07 agosto, 2012

Turistas x Giambiagi

Querido diário:
No jornal Zero Hora de hoje, no caderno "Viagem", p. 2, estampa-se um artigo de uma coluna tradicional ("Histórias de Viagem"). O título da hora é "A Crise Grega". Autores: João e Nícia Bastos. Dizem os articulistas:

   Apesar da crise econômica que a Grécia vem atravessando, resolvemos arriscar e realizar a viagem dos nossos sonhos (mais um), porque talvez fosse uma oportunidade que no futuro não teríamos. Porém, ao chegarmos a Atenas, constatamos que a crise deve ser exclusivamente econômica, já que não se constata no turismo, no comércio, nos bares e restaurantes, passeios, etc.
   Vivenciamos - o que normalnente fazemos em nossas viagens - o dia a dia de uma cidade, caminhando peas ruas, ruelas, parques, praças, ônibus e metrô onde normalmente os nativos se encontram, não só turistas, alegres, falantes, receptivos e atenciosos, predicados raros em alguns países da Europa.
   Nâo entendemos! Somos turistas e não economistas ou filósofos e como tal agimos. Apesar de não negarmos, talvez a crise esteja no deesenvolvimento, na política, no PIB, nas bolsas, no euro, nos bancos, mas nos aspectos citados, os gregos continuam trabalhando ou em busca de ocupação, se aperfeiçoando, com incentivo do governo. Nâo se veem pedintes, mendigos, pivetes ou mesmo assaltos.  [...].

Pois aqui postei não diria uma diatribe, ainda que algo antipático à visão de Fábio Giambiagi sobre o problema do déficit previdenciário brasileiro, a maneira desigualitária de acabar com ele e o exemplo grego. Claro que o casal declarou-se não técnico em economia, o que poderia fazer de sua opinião apenas uma anedota, no sentido filosófico (em que eles tampouco enturmam) enviesada pelo encantamento propiciado pelas ilhas da magia. Claro também que o que pode ser equivocado é pensarmos que um povo de consagrado savoir vivre é que ter-se-ia jogado ao estilo de Sodoma e Gomorra e ver-se amaldiçoado pelos deuses, Giambiagi e todo o resto dos economistas políticos e políticos propriamte de corte ortodoxo.

Só tem três maneiras de reequilibrar a economia grega, conforme aprendi com o prêmio Nobel Milton Friedman. Ou o produto fica estagnado e dá-se algum arranjo escalafobético que tudo esclarece (ou obnubila, não é mesmo?). A segunda e criativa maneira é fazer o PIB e o desemprego caírem a níveis tão baixos que tudo se harmoniza com a emiseração crescente dos, digamos, 70% mais pobres. A terceira, condenada por aquele tipo de macacada, é apostar no futuro. Já que dinheiro não existe, mas seu estoque ótimo tem relação com o PIB do passado, do presente e do futuro, então por que não apostar precisamente naquilo que resta para ser construído? Por que não fazer um programa de melhorar a adesão da economia grega à do século XXI, limpa, serena, baseada em serviços refinados?

Eu confesso que não sei. Admito que os turistas podem estar errados. Admito que o keynesianismo possa ter sido sepultado. Admito tudo, tudo pode ser. Não admito abrir mão do sonho: um certo constitucionalismo que me leva a crer que instituições sábias geram regras de funcionamento do sistema que também se tornará mais sábio.

A Grécia tem um PIB per capita maior do que o brasileiro: US$ 26 mil contra US$ 13 mil, e um Gini de 0,33 contra 0,52. Quem impede o crescimento econômico brasileiro? Eu tendo a dizer que todas as mazelas porto-alegrenses devem-se ao prefeito. Ergo, no caso do Brasil as a whole, só posso dizer que é a política, uma política de bases institucionais tíbias que impede até que haja lei do orçamento. O problema, por outro lado, com essa diferença de Ginis, é que lá há maior equalização no consumo per capita. Como tal, há mais chance de paz social, descontada precisamente a fúria que se abateu sobre eles, em virtude da política.

E quais são regras que fazem um sistema totalmente aburricado? As que regem, por exemplo, a política brasileira. Aqui não tem terremoto, nem orçamento público, nem educação decente, nem pilhas dessas coisas que, em 30 anos de decência, são conseguidas em qualquer latitude.
DdAB
P.S.: Imaginemos o que ocorrerá na Grécia, na Coréia e na China daqui a 30 anos e como será o Brasil.
P.S.S.: e a imagem do porto do Pireu veio daqui.

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