27 abril, 2013

Otimismo III, IV e V

 
Querido diário:
Dois dias atrás (aqui), postei sobre os dois primeiros e universais tipos de otimismo. Recebi, desvanecido, novo comentário do filósofo Anaximandro, pois não há saída: o Universo dança desacompanhado mesmo! Transcrevo, a propósito, o trecho que acabo de ler do conto "Aurora sem Dia", do livro "Histórias da Meia-Noite", do escritor Joaquim Maria Machado de Assis, em que o jovem Luis Tinoco, sentindo-se injustiçado pela sociedade que, alegadamente, não lhe reconhecia de modo pecuniário adequado os talentos poéticos, dela reclama, ao que em seguida lemos (sem redundância):

-Má sociedade, se lhe parece - respondeu o dr. Lemos com doçura - mas não há outra à mão, e a menos de não estar disposto a reformá-la, não tem outro recurso senão tolerá-la e viver.

Em outras palavras,se o Universo não dançasse sozinho, talvez ele nem existisse, ou o que talvez até fosse pior, estivéssemos mal-acompanhados. De minha parte, transcrevo o trecho relevante em que Anaximandro, como sempre, incandescentemente, disse, relativamente à postagem Otimismo: I e II:

Lembrei do "homens em tempos sombrios" da bela Arendt no último texto, quase no último paragrafo, algo como o átomo da explosão original ainda está em mim, ou neles, nos inescapáveis..., otimismo III, eterno.

 Eu, que conheço a sra. Arendt apenas de Wikipedia (e curso avançado na Stanford Encyclopedia of Philosophy), não tive a oportunidade de ler o trecho chamado pelo vigilante filósofo. Mas entendo que a compreensão de que todos somos filhos da mesma explosão de algo tido como original pode levar-nos à redenção completa. Esta inicia com a destruição das misérias terrenas, mas não necessariamente. Com ou sem misérias, a segunda etapa é a evasão do colapso do Sol. Esta pode ser feita exclusivamente por meio de astronaves ou, mais complicado e talvez indesejável, rebocando o próprio planeta (conforme já andei lendo em livros de ficção científica; e não é isto que faço agora?). Então quem acredita que é possível à espécie humana ou seus sucessores (inclusive, se fosse o caso, os golfinhos) evadir-se do colapso do Sol estará esposando, nesta linha de argumentação, o Otimismo IV, eis que o Otimismo III é etiológico.

E que será o Otimismo V? Este é mais moderno. Nem sei bem qual é sua etiologia, talvez a linha da descoberta de que a Terra é apenas um ponto no espaço universal, talvez a consciência de que o homem é mesmo uma partícula daquele átomo original bigbangueano, um macaco mal-ajambrado. Mas talvez a mais moderna consciência de que nem o Big Bang que, aparentemente, gerou o átomo original é algo único (Roger Penrose). Então ficamos a pensar na teleologia desta encrenca toda. Será que nosso fim é mesmo, depois da espetacular evasão do colapso do Sol, perdermo-nos num certo Big Crunch destes ou numa eterna expansão daquelas?

Pois agora vem o que prometi a Anaximandro no comentário a seu comentário. Imagino que poderemos construir uma nave para os trilhões da habitantes humanos espalhados por naves e planetas ao longo do Universo poderem enfrentar, se for o caso, o Big Crunch, ou mesmo se evadirem da expansão eterna, pois ficar cada vez menos denso não é algo que agrada aos mamíferos. Então minha novela de ficção científica terá um final mostrando detalhes técnicos da construção dessa fenomenal astronave. Até agora apenas sei que a viatura será envolvida por uma camada de chumbo-terconite de 314,16km de espessura. E por que todo este trabalhão? Tudo porque nós humanos gostamos desta vida material que às vezes nos estressa. Queremos ser materias, queremos ser eternos. Mergulhar num buraco negro (ao invés de ser tragado por outro um deles) não vai estragar nossa alegria, pois seguiremos querendo sendo materiais e eternos.

Mas parece que saber isto está muito longe de saber pouco (comparados com os macacos antropóides, claro)!

DdAB
Imagem da retaguarda: do seguinte e maneiro blog aqui. Imagem da vanguarda, daqui.
P.S.: O Otimismo VI (que, em breve pararei de contar) é aquele que considera possível a imortalidade absoluta, na verdade, seria o 4,5, pois está entre o IV e o V.
P.S.S. Mais novidades:  por uma daquelas fatalidades do destino, liguei o rádio -ao invés de ligar a cafeteira, há duas horas, e entreouvi: "O problema é que só quem não chutou o balde são os corruptos." A menos que resgatemos ondas de rádio de segunda mão, jamais saberemos mais detalhes sobre estes dizeres sapientíssimos.
Este lindo fractal tem um maraviloso artigo sobre o livro de Penrose que acabo de descobrir via Google Images!

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