25 abril, 2019

"Amanhã Começo a Fumar"

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No outro dia, falei de umas leituras recentes, o livro de obras em co-autoria de Jorge Luis Borges. E citei uma passagem exaltando o princípio máximo da divisão e especialização do trabalho. No caso, achei exagerado ver o juiz, digo, ministro, Moro fazendo inquérito policial, fazendo inquérito judiciário, fazendo julgamentos, encaminhando negociações junto a instâncias superiores à sua, e tudo o mais. Ao passar pelo texto que citei, não me contive e associei aquelas chuveiradas que os bombeiros podem dar em quem se arvora à posição de combater o fogo.

Em compensação, não foi leitura de páscoa, mas uma leitura que fiz há uns bons 35 anos. Li o livro "Morangos Mofados", de autoria de Caio Fernando Abreu. Pouco lembro, mas não me foge da memória um dos contos em que -eita memória...- parece que um soldadinho, depois de algumas refregas com o mundo civil, aquele em que vivemos, termina sua última reflexão, que também é o fim do conto: "Amanhã começo a fumar".

À época não havia nada que me exigisse maiores esforços do que tentar deixar de fumar. Tentei diversas vezes, sempre rindo da tirada de Mark Twain ("parar de fumar é fácil, eu mesmo já o fiz dezenas de vezes"), pois era-me efetivamente fácil. E voltar também era fácil, até, penso hoje, mais fácil. Então achei interessantíssimo o -digamos- soldadinho estar planejando ingressar naquele mundo de praticantes daquilo que meu ex-chefe sr. Dorvalino Panassolo considerara "um vício maldito", ele que -se bem entendo- também afanosamente tentava deixar o cigarro.

Pois um número expressivo de pessoas já marcou data para deixar de fumar e eu nunca ouvira nem lera alguém planejando começar a fumar. Mas, pensando melhor, parece que, digamos, um rapaz brasileiro contemporâneo que levou um balaço no pulmão e que fez tratamento hospitalar, ao ter alta, na véspera da alta hospitalar, começa a dizer "amanhã começo a fumar".

DdAB

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