11 setembro, 2014

Marina e as Estratégias da Esquerda


Querido diário:

Tenho visto alguns fragmentos da propaganda eleitoral, o que me provoca enorme sofrimento por pensar em quão longe estamos de um patamar da decência na política. Digo "decência" em vários sentidos: desde a estrutura partidária às regras do voto obrigatório e proporcional. Um descalabro. Cada candidato, milhares de candidatos disputando as mesmas vagas, um despautério, um manicômio.

E Marina? Teve a sorte de estar presente e o azar de ver a tragédia da morte de Eduardo Campos. Ela recolhe descontentamentos que transcendem aqueles famosos 5% tradicionalmente atribuídos aos partidos radicais, como o PSol e a vereadora. Heloísa Helena, ex-senadora e ex-candidata a presidente da república. Agora a candidata do PSol é a filha do governador gaúcho Tarso Genro. Marina recolhe votos que não podem ser classificados como originários da direita. Quem a acusa de direitista é gente que deseja, com a campanha eleitoral, destruir o adversário, ao invés de tratar de compor algum arranjo com ele.

O confronto direto Marina-Dilma no atual momento não é inevitável, nem mesmo necessário. O verdadeiro adversário, além dos ridículos candidatos nanicos, como Luciana Genro, do PSol, é o senador Aécio Neves, que - além da reputação ~ilibada - tem uma retórica destrutiva. Os organizadores da campanha de Dilma ainda não se capacitaram a ver que, mesmo no confronto direto, podem começar a articular uma campanha mais propositiva e menos acusatória. Esses senhores temem o confronto ainda mais direto no caso da chamada a um segundo turno eleitoral.

Neste caso, o confronto direto também não deveria ferir princípios éticos elevados e de respeito humano imbatível. Mesmo porque o mais bisonho dos estrategistas deve ter presente que a possibilidade de eleição de Marina é concreta. Isto significará que Maria precisará de uma base parlamentar, de sorte a implementar - se eleita - um programa de esquerda. Os estrategistas pró-Dilma que recomendam o afastamento radical de Marina não deveriam desestabilizar, ex ante, o governo de Marina. Mesmo porque, se Dilma vencer as eleições, não seria o caso de contar com o poder aglutinador de Marina para tentar romper o angu político brasileiro contemporâneo?

E que me levou a mudar meu voto anunciado de Dilma para Marina? O desejo de associar-me às massas insatisfeitas com os recortes conservadores dos governos FHC, Lula e Dilma (por exemplo, acabaram mais uma vez com a caderneta de poupança, com a aposentadoria aos 70 anos, com verdadeiros acenos de correção dos escandalosos desequilíbrios políticos e econômicos do Brasil, essas coisas contrárias aos interesses da classe trabalhadora).

Além do mais, já deixei muito claro acreditar que, uma vez encastelada no poder, Marina dará vida a sua Rede Sustentabilidade, com perspectiva de fazer dela um verdadeiro partido político que, aliado ao PSB, possa ter base parlamentar adequada para fazer as grandes reformas cuja ausência sufoca o Brasil. E espero que o PT adira em massa ou não seja oposição de direita, destrutiva.

DdAB
A imagem veio daqui. Obtive-a ao pedir ao Google Images a palavra "tertius", pensando em não deixar Aécio Neves excessivamente fora da postagem e de minhas preocupações. Veio este senhor apontando para o terceiro fibular do animal participante. Por coincidência é a pata da esquerda traseira que aparenta irregularidade.
P.S. agora, esta de "adira" é mesmo para provar insofismavelmente que todo político é ladrão...

Nenhum comentário: