Querido diário:
Divertido e instigante. Desde a capa, o jornal Zero Hora de hoje anuncia uma encrenca ecológica, prometendo detalhes: "O sapo que parou a usina. Espécie rara de anfíbio descoberta em Arvorezinha atrapalha obras de hidrelétrica. Página 22." Uma vez que não sou psicanalista de jornal, não posso garantir que o "atrapalha" seja um julgamento de valor contrário aos direitos civis do batráqueo.
Na p.22, Vanessa Kannenberg escreve que a Cooperativa Energia e Desenvolvimento Rural de Fontoura Xavier quer fazer uma hidrelétrica no Rio Forqueta, produzindo 1,8mW, abastencendo duas mil casas e custando R$ 9 milhões. E que, às margens de certa altura desse rio, sempre habitou um sapo chamado de melanophryniscus admirabilis, por ser admiravelmente belo. E que, no passado, já se falava -distante dali- em outro sapo, o melanophryniscus macrogranulosus, também de barriga vermelha, tanto é que fiquei sem saber se minha imagem é de um ou de outro. Minha é que não é.
O prof. Márcio Borges Martins (da UFRGS) diz: "É uma espécie pequena e muito sensível. Qualquer alteração na água, na floresta e no ambiente pode lever à extinção." Então pensei: qualquer alteração? Muito sensível? Então o bichinho está mesmo ameaçado de extinção a qualquer momento. Desde uma caçada feita por meninos normais, pisando no molhado, um raio, uma luta entre um elefante e quatro hipopótamos, sei lá.
Ainda assim, será que os sapos não poderiam subornar os habitantes para reterem seu resort? Ou, ao contrário, os habitantes beneficiados com o projeto não poderiam subornar os sapos, deslocando-os para outra área ainda mais aprazível? Eu vivo recomendando que os políticos deveriam ser condenados a fazerem cursos de teoria da escolha pública antes de ingressarem na política. E agora passo a recomendar que todo mundo faça cursos de análise de custo-benefício, pois só pode ter algo errado com os sapos, para terem enfeitiçado os autores do projeto da hidrelétrica que não avaliaram adequadamente o preço de uma vida humana ou o preço de uma vida anura.
Qual a probabilidade que este sapinho frágil e, aparentemente, serelepe, dure 100 anos? E qual a probabilidade que gente com casinhas iluminadinhas também durem 100 anos?
DdAB
Imagem daqui. Não sei se ela é mesmo do
3 comentários:
Curti as interrogações finais. Mas e ai? Protegemos os bichinhos ou não? Será útil proteger a vida da espécie humana, sob qual pretexto?
E eu curti as tuas próprias interrogações! Em primeiro lugar, o ser humano, que deve ser subornado a parar de se reproduzir feito bicho. Com isto, poderemos cuidar mais dos bichos. O mundo é contraditório: mais recursos para os humanos podem gerar mais educação e então é que haveria legitimidade em cuidar dos sapos: todas as crianças estariam recebendo os devidos cuidados.
DdAB
Mas daí precisaremos de alguns pressupostos:
Primeiro, o ser humano aceitar que é um bicho.
Segundo, o ser humano obter alguma vantagem direta em cuidar dos outros bichos.
Vejo que muitos dizem que o cuidado exagerado com o meio ambiente é desnecessário a nossa existência.
Enfim, rs
Abs
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