma mãe acorrentou a filha à cama para evitar que saísse à rua e fosse assassinada por traficantes, com quem tinha uma dívida pesada por drogas. A garota, 15 anos, é dependente de crack desde os 12; também já é mãe e costuma se prostituir em função do produto. Em contrapartida, relatos sobre pais que saem para buscar crack e abandonam seus bebês em casa durante horas são diários e em todo o país. Em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, também na semana passada, um casal usuário de crack, num surto de abstinência, arremessou o filho de 1 ano e 3 meses contra a parede. Ainda em BH, um pai chamou a PM para conter a agressividade do filho, 29 anos, que fumava crack em casa e o ameaçava. À chegada da polícia, o rapaz reagiu com uma faca e foi morto com 12 tiros, na frente da família. No Rio, perto da Mangueira, um homem de 65 anos matou a filha, de 42, com uma facada no coração. A moça e o marido, dependentes de crack, tentavam agredir a mãe dela, usando uma barra de ferro e uma garrafa quebrada. O pai pegou uma faca de cozinha e, para defender a mulher, acertou a filha. Há pouco mais de um mês, idem no Rio, outro dependente, 26 anos, foi entregue à polícia pelo pai após matar a namorada, de 18. Com o crack, nenhuma família fica de pé. O problema da droga no Brasil mudou de patamar. Não se trata mais de jovens que, depois de anos de uso esporádico e recreativo de drogas "leves", tornam-se dependentes e problemáticos. Agora, usou, bateu -ninguém usa crack recreativamente-, em todas as faixas sociais, culturais e de idade. Sim, o ser humano sempre usará drogas. Se houver oferta. Há menos de dez anos, o crack estava restrito a uma esquina de São Paulo. Não se cuidou dele e, agora, o drama é nacional. E ninguém está a salvo.


Minha primeira reação àquela lista infindáveis de vítimas do moralismo dos políticos e de outros ladrões e traficantes foi de puxar pelo ridículo. Lembrei-me de antigas folhinhas ensebadas que circulavam nos meios que eu frequentava e contavam histórias que, depois passaram a chamar-se de lendas urbanas. E também havia os messiânicos e milenaristas, como é o caso de um daqueles generais japoneses que -por não ter dado pelota a sei-lá-o-quê- passou por vicissitudes nunca dantes navegadas. Ridículos esses generais, esses jornalistas e esse mundo que pensa que o problema da droga é um problema.

O artigo está reproduzido acima, para fins de facilitar-me futuras referências, pois não sou useiro na Folha de São Paulo, uma droga de jornal, ou seja, substituta perfeita de minha milenar Zero Hora. Eu acrescentaria que, na progressista cidade da bergamota montenegrina, mais de 97% (ou era menos e não lembro?) dos crimes envolvem o uso ou tráfico de crack. Ao ler em Zero Hora esta cifra, pensei: se o prefeito de Montenegro não fosse um ladrão, já teria implantado uma sala de consumo naquela bergamotista coluna.

Façamos um ligeiro corpo-a-corpo com o jornalista. Ninguém se torna dependente de drogas, o que ocorre é o contrário: o indivíduo problemático é que se dedica ao consumo desenfreado de drogas, álcool, escrever nos bancos de praça, colecionar flâmulas de grêmios estudantis, bolinhas de gude, o que seja. Consumo compulsivo é uma doença que se expressa de várias formas. Se alguns doentes caem nas mãos dos traficantes, a responsabilidade é dos políticos (ergo, ladrões) que não conseguem colocar algum altruísmo em sua função utilidade.

Naturalmente, o ser humano sempre usará drogas, pelo menos durante o período em que nos seja legítimo pensar e chamar de "seres humanos". Um menino de rua disse-me que gosta da expressão "humáquia", que pega gente portadora desde próteses dentárias a corações de porco. E também pegará gente com platina não apenas no sistema ósseo, mas com -sei lá, plutônio- coisas estranhas nas entranhas, sei lá.

Enquanto houver humanos, haverá oferta de bens e serviços destinados a atender às necessidades humanas. Parece que a tirada de Ruy Castro é que é de pobreza imaginativa característica de nossos melhores (id est, piores) moralistas. O verdadeiro drama nacional, eu diria, endereçando-me ao final de seu artigo é o Gini = 0,5. Com Gini = 0,3, por exemplo, teríamos a mãe do menino de rua sendo -digamos- artista plástica e o menino de rua estudando inglês com a mãe do traficante de crack. Teríamos duas importantes consequencias:
.a. o menino de rua não estaria na rua
.b. o traficante não seria traficante.
Na sociedade igualitária, meu chapa, não há espaço para o crime de ladrões comuns. Nem -by the way- de colarinho branco.
DdAB

3 comentários:

Sibelle Diniz disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

cara,já não lembro mais que diabos era isto que excluí. (9/dez/2009)

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

E agora, quase seis anos depois, voltei a olhar estes dois "comentários" e fiquei a indagar-me como é que não lembro do que aconteceu. Digo melhor: não sei o que é aquele "comentário foi removido por um administrador do blog". Como assim? Algum outro administrador de meu blog? Forças Ocultas?
DdAB