Quando eu trabalhava no Banco da Lavoura (era 1968/69, anos que -felizmente- terminaram; sem seu término, o Brasil não teria sido tricampeão em 1970 e, menos ainda, eu teria recebido o diploma de bacharel em economia em 1972), os Beatles cantavam e o cabelo da gente crescia. Barba ou bigode o acompanhavam. Claro que, no banco, o contador, um certo sr. Carmosino, proibiu-me de usá-lo. Talvez a proibição tenha sido estendida a todos, mas o fato é que senti nos beiços o resultado: tive que rapá-lo, pois preferi a escravidão do mercado de trabalho à liberdade que desfruta quem não tem rendimentos.
Anos depois, já trabalhando na Câmara dos Vereadores, parece que barba e bigode passaram a ter mais tolerância por parte da -digamos- classe dominante e tudo deu certo.
Por aqueles tempos, um ano a mais ou outro a menos, li o fascinante livro de W. Somerset Maugham intitulado "As três mulheres de Antibes" (Porto Alegre: Globo, 1960), de que falei algumas semanas atrás. Hoje, falando em bigode, cabelo, crime e tudo o mais, destaco uma passagem da p.38, inserida no conto "Um homem de consciência". Trata-se de um apenado francês nos presídios da Guiana Francesa. Lemos a declaração do comandante:
-É um sujeito muito correto - explicou ele. Trabalha na seção de contabilidade e obteve permissão para deixar crescer o cabelo. Está encantado.
Eu não sabia muito as razões de, em grandes multidões, cortarem-se os cabelos da turma. Claro que a explicação mais rasa é humilhá-los. Mas a outra - e para esta hipótese temos o testemunho de Toríbio Cambará (em algum lugar verissimoso), que o fazia para participar de suas malfadadas revoluções - é a higiene.
DdAB
Imagem: óbvia e recortada por mim.
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