Querido diário:
Pelo que me consta, a profa. Wrana Panizzi foi a primeira presidenta (mulher, claro) da FEE (além de reitora da UFRGS). Ela instituiu que a presidenta seria conhecida como presidenta, assinaria suas correspondências como presidenta, seria designada como presidenta, e não como presidente. Quando Dilma entrou na festa, também presidindo a FEE, parecia óbvio que também ela seria chamada de presidenta, e assim foi. Dilma, na presidência da república, não deixou por menos: presidenta.
A questão é sabermos quão velha é a incorporação do gênero feminino no substantivo presidente. Hoje em dia, ninguém mais sabe, pois há aquelas notinhas em livros de boas editoras e bons autores, o que me desagrada: "Texto fixado pelo Acervo Literário de Erico Verissimo (PUC-RS) com base na edição princeps, sob coordenação de Maria da Glória Bordini." Então, na edição princeps, que estou longe de ter sido informado, devia constar mesmo presidenta. E erros medonhos não são corrigidos?
Em outras palavras, estou falando de Érico Veríssimo, estou falando do volume 2 do romance O Continente que é a parte I da obra magna O Tempo e o Vento, de 2005 (8a. reimpressão), ano do centenário do nascimento do festejado autor brasileiro/sul-riograndense. Companhia das Letras.
Então: na página 318, já está bem fixado na história um advogado baiano, chamado de Toríbio Rezende, que ficou muito amigo de Licurgo Terra Cambará (e só agora notei que não é Licurgo Silva Cambará). Uma noite daquelas, jantando no Sobrado, houve umas escaramuças verbais daqui e dali e dona Bibiana sentenciou: "Pois então coma enquanto tem comida." E aí entram Dilma e Wrana história adentro, numa premonição do dr. Toríbio. Ao ouvir esta rudeza, o inspirador do nome do irmão mais velho de Rodrigo Terra Cambará disse:
A senhora é uma mulher que me agrada. Realista, positiva, hein? hein? De gente assim é que vamos precisar quando vier a república, não é mesmo, Curgo? Pois sua avó vai ser a primeira presidenta do Estado do Rio Grande do Sul, hein?
Bibiana, que partia uma fatia de queijo, sorriu e replicou:
Se eu continuar sendo presidenta do Sobrado me dou por muito satisfeita. [...]
Se não quisermos dizer que presidenta é uma forma monárquica, podemos recuar até 1946-7 quando o livro foi escrito, pois dá-se como data de sua publicação o ano de 1949. Tempos atrás, o prof. Cláudio Moreno, linguista e gramático de merecida fama, em sua coluna do jornal Zero Hora -que sempre fala na presidente Dilma- disse que as duas formas -presidente e presidenta- estão corretas, mas acha que, no futuro, a exemplo de casos assemelhados, o falante vai escolher mesmo é presidenta. Visionário o baiano, visionária a Bibiana, visionária a Wrana e visionária a Dilma.
DdAB
Imagem daqui. Claro que nos encima um trecho da árvore completa. Há registros, no livro (op. cit) de antepassados de Ana Terra (duas gerações) e Pedro Missioneiro (uma geração). E um filho de Toríbio Terra Cambará e mais cinco filhos de seu irmão Rodrigo.
P.S.: aditado às 9h33min de 7/abr/2013: Depois que respondi ao Anaximandro (ver), pensei em colocar este P.S. aqui falando explicitamente no nome de Yeda Rorato Crusius, a primeira governadora (mulher) do Rio Grande do Sul. São, assim, quatro mulheres (Wrana, Dilma, Bibiana e Yeda), que tive a oportunidade de conhecer em carne-e-osso, inclusive uma senhorita Bibiana, cujo nome era homenagem à personagem de Érico Veríssimo.
2 comentários:
poucas vezes li o termo visionário sendo usado com exageros, no caso, dois, digo, muitos...dito isso, adorei a história e a prosa, sempre instigante. Abraço, do s.
hehehe! pois é, Anaximandros. Faltou coisa, por exemplo, apenas agora é que me ocorre que foi Yeda Rorato Crusius que realizou a profecia do baiano, sendo a primeira governadora do Rio Grande do Sul. E minha previsão é que talvez ainda sejam necessárias mais algumas décadas para percebermos que o substantivo presidenta foi (será?) incorporado à linguagem escrita.
DdAB
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