05 setembro, 2015

Desigualdade e Pobreza


Querido diário:

Parece que não és bem diário, pois faz alguns dias que me ausento de tua excelsa presença. Em compensação, na página 3 do Jornal Regional que leio nesta cidade excelsa de Três Passos, leio ou li no dia 4/set/2015, ou seja, esta semana, este ano, edição 1333, há uma coluna simpática de um simpático economista, o sr. Fernando Bitencourt Zuchetto, em que vemos:

Desigualdade - Martin Ravallion, economista do Banco Mundial, realizou uma pesquisa a respeito do impacto da desigualdade e da pobreza sobre o crescimento econômico de 90 países em desenvolvimento. Os resultados indicaram que, por um lado, a desigualdade de renda não possui um impacto considerável sobre o crescimento, mas que a pobreza afeta significativamente a possibilidade de um país se desenvolver. Considere duas nações com mesmo nível de renda per capita, aquela que possuir maior nível de pobreza crescerá menos, segundo as predições do modelo econômico utilizado.

Lembrei-me do que me disse einmal o prof. Gustavo Franco: "Nunca me canso de aprender". Mas reluto em absorver o que contradiz minhas expectativas empíricas sobre meus próprios modelos teóricos. Em outras palavras, penso que a simples pobreza é apenas uma variável de confundimento para os dados da desigualdade. As evidência são tão avassaladoras naqueles estudos a que me referi no outro dia que penso que o prof. Ravaillon terá cometido algum erro, ou foi o economista local, que deixou-se enganar pelas circunstâncias. Ou talvez, como indicou-me a hipótese a Wikipedia (aqui), pode ser que o estudo seja apenas muito velho, lançando novo opróbio sobre a validade dos estudos empíricos para assentar este tipo de regularidade.

De outra parte, façamos um contra-factual. Se é verdade que a desigualdade é desprezível, então a pobreza sendo eliminada, não haveria nenhum efeito sobre o crescimento, o qual seria explicado pela renda per capita exclusivamente. Seria a tese da convergência absoluta absolutamente. O fato é que, quanto maior a desigualdade, mais severa é a pobreza. E ficamos novamente sem saber se a encrenca mesmo reside na desigualdade. A evidência positiva está em Wilkinson e Winslet.

Para minha visão, aprendida com Andrew Glyn, o igualitarismo é o canal, pois é a melhor organização disponível para viabilizar oportunidades para a população desvalida. E mesmo para a classe média: a função social de um magote de oito meninos de rua é dar emprego de oito hora por mês ou por semana para um dentista, um assistente social, um psicólogo, um personal tênis trainer, e por aí vai.

DdAB
Nota: a postagem está aqui. Winslet, como lá observamos, dá lugar a Kate Pickett, que deve ser a mãe ou tia do Piketty, não é mesmo? Sem falar nesta dupla:
EASTERLY, William Easterly (2007) Inequality does cause underdevelopment: insights from a new instrument. (2007) Journal of Development Economics. V. 84 p.755-776.
Imagem: esta bicicleta (daqui) é até melhor que aquela famosa do Pelé que serviu de propaganda para a Shell do Brasil.

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