26 dezembro, 2009

Drogas: adulto deve pensar para jovem não pensar

Querido Blog:
Começa o fim-de-ano, no sentido de que continua... Andei afastado, compareço agora, talvez amanhã e depois veremos... Eu queria deixar ainda esta mensagem de fim-de-ano sobre as drogas ilegais e a política que as cerca no mundo e no Brasil, em particular. Política imbecil, com alguns agentes públicos (governamentais e comunitários) de boa fé, outros simplesmente ladrões e terceiros investidos do mais repugnante moralismo que recende mesmo é a autoritarismo, fascismo, essas coisas que a gente costuma arrolar, a fim de ofender os oponentes no debate intelectual.

Temos visto opiniões sobre o problema das drogas ilegais, inclusive as pesadíssimas, como o crack, comungando de um ponto valorativo comum: tem que reprimir, tem que proibir, tem que baixar a repressão. A assunção de opiniões tão radicais não costuma levar a diagnósticos criativos. O julgamento de valor é evidente, muito da argumentação tem validade simétrica, sob o ponto de vista da montagem de políticas públicas (comunitárias e governamentais) que transfiram o foco do problema de segurança pública para saúde pública. Not to speak de alguma problematização do drama sob o ponto de vista da estrita aplicação da lei da oferta e procura.

O ganhador do Prêmio Nobel de economia de 1981 por aquela época constatou que a guerra da cocaína estava perdida pelo governo dos Estados Unidos. Quando eu vejo, in Brazil, o governo querer aulas para turmas de 40 alunos em container, por não terem pensado em produzir salas de aula, ou criminosos colocados em liberdade, por não terem pensado em produzir celas de cadeias, penso que a guerra das drogas (os governantes) também está perdida pela sociedade brasileira. Com juízes ganhando R$ 27.000 por mês, a guerra está mesmo perdida, pois as professorinhas vão ganhar, se tudo correr bem, R$ 1.500!

Como combater o consumo de drogas dentro de containers, com turmas de 40 alunos? Qualquer descuido da professorinha, se um dos viciados acender seu charuto (era charuto?, cachimbo?), os fumantes de segunda mão serão contados aos milhares, ou pelo menos à mancheia. Cheirou, viciou, pelo que dizem, mesmo se for fumante de segunda mão.

O maior antídoto ao consumo de drogas não é este troço do jornal Zero Herra de "nem pensar". O de que se precisa é precisamente de um antídoto que instile no jovem o desejo de cultivar sua liberdade. Quem se dedica aos estudos, quem pratica esporte não se vicia. Quem tem vida saudável cultiva a liberdade e não a escravidão. Quem estuda em containers é presa fácil dos fumos de inalação passiva, involuntária. Por oposição, é com treinamento que se pensa na liberdade como valor supremo de condução da vida em sociedade. Apenas a educação é que pode contribuir ao jovem interessar-se por descobrir seus objetivos na vida e ganhar o vigor para lutar por eles.

Este negócio de "educação para o trabalho" só pode ser resquício de algum pensamento moralista que acha que o "mercado de trabalho", a lei da oferta e procura por serviços do fator trabalho ainda tem alguma importância na ocupação da mão-de-obra. O homem cada vez trabalha menos e nunca produziu tanto. Com toda a explosão demográfica dos últimos 100 anos, a renda per cápita terráquea cresce monotonamente e seguirá crescendo ainda mais quando os engenheiros começarem a criar tecnologias menos detratoras do meio-ambiente. O que não haverá será empregos para papeleiros, estes rent-seekers apoiados por governantes debilizados mentalmente.

Os maximalistas do século XIX anteviam um mundo em que se trabalhará apenas dois anos em todo o ciclo de vida. Diferentemente do governo Fernando Henrique Cardoso, que expandiu o período de exposição da classe trabalhadora ao mercado de trabalho do limite dos 70 para os 75 anos de idade, a sociedade decente (conceito tomado de empréstimo à ILO) deve encurtar este período. Entrar, digamos, aos 35 e sair, imaginemos, aos 37. Até os 35, ficaríamos preparando-nos para desenvolver os desafiantes trabalhos de domar o meio-ambiente e não de domar carroças cheias de lixo. Dos 37 em diante, ficaríamos consumindo e produzindo obras de arte e obras esportivas. Ou seja, escrevendo e pintando, jogando tênis e aplicando karatês na coragem da inimiga. Se este é o longo prazo, precisamos descobrir qual o sendeiro do curto prazo que a ele conduz: as reformas democráticas que conduzem... (três pontinhos não é sinônimo de socialismo). Mas acho que ninguém -nenhum socialista utópico- odiaria a idéia de cursos de vida em que dedicaremos apenas duas décadas -para não seguir com os dois anos- à geléia geral do trabalho social.

