30 abril, 2019

Ulysses: fotografando um bem de Giffen

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Tenho uma coleção de traduções do livro "Ulysses", que leva a assinatura de James Joyce e publicado no dia do aniversário do autor, ou seja, 2.2.22, ou melhor, dois de fevereiro de 1922. Leio-o por pirraça, pois leio e mais leio e mais leio e nada entendo. Lembra-me aquela piada de, parece, de Woody Allen, ao dar o relato do resultado de um curso de leitura dinâmica em que o objeto do estudo era "Guerra e Paz": no caso, tinha a ver com dezenas de irlandeses.

Quando leio os comentadores, cada vez menos entendo, cada vez menos me entendo e cada vez mais me acho estranho por prolongar essa aventura que está muito, muito longe de terminar. É que cada vez aparecem mais comentadores e minha desiderata já tem uma centena de livros e artigos sobre o tema.

Por uma questão de razões estranhas, decidi ler a tradução da editora Relógio D'Água, de Portugal, isto que a primeira que li foi a de Bernardina da Silveira Pinheiro, brasileira. Por quê estranha? Simplesmente é que a leio apenas nas salas de espera daqueles locais em que ainda dão boa acolhida a seres humanos, como consultórios médicos, filas de acesso às repartições públicas e, em breve, na espera de comida nos restaurantes mais procuradinhos.

Então: na página 159 da versão de:

JOYCE, James (2014) Ulisses. Lisboa: Relógio D'Água. Tradução de Jorge Vaz de Carvalho.

podemos ler, sem disfarces:

   Bom Deus, o vestido dessa pobre criança está em farrapos. Parece subnutrida também. Batatas com margarina, margarina com batatas. É depois que se ressentem. Prova dos nove. Mina-lhes a constituição.

O romance foi publicado em 1922, retratando o dia 16 de junho de 1904, uma quinta-feira. 1904 ou 1922, vemos o bem de Giffen ali retratado precisamente com a dupla batata-manteira. Sabemos que aquela turma da pobreza irlandesa era tão pobre que precisava basear sua alimentação na batata. Quando tinha alguma melhoria na renda, abandonava a batata e passava a comer pão. Mas quando o preço da batata subia, a negadinha que já era pobre torna-se paupérrima e aquele pãozinho do dia do aniversário de algum membro da família, ao invés do pão, vinham mais batatas.

O único elemento consolador dessa tragédia lá daqueles tempos é que, hoje, a renda per capita da Irlanda é de US$ 53,570, ao passo que a do Reino Unido é de US$ 40,600, tudo corrigidinho pela paridade do poder de compra. Ao mesmo tempo, o que vemos é Joyce fazendo uma apologia da sociedade igualitária: desigualdade gera pouca renda para os pobres, pouca disponibilidade de ingerir uma dieta saudável e, assim, trabalhadores fracotes, como é o caso dos brasileiros contemporâneos. Tudo cheio de batata frita e pouco hamburguer.

DdAB
P.S. Decidi copiar aqui o verbete da Wikipedia. No tradicional plano (q, p), isto é, a quantidade desejada no eixo horizontal e o preço correspondente no eixo vertical, vemos uma curva de demanda (procura) positivamente inclinada, ou seja, quanto maior o preço, maior será a quantidade consumida de... batatas. O interessante do verbete da Wikipedia é que ele fala exatamente o que Alfred Marshall pensava do caso: quanto maior a renda, menor seu consumo. A outra peculiaridade é que não é nada peculiar ao bem de Giffen, pois todos os bens e serviços, quando o preço sobe, mostram uma queda na quantidade de consumo planejada. É, parece, da natureza humana. É, parece, pelo menos, das economias monetárias.

Bem de Giffen

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Em economia, um bem de Giffen é um bem inferior, ao qual grande parte da renda é destinada, e para o qual uma redução do preço faz diminuir a sua quantidade demandada. Este comportamento é diferente dos da maioria dos produtos, que são mais consumidos (ou comprados) à medida que seu preço cai. Em termos microeconômicos, sua curva de demanda é crescente e, por isso, sua elasticidade-preço da demanda é positiva. Outra repercussão microeconômica é que seu efeito rendaé maior que o efeito substituição.
As provas da existência de Bens de Giffen são debatidas. Um exemplo de uma situação em que pode ter existido um Bem de Giffen foi o pão na Irlanda do século XIX.[carece de fontes] Uma elevação moderada dos preços de pão levou a um maior consumo de pão, principalmente em famílias pobres, pois não havia outro bem barato e acessível capaz de substituir o pão na dieta das pessoas. Desta forma, maiores gastos no consumo de pão levaram a uma redução do consumo de outros produtos alimentícios, o que obrigou os mais pobres a consumir mais pão para sobreviver.

Descoberta[editar | editar código-fonte]

Essa classe de bens recebe esse nome em homenagem a Sir Robert Giffen, que foi citado no século XIX por Alfred Marshall como o criador da ideia.
Giffen imaginou uma família muito pobre, em que a sua renda seria de 100 unidades monetárias, sendo suficiente apenas para consumir arroz durante o mês. Havendo uma queda no preço da polenta, por exemplo, faria com que esta família não consumisse mais arroz, pois eles já estavam saturados deste produto e dariam preferência ao outro produto. Sendo assim, a variação da demanda é diretamente proporcional à variação do preço, e não inversamente, como no caso dos bens comuns.
abcz
P.S. Deixo um lembrete para ler atentamente o texto que nos encima, pois parece que falei em substituir o de maior preço relativo pelo de menor. Ou vice-versa, eis a questão.

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