12 dezembro, 2009

Adesão: apoiar e aderir

Querido Blog:
Já faz algum tempo (milhares de anos) que entendi que minha linha visual é um tanto arredia a certas inovações. Na moda, no desenho industrial e em diversas outras manifestações visuais da criatividade humana. Por isto, a figura acima tocou-me, quando eu procurava simplesmente "aderir" no Google Images. Eu queria o jogo da diferença entre "apoiar" e "aderir".

Sobre ele, deu-se uma vez uma coincidência muito interessante, podendo lá eu ser acusado, se o fosse, de plágio por cá ele. Lá era Oxford, o veículo era o Boletim da Oxford University Brazilian Society, em que escrevi um artigo saudando o início do Governo Collor. Cá era um artigo do senador Saturnino Brito (ou outro, don't remember). Ambos falamos em "apoiar não significa aderir", o.s.l.t.. Fiquei impressionado com "o nível mental que ambos estávamos usando".

A partir da greve das professorinhas do Rio Grande do Sul, fiquei pensando um pouco nestas coisas: claro que apoio a causa das garotas, não a das megeras, claro que acho que há problemas na educação infantil, claro que acho que os governos local, estadual (só fechando...) e federal (só ingressando na Organização dos Povos Unidos) são incompetentes e incapazes, além de dotados de enorme gula por dinheiro, id est, cobiça, outro pecado capital.

Em que coisa mais pensei? Talvez a Profa. Rejane de Tal nunca tenha ouvido falar em "mercado de trabalho", não sei, não garanto, apenas intuo pela sua incapacidade de articular pensamentos sérios sobre o ensino infantil. Se pensarmos em sua reação ao Natal, em seu incitamento à greve, mandando as criancinhas para um limbo escolar, só podemos entender que ela, Rejane , é um tanto desalmada, irresponsável. E, não entendendo do funcionamento do mercado de trabalho, ela encaminha seus representados, os professores da rede estadual pública, para o limbo profissional.

Mercado de trabalho, no mundo, é algo em extinção, é algo datado para morrer, é algo que não vai durar os 990 anos que nos faltam para chegar ao quarto minlênio da era cristã. O grande substituto do mercado de trabalo é a renda básica universal, que dará rendimentos mínimos a todos. E, claro, o valor da produção seguirá sendo gerado por trabalhadores, só que com uma produtividade de fazer inveja aos mais arrojados macacos ficcionistas. Hoje mesmo, a produtividade de um trabalhador brasileiro, para não falar do americano, já dá inveja aos europeus do ano 10^3 d. C.. Não vai ter emprego para todos, não na produção de bens e serviços, do jeito que a pensamos hoje. Mas haverá mais bens e serviços à disposição da comunidade, haverá possibilidades de crescimento ilimitado, pois não há limite discernível para, por exemplo, transportes (viagens espaciais) e saúde (prolongamento da idade).

Penso em Stephen Marglin e seu famoso artigo em que diz que o parcelamento de tarefas foi criado para impedir que o trabalhador controlasse todo o processo e, como tal, despachasse o residual claimant para onde este merece: o bolsão da renda básica universal. Ou não era bem isto, mas era parecido... Liminarmente, agora, ao escrever isto, penso que se trata de explicação funcional, talvez inadequada para o fenômeno de que estamos falando: a produtividade do trabalho humano, o mercado de trabalho e a greve.

Depois da liminar, há algo mais a pensar: a substituição do trabalhador por máquinas, a maior tendência do capitalismo e maior causa de seu sucesso. Ninguém gosta de trabalhar sendo obrigado a fazê-lo, ou seja, todo mundo gosta de transformar a natureza enquanto atividade de "lazer" e não de "trabalho", ainda que escrever poemas ou esculpir em pedra sabão possam ser chamados, dependendo da ocasião, de uma coisa ou outra.

Pois na sociedade do futuro, as máquinas farão quase tudo e controlarão quase tudo. Haverá trabalhadores, mas seus tempos e movimentos serão constantemente monitorados por máquinas, fotografias, sons, imagens, cheiros, o que seja. Também há e haverá, talvez, gravações ilegais. A questão é precisamente o que tornar ilegal e manter legal. O que interfere com a liberdade do indivíduo e o que mexe com a do cidadão.

Parece que, depois da renda básica universal, a distinção entre indivíduo e cidadão tornar-se-á mais acre. Quero dizer: o mercado de trabalho, para atrair indivíduos caracterizados por elevadíssimo custo de oportunidade mensurado em termos de lazer (dado que sua renda lhe garantirá um nível de consumo invejável pelos mais ricos nababos, isto é, os políticos brasileiros, contemporâneos), deverá receber recompensas (incentivos) igualmente cinematográficos.

E que podemos dizer da Profa. Rejane de Oliveira, de sua posição sobre estas questões? Apenas, creio, o mesmo que diríamos para a Profa. Yeda Crusius: despreparada.
DdAB

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