Querido diário:
Ok, ok, na verdade parece que a verdade é que pode ser verdade que o feudalismo nunca tenha sumido do Brasil. Não apenas defende esta tese um famoso livro de Nelson Werneck Sodré, mas sobretudo os frequentes 'fragas' que o ministério do trabalho dá em fazendas de políticos brasileiros e outros despudorados da iniciativa privada no campo: trabalho escravo.
Mas agora a coisa é diferente: "A president[a] Dilma sancionou a Medida Provisória 615, que, entre outras [providências], assegura aos taxistas passar suas permissões aos familiares." [p.34 de Zero Hora de hoje]. Diz a presidenta, nada falando sobre feudalismo, corporações de ofício, aquelas coisas lá dos antanhos da civilização europeia: "Significa que, quando o taxista falecer, os herdeiros podem sucedê-lo na utilização do táxi, garantindo a manutenção da renda para sua família (...) Não é uma transferência de concessão, é um direito de sucessão." Antes de pensar em mim e em meus descendentes, como referirei em seguida, pensei nos pobres dos taxistas que devem trabalhar até morrer, sem direito a aposentadoria. Em compensação, quando 'falecem', eles deixam um patrimônio de valor variável (dependendo do preço da concessão no mercado negro) a seus pimpolhos. E se o pimpolho for menor de idade? A notícia não chega a tanto detalhe. Quer saber mais? Veja a medida provisória 651.
Da parte do Planeta 23, parece que a resposta é óbvia, na linha daquele "ou todos nos locupletamos ou restaure-se a moralidade": quero que meu título de PhD seja também cedido a meus descendentes (e, por que não?, ascendentes e amigos diletos e, por que não?, mesmo amigos não diletos) hereditariamente, ad eternum.
DdAB
A inacreditável imagem é daqui, e que também estava na página citada em meu jornal.
P.S.: Por coincidência, vejo a cara de pau dos emuladores desta lei 615 associada a outra notável coincidência que vivi ontem juntamente a um taxista. Disse-me ele que um colega seu foi submetido a uma tentativa assaltado por dois meninos portando uma arma de brinquedo com o formato muito assemelhado a uma arma verdadeira. Mas não tão assemelhado que deixasse de despertar o 'flagra'. O taxista recusou-se a ser assaltado, desarmou-os e fez-lhes uma preleção, recomendando-lhes retornarem à senda do bem (não foi bem isto...). E eu lembrei uma cena de um daqueles filmes antigos de Woody Allen, em que ele é um presidiário e esculpe em sabão uma revólver, calçando os guardas de sua cela ou o que seja até o portão da saída do presídio. Mas, como havia um pátio entre uma e outro, e chovia na noite da tentativa de fuga, o sabão derreteu e, quando chegou no portal da liberdade, o taxista foi flagrado apenas com os dedinhos simulando estar prestes a puxar um gatilho de arma de fogo. Nem chegou a ser desarmado, pois não portava arma, mas foi reconduzido a seu xilindró. Pois bem, a p. 42 do carimbadíssimo jornal noticia que, na Paraíba, um eleitor (presidiário) esculpiu as feições de um agente penitenciário em uma máscara moldada em sabão. Eu fiquei pensando: a máscara foi apreendida antes de ser usada, pois a previsão do tempo para o local anunciava ausência de chuva?
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