19 agosto, 2017

Eleições: top-down e bottom-up


Querido diário:

Como sabemos, a verticalidade mundial pode ser compreendida ou de-baixo-para-cima ou de-cima-para-baixo. O rapaz, com seu top-down, fez o elefante montar seu bottom-up, algo assim.

De-baixo-para-cima: estamos falando do bottom-up, que consiste em considerar que a falsa consciência dos indivíduos impede-os de reagir às forças centrípetas da desigualdade. E como é que impede cada um de nós, cada unzinho? A falsa consciência leva-nos a assumir posições que, caso pudéssemos usufruir das vantagens residentes em posições alternativas, não mais escolheríamos retornar à situação original. E se todos agíssemos "como um único homem"? Teríamos o mundo regido pela igualdade.

De-cima-para-baixo: agora falamos do top-down, quando a elite que, por motivos atribuíveis a seu egoísmo, concentra todo poder e riqueza em suas mãos e força-nos a votar nos candidatos que ela deseja, candidatos que vão defendê-la, defender sua ideologia, defender suas conquistas, defender seus privilégios.

As variáveis macroeconômicas, bem sabemos, surgem pela ação bottom-up, mas depois de constituídas operam top-down, acachapando o indivíduo. Já na busca de significado da vida é o contrário, conforme Nagel, nas páginas 102-103:

É claro que a sua [do leitor] existência tem importância para outras pessoas - seus pais e outros que se interessam por você-, mas, no todo, nem a vida delas tem sentido, de modo que, em última análise, não faz diferença que se importem com você. Você se importa com elas e elas se importam com você, e isso talvez dê à sua vida um sentimento de importância, mas o que estão fazendo é apenas lamber-se uns aos outros, por assim dizer. Toda pessoa, dado que existe, tem necessidades e interesses que tornam certas coisas e pessoas da sua vida importantes para ela. Mas o todo não importa.

O caso das eleições é claramente bottom-up: um votinho aqui, outro ali, um terceiro acolá, dão a vitória a certos candidatos. No caso, mais que nunca, afirma-se o postulado de Valadares (perde eleição quem não acumula votos). Isto é, uma eleição valoriza (ou desvaloriza, sei lá) a abordagem bottom-up. Em outras palavras, nossos programas de esquerda sistematicamente perdem eleições, chegando no caso das prefeituras ao vexame de 2017, por falta de votos. Se não inventarmos um feitiço top-down que não seja apenas esbravejar o imperialismo, o capitalismo, os bancos, nunca alcançaremos o sucesso bottom-up, o da vitória nas urnas.

DdAB

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