02 agosto, 2012

O Mensalão, o INSS e Fábio Giambiagi

Querido diário:
Parece que a bola da vez é o julgamento de um dos milhares de casos de corrupção da república brasileira que se distingue dos demais apenas pelo nome: 'mensalão'. O que eu acho é que, quem quer que seja que vá para o xilindró, a substância da vida política e sua corrupção permanecerão um tanto impunes. A saída, claro, está na adoção do voto distrital, no voto facultativo, no cumprimento da lei do orçamento, no parlamentarismo, esse pacote manjadíssimo de reformas políticas necessárias precisamente para acabar com a corrupção.

E que fazer com os dinheirinhos sistematicamente roubados do INSS? Jà que foram roubados, desapareceram. Mas que fazer com aqueles que seriam credenciados aos bagarotes? Agora fala-se de uma mudança na lei da previdência social: autorizar a aposentar-se o homem que somar a idade ao tempo de trabalho (com dupla contagem) e alcançar a cifra de 95. Ou seja, se o garoto começa a trabalhar com 20, chega aos 55 e se aposenta. Para a mulher o número cabalístico é 85. Tudo tem a ver com o "fator previdenciário", que tem descontado até 50% do valor previsto para a aposentadoria.

E aí tem o jornal Zero Hora, na p.24 noticiando algo em que não consigo acreditar:

Entre os opositores do fator 85/95, o temor é de um desequilíbrio futuro nas contas da previdência, por assegurar benefícios mais altos no momento em que a população brasileira começa a envelhecer. O economista Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas e previdência, classifica como 'loucura' a proposta de alteração.
-Nâo consigo acreditar que o Ministério da Fazenda aceite isso. Os efeitos vão começar a ser sentidos daqui a 20 anos. É uma medida grega. A Grécia não chegou a essa situação da noite para o dia. Foram anos de irresponsabilidade - alerta.

Claro que "o papel não se defende" e cada um diz o que bem entende. Eu, por exemplo, não consigo acreditar que esse carinha tenha dito isto. Parece-me que ele desconhece milhares de fatