15 agosto, 2013

O Dia do Economista:o dia seguinte

Querido diário:
Ontem falei para um grupo (talvez pudéssemos chamar de "aula" ou "seminário") sobre a profissão do economista. Reproduzo agora os traços gerais dos slides:

A. O Surgimento da Profissão de Economista e sua Regulamentação
:: tudo iniciou nas faculdades de direito
:: começam nestes tempos antigos a surgir os cursos de comércio e finanças
:: o ensino padrão tinha por base os mestres do direito e a bibliografia francesa (tipo Charles Gide)
:: isto implicou uma visão jurídica ou financeira como dominante nos anos iniciais da profissão, falando em uma fictícia média brasileira.
:: Apenas nos anos 1960 e 1970, com os programas de treinamento no exterior da Capes e CNpq é que começaram a chegar os "verdadeiros economistas", principalmente os formados nos Estados Unidos, mas também coadjuvados pela formação francesa mais moderna.
:: o Visconde de Mauá (*1813; +1889, que morou na Inglaterra, fala em Adam Smith em seu tratado que juro que li, mas não tem referência na Wikipedia brasileira
:: mas eu estou falando num tempo bem posterior, quando o próprio Alfred Marshall já estava sendo superado e, nos Estados Unidos, emergia a economia industrial
:: em 1951, a profissão foi "regulamentada" no Brasil e o livro texto iria, ainda naquela década, ser o de Paul Samuelson, de sua parte um dos autores da "grande síntese neoclássica". E seus "imitadores" americano (Campbell & McConnel) e inglês (Stonier & Hague).

B. O Problema do Emprego do Economista
:: mesmo com a abundância de empregos criada a partir do governo Lula, há ainda certa escassez de bons empregos para economistas, descontadas as vagas obtidas por meio dos concursos públicos milionários
:: falo mais do economista convocado para atuar na empresa de pequeno ou médio porte
:: neste sentido, não há emprego estável para ninguém
:: a grande questão é se a aceleração do crescimento econômico no Brasil (estagnado há 35 anos com uma taxinha de crescimento de 3,5% a.a.) poderá em algum momento relançar a absorção de mão-de-obra, especialmente na empresa privada de todos os tamanhos
:: a relativa escassez de bons empregos de economista não é uma singularidade brasileira, ao contrário
:: é nos países capitalistas avançados que, primeiro, os serviços cresceram em participação na geração do valor adicionado, mas que a produtividade, ou seja, a substituição de trabalho vivo por trabalho morto, alcançou dimensões espantosas, impedindo que o emprego acompanhe sequer o crescimento do PIB. Nâo podemos deixar de dar destaque aos crescentemente eficazes programas de inteligência artificial, já campeões de torneios de jogos de salão, diagnósticos médicos, previsões econômicas, e tantas outras áreas.

C. O Mundo do Futuro
:: neste mundo de desindustrialização, os empregos nos setores produtores de bens é que sofrerão verdadeiramente o baque dos ganhos extraordinários na produtividade do trabalho, mesmo o trabalho técnico
:: talvez a própria relação de emprego é que venha a perder importância na distribuição do valor adicionado pela sociedade
:: a dominância do setor serviços tem a vantagem de que serviço precisa ser produzido simultaneamente ao consumo
:: por isto, parece que é nele que se alojará a massa da população economicamente ativa, ainda que torne-se cada vez mais necessária a criação de mecanismos distributivos, como é o caso da renda básica universal. Isto, na verdade, não distinguiria o economista de um profissional em qualquer outra área.
:: por tudo isto, mostra-se absolutamente reacionária a mudança impressa no governo FHC e referendada pelos governos Lula e Dilma de forçar a idade da aposentadoria do trabalhador braçal a 75 anos de serviço. Isto é confundir equilíbrio das contas públicas com políticas de modernização da sociedade. O aumento de exposição do trabalhador ao mercado de trabalho é algo profundamente destrutivo para a vida social.
:: pela formação não muito afeita à teoria da escolha pública, os governos citados não têm clareza sobre o fato de que este déficit público (da previdência) é o irmão siamês do superávit do setor privado, que pode ser redistribuído
:: a flexibilidade que a formação na ciência econômica oferece ao economista, nesse mundo do futuro, não lhe dará um lugar de importante destaque no mercado de trabalho. Parece evidente que haverá economistas detentores de habilidades especiais que terão destaque, mas tal vai também acontecer em diversas outras áreas do trabalho societário.

DdAB
Imagem: do simpaticíssimo blog daqui.

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