19 janeiro, 2020

O Primeiro Teorema da Idade (versão científica)

O Primeiro Teorema da Idade (versão científica) é mais velho que o próprio Teorema de Pitágoras, é mais velho que o próprio Pitágoras. É mais velho que eu, que meus leitores, minhas leitoras. Seu enunciado mundano diz simplesmente

Nunca fui tão velho quanto hoje!

Seu caráter científico, uma incógnita científica, reside também no fato de que até hoje ninguém conseguiu calcular o fatorial de "hoje". Um louco furioso do Hospital São Pedro (não confundir com o St. Peter's College) disse que calculou as setecentas bilhões de casas deste fatorial e ainda hoje vai divulgar uns 10 ou 20 bilhões.

Aceitando estes pródromos, passo ao passo substantivo. Por falar em St. Peter's College, todos sabemos que estou referindo o college que me acolheu para o doutorado com a orientação do late mr. Andrew J. Glyn. E que, anos depois de titulado, dei-me conta de que meu diploma de Doctor of Philosophy não era do mesmo naipe de meu nível de conhecimentos de filosofia, ou vice-versa. Esta constatação levou-me a começar e prosseguir lendo livros de introdução à filosofia. Já li uma pilha respeitável, tanto é que instalou-se em minha mente uma bruta duma neurose que não posso ver um livro com um desses títulos ou algo parecido que já vou metendo a mão na carteira e o comprando.

Assim foi que fiz com

MARCONDES, Danilo (1997, 2007) Iniciação à história da filosofia; dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar.

E não é que não é que não apenas encontrei lá um enunciado antigo da versão científica do Primeiro Teorema da Idade? Naturalmente a conceituação de científico que uso não é científica, em geral, mas apenas para mim e um velho texto (não lembro qual, embora lembre as circunstâncias e um dia falarei delas) que afirma que a letra redonda torna tudo mais sério, mais... científico.

Na página 188, o autor está falando em David Hume:

[...] Não há como nos representarmos o pensamento puro, independente de qualquer conteúdo. Para Hume, jamais posso apreender a mim mesmo sem algum tipo de percepção [...]. O 'eu' (self), portanto, nada mais é do que um feixe de percepções que temos em um determinado momento e que varia na medida em que essas percepções variam. Não somos agora o mesmo que fomos algum tempo atrás, nem o mesmo que seremos dentro em pouco, pois a cada momento novas percepções são acrescentadas ao feixe, e outras empalidecem ou desaparecem. [...] (Ênfase adicionada)

Definindo "o mesmo que fomos algum tempo atrás" como St-1 (ou seja, nosso ser no tempo t-1), St (nosso tempo agora) e St+1 (nosso ser agora no tempo t+1, maior que t-1), somos forçados a concluir que

St-1 < St < St+1,

ou, se quisermos deixar mais claro que "nunca fui tão velho quanto hoje", diremos que

St+1 > St > St-1. (cqd)

DdAB

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