Querido diário:
Em torno das 11h00 da manhã de hoje, Jorge Maia Ussan apresentou lá no Facebook a seguinte citação em seu mural:
"Porque essa falsa separação entre o mercado e o Estado precisa ser dissolvida. Não haveria mercados se não houvesse Estados. Não haveria capitalismo se não houvesse Estado. Não haveria Apple, nem Google, se não houvesse Estado. E, de forma similar, não haveria Estado se não houvesse empresários privados, não haveria Estado se não houvesse empresas privadas. Precisamos dissolver esta falsa divisão."
Yanis Varoufakis. Via Tarson Núñez
Yanis Varoufakis. Via Tarson Núñez
Li alguns comentários interessantes e decidi entrar na conversa. Lá publiquei o que agora reproduzo com modificações menores.
Yanis Varoufakis é um de meus amados pensadores contemporâneos. Conheci-o na condição de co-autor de um livro introdutório à teoria dos jogos. E tenho lido mais dele e sobre ele desde sua unção ao ministério das finanças. Parece-me óbvio que ele "não se demitiu", num sentido de que cansou do trabalho, mas que entendeu a derrota e certamente iria ser demitido por imposição dos negociadores da dívida grega.
Agora, por outro lado, parece-me que a citação está incompleta, pois -aprendi com Samuel Bowles, se é que não nasci sabendo como todos os envolvidos nesta postagem- que existe um tripé (e não uma dupla) como principais elementos de agregação das preferências sociais: mercado-estado-comunidade. E que nenhum deles poderia expandir-se na ausência dos demais. Para quem não está familiarizado com o tema, lembro que partidos políticos são mistos de estado-comunidade e que sindicatos são apenas comunidade. E que mercados são passíveis de falhas na produção de bens públicos que, se a provisão não fosse assumida pela comunidade ou pelo estado, a vida civilizada como a conhecemos (fartura aqui e fome acolá) não seria possível.
O que agora vou falar (e já falei antes) não lembro de ter lido em outro lugar (talvez esteja errado, sei lá, é antropologia econômica, tema de que fujo aceleradamente). Imagino que a ordem de aparecimento destas instâncias de agregação de preferência sejam: primeiro, a comunidade (da horda à cidade), mercado (a troca direta e o dinheiro) e apenas então o estado (a polícia, o banco central). Naturalmente antes do estado havia simplesmente "administração pública".
E costumo dizer (antigamente não entendia nem pensava nisto) especialmente para aqueles que ainda desejam o socialismo hoje (e não reformas democráticas que conduzam a ele, amanhã) que não podemos pensar em instaurar um sistema econômico de cima para baixo, como seria o caso de exigirmos que o povo falasse esperanto. Um sistema econômico, a exemplo de uma língua, é um construto social. A língua pode surgir em semanas, mas o sistema econômico leva séculos para desenvolver-se amplamente.
Por outro lado, para abarcar o que vemos no Brasil e, principalmente, nos países capitalistas avançados não é bem capitalismo mas uma outra formação econômico-social que uniu de forma ainda mais íntima o trio mercado-estado-comunidade. E aquele capitalismo pré-dominância-financeira costumo dizer que acabou há mais de 15 dias.
A imagem lá de cima achei-a ao buscar no Google Images a expressão mercado-estado-comunidade. Fiquei extasiado e vou olhar tudo com mais atenção. Talvez faça um remendo no texto. Um conserto que vou fazendo desde já é que, em minha visão, as "organizações" econômicas são três: produtores, fatores e instituições. Logo elas não estão "dentro" do mercado. E desde nosso cursinho de introdução à economia, as instâncias que absorvem a produção contam-se em três: famílias (consumidores), governo (consumidor), empresas exportadoras e importadoras e empresas domésticas (investidoras). Daí é que Keynes e sua turma inventaram que Y = C + G + (X-M) + I, ou seja, o valor adicionado, quando mensurado pela ótica da despesa é dado pela soma do consumo das famílias mais o consumo do governo, mais o saldo verificado no balanço das transações correntes mais o investimento.
A imagem veio daqui. Achei-a tão interessante que decidi olhar o blog assim que terminei a postagem. Voltei agora para cá e remeto também para a primeira que está aqui.
P.S. gente: esta postagem está de azar, aqui no blog e também esteve lá no Facebook, até que a deletei e enviei para cá. Para dar uma ideia da ordem dos erros, falei em X - M como importação e importação, quando -obviamente- X é exportação e M, sim, é importação. Além disso, falei que X-M é o saldo do balanço de pagamentos, quando bem sabemos tratar-se do saldo do balanço das transações correntes (desde que X e M sejam importações de bens e serviços-exceto-os-prestados-pelos-fatores-de-produção).
P.S.S. no segunda postagem a que referi anteriormente, baixa-se o sarrafo na minha idolatrada tríade mercado-estado-comunidade, usando, ao que parece, o conhecimento desenvolvido por Immanuel Walernstein. Não o li o suficiente para saber de que e onde se fala.
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