12 agosto, 2013

Contos, Crônicas e Conrado!

Querido diário:

Eu ansiava por novas postagens no blog de Conrado de Abreu Chagas (o que o ocrreu aqui). Saudoso que estava, li sofregamente. Não entendi a natureza da natureza. Reli. Reli. E, claro que, desde a primeira leitura, em que eu buscava a intangível natureza da natureza, estava amando o que meus olhos engolfavam. Escrevi-lhe revelando minha dificuldade em catalogar o texto como conto ou crônica. Pois è vero que já li em outras épocas outros crônicas e contos muito desafiantes, enternecedores ou ambos. Então ele respondeu com o texto que segue e que leva-nos a novo marcador Conradiano:

Se conto ou crônica, não sei ao certo. Juro que não pensei nisso. O crítico literário Massaud Moisés escreveu, de modo bastante didático, mas bem aprofundadamente, sobre esses e outros "gêneros literários". Ele parte dos três grandes gêneros da Antiguidade Clássica, sobretudo a grega, claro: 

(1) narrativo (epopeia)
(2) lírica (ode, écloga, etc.) 
(3) drama (tragédia e comédia)
Já sabemos que, a não ser talvez por Aristóteles (cujos escritos são, em muitos casos, notas de aulas, e muitas vezes de seus alunos), mesmo os cientistas e filósofos escreviam em versos. A literatura (e tudo escrito era literatura) era, assim, em versos. Aristóteles escreveu sobre literatura, e o título de seu livro é, justamente, A Poética. (Infelizmente, o trecho que restou trata apenas da tragédia; o resto teria se perdido no incêndio da grande biblioteca de Alexandria. Umberto Eco, aliás, brinca com isso em seu O Nome da Rosa, em que os assassinatos no mosteiro beneditino têm sua motivação no fato de o irmão bibliotecário querer esconder dos olhos da cristandade a parte sobre a comédia n'A Poética, por nociva...)
A partir dos gêneros clássicos, nos ensina Massaud Moisés, é possível entender os atuais.

O romance, a novela, o conto seriam, assim, herdeiros do epopeia, já que neles se trata de uma terceira pessoa.

A poesia que hoje se produz, e que, ao que tudo indica, anda atualmente quase à beira da morte, é eminentemente lírica, pois trata da primeira pessoa, do chamado "eu-lírico". E é lírica, também, interessantemente, a crônica, sobretudo a crônica que se produz no Brasil, tão peculiar. Nela, ainda que se fale de terceiras pessoas, é sobretudo a primeira que se sobrepõe. Em linhas gerais, o cronista começa falando de si, de um dia particular em sua vida, de um acontecimento anódino qualquer para, no final, tirar conclusões gerais. De fato, são textos que, mais do que reflexivos, instigam a emoção dos leitores, e o fazem a partir do "eu" do autor.
O gênero dramático nos deu não apenas as comédias e tragédias (os dramas) do teatro, mas também aquilo que se vê no cinema e na televisão (as telenovelas, as séries e tudo mais).

Se levarmos em conta essas considerações de Massaud Moisés, ou o que delas me recordo assim de imediato, o texto será antes uma crônica do que um conto. 

Que pude eu pensar depois de tudo isto? Pensei no texto, no dentista, nos presidiários que recebem tratamento de primeira classe por terem meios obtidos ilicitamente para pagar por eles. O crime, numa terra de impunidade, bem que compensa. E não será também criminoso aquele cidadão de bons costumes que pode gastar um salário mínimo ou mais por dia?

DdAB
A imagem veio daqui.

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