Acabo de rever o filme "Charade", em itálico. Charada, em português. E acabo de ouvir falar em sugestões sobre a reforma da previdência para evitar a substituição do trabalho humano pelo de robôs na economia monetária em que vivemos. Decidi ligar pontos desses dois bordados (hehehe) e colocar aqui o resultado de algumas reflexões. Dou por pacífico que todos sabemos o que é um robô, que obedece integralmente aquela definição que Umberto Eco (Somewhere) deu para máquina: um macaco da natureza, que lhe imita a função, mas não retém a forma.
E que é uma charada? Tem várias interpretações, inclusive o problema da tradução. Vejamos:
dicio.com.br:
Substantivo feminino: enigma que consiste em compor uma palavra em tantas sílabas ou partes quantas possam ter uma significação determinada, dando-se a cada uma dessas partes a definição em termos mais ou menos vagos, e acrescentando uma alusão à significação da palavra inteira.[Figurado] Conversa ou discurso ininteligível.Matar uma charada, adivinhar a palavra sobre a qual ela é feita.
Wikipedia:
A charade is an informal composition wherein a word is broken into its component syllables and presented as a series of punning clues to the identity of each part and the whole. From the poor acting usually involved in its dramatic form charades, it has also come to mean any farce or poorly-executed deception.
Wikidictionary:
From French charade, charrade (“prattle, idle conversation; a kind of riddle”), probably from Occitan charrada (“conversation; chatter”), from charrar (“to chat; to chatter”) + -ada. As a round of the game, originally a clipping of acting charade but now usually understood and formed as a back-formation from charades.
E aquele filetezinho d'água que já referimos ao vê-lo desviado, ele é eterno? Eterno, eterno mesmo, nem os prótons... Mas fico mais preocupado com o perigo de seca e ociosidade do moinho do que a decadência do universo. Só que a turma bolou a solução: transformar aquela fonte de energia dependente daquele curso d'água em uma fonte mais confiável. Digamos que inventaram a máquina a vapor, que recebe a energia da queima de um pedaço de madeira (ou hulha), ou o que seja, e o transforma na mesmíssima energia mecânica.
E será que houve "queima" de milhares de empregos, quando a máquina mais moderna substitui a mais antiga? Parece óbvio que houve. E isto foi bom? E, em tendo sido bom, cui bono? (quem se beneficiou?). E aí as opiniões se dividem. Tem gente até que considera ser melhor que a tecnologia do moinho d'água devia ter sido mantida, proibidas as máquinas a vapor e aquelas a explosão e as elétricas, para preservar os empregos. Eu, olimpicamente, acho que quanto mais trabalho vivo der lugar para o trabalho morto, melhor para a humanidade. Sideralmente, considero que o problema, o verdadeiro problema, do capitalismo é a eficiência distributiva, ou seja, a definição contemporânea daqueles que se beneficiam.
A social-democracia tem dado respostas interessantes ao problema distributivo, desde a cobrança de impostos maiores sobre bens de demérito, à criação do seguro desemprego e, mais recentemente, o pagamento da renda básica (incondicional) universal. Mas seria adequado que se cobrasse um imposto sobre cada robô incorporado à fábrica e que substitui um trabalhador? Se a encrenca apenas imita a função e não a forma da natureza, é difícil sabermos o que é um robô. Em minha definição, o primeiro deles foi um simples e genial termostato. E o programa que faz análise de crédito? E aquele outro que faz cirurgias, com cada vez menor controle do cirurgião formado pela faculdade de medicina?
E a dupla Acemoglu e Robinson e seu livro sobre as comunalidades entre as nações incapazes de acompanhar o progresso técnico das demais?
ACEMOGLU, Daron e ROBINSON, James (2012) Por que as nações fracassam; as origens do poder, da prosperidade e da riqueza. Rio de Janeiro: Elsevier Campus.
Como sabemos, esses dois professores falam das instituições inclusivas e das extrativistas e da presença de inovação na economia nacional. Claro que o Brasil é lotado por instituições extrativistas, que comportam um ideário anti-igualitarista e de baixa adesão aos padrões de honestidade e alta impunidade. País que não tem educação (e, antes dela, precisaria ter esgotos...) jamais poderá criticar as instituições existentes e, menos ainda, criar novas, mais afeitas ao progresso e à democracia. Sem estudo não há inovação. E sem inovação não existe progresso perene. O Brasil é uma prova de até onde a sociedade desigual pode levar: 30 ou 40 anos de crescimento rastejante.
E Charade? Tem uma cena num metrô parisiense, parece-me que numa estação da linha Porte de Clignancourt. O que me chamou a atenção é que, naquele filme rodado, talvez, em 1962, havia uma boa meia-dúzia de funcionários na estação subterrânea, entre vendedores dos bilhetes, um ou outro guarda de plataforma, e por aí vai. E que, na última vez que vi Paris (isto também é título de filme velho), havia apenas máquinas, gente que era bom, apenas os pagantes/passageiros. Pensei: assim não vai dar. Não haverá demanda efetiva: para quem vender os bens produzidos? Parece que eles seguem inventando compradores. Mas, sabedores que o emprego é a expressão máxima da sociedade igualitária, que podemos esperar?
DdAB
P.S. A propósito, Acemoglu e Robinson sugerem que o crescimento da China é limitado, por se tratar de uma sociedade constituída por um expressivo número de instituições extrativistas, como -digo lá eu agora- é o caso do Partido Comunista itself e das guanxi (aqui).
3 comentários:
Prezado, gostaria de lhe compartilhar issa crítica do livro Por que as nações fracassam https://moangu.blogspot.com/2018/03/171-why-professors-fail.html (em espanhol). Tem versão em inglês https://en-moangu.blogspot.com/2017/12/5-why-professors-fail.html mas infelizmente ainda não em português): Atte.
Caro: talvez não leias esta resposta. Vai-se mais de um ano. Mas agora mesmo vou olhar o blog. Abraços
P.S. Caro: fui ao blog em espanhol e minha entrada foi barrada. Mas não desisti e estou lendo in English.
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