Em outras palavras, diferentemente da Dra. Yeda Rorato Crusius e do Dr. Lula da Silva, devemos pensar em racionar empregos! Protelar a entrada no mercado de trabalho, criar incentivos para que o indivíduo saia mais cedo, criar mecanismos para a sistemática elevação da produtividade humana, muito investimento em educação (liberdade), saúde (longevidade) e transportes (viagens siderais, ou estou viajando?). O que esta carimbadíssima dupla deveria pensar é em ampliar o lazer e não o ócio. A mente desocupada é a oficina do diabo. Quem não faz lá seus origamis e não dá seus smashs nas bolinhas de tênis é 3,1416 vezes mais propenso a tornar-se fumante passivo de crack do que quem faz e que smashes.

Obviamente a legalização das drogas não deve ser vista como a autorização da promoção de vendas: café e crack são bens de demérito que devem receber regulamentação severa por parte da sociedade (governo e comunidade: não fumar no container, ou melhor, não ter containers e não fumar no elevador do condomínio). Num caso, o imposto indireto pode ajudar a refrear o consumo. No caso do crack, a questão é mais interessante: os malefícios sociais são tão escabrosos que a oferta deve ser controlada (claro que não por políticos ladrões, eita eufemismo): viciado deve ter acesso gratuito em salas de consumo. E receber treinamento do tipo que qualquer canil moderno dá a cachorrinhos e gatinhos: cada pedra sendo trocada por um banho e uma partida de tênis.

No caso do crack, preço alto não é política adequada. Neste caso, e no das drogas que ainda serão criadas nos próximos 50 anos (ceteris paribus, apenas mantendo constantes..., felizmente), o perigo está na prova, em ser usuário passivo, sei lá. O consumo deste tipo de droga atende majoritariamente a determinantes diversos dos tradicionais argumentos das funções de demanda. Esta é a questão central que desloca o tema da página policial de Zero Herra para seu "Caderno Vida". O problema econômico não é de racionamento por meio do mecanismo de preços, mas da concepção de uma estrutura de incentivos que afaste o virtual usuário, que não dê curiosidade a experimentar uma droga estilo no-return.

Ou pensamos em segurança pública ou em saúde pública. Não há meio termo para a concepção. Claro que haverá problemas policiais e sanitários a resolver na hora da implementação de políticas desenhadas por sanitaristas e economistas (emprego, emprego, para todos os economistas..., ok, ok, não é apenas para estes...). A atual política de caráter essencialmente repressivo é ou não é eficaz para reduzir a dependência. A legalização também. Ambas não podem estar certas. Os defensores lavram um bom tento ao sugerirem que a mãe que latou o filho, ou o filho que matou o pai teriam adotado outro curso de ação, caso a intermediação da interlocução entre o familiar são e o doente (viciado) não fosse feita por agentes do mundo do crime (traficantes e policiais), mas agentes de saúde (sobrando, neste ambiente, pouco espaço para o economista).

O economista deve apenas insistir no mantra:
.a. três horas de ginástica por dia, a fim de manter a coluna ereta
.b. três horas de aula por dia, a fim de aprender empreendedorismo, mantendo a mente quieta
.c. três horas de trabalho comunitário por dia, a fim de manter o coração tranquilo.

Pedi isto ao Papai Noel, mas ele disse que "felicidade é um brinquedo que não tem". Repliquei que ele falou isto, pois ainda não leu o manualzinho que escrevi sobre como calculá-la. Vejamos o que ele vai dizer em dezembro/2010. Felizes últimos dias de 2009 para as renas, as burras, as lulas...
DdAB
Twitter: ontem, na viagem Três Passos-Porto Alegre, fizemos um lunch em um posto de gasolina etc., em que gastamos R$ 19,00 em comida e bebida e outros R$ 36, comprando CDs e DVDs piratas. Um deles veio gravado precisamente na mesma marca de CD que adquiri -em completa legalidade- no futurista município de Rio Branco, no Uruguay, ingressando-os no Brasil com absoluta isenção de impostos. Será que o dono do posto errou, será que eu errei, será que o governo molusco é que andou pisando na bola? Não há dúvida: todo político é protecionista, ou seja, ladrão.

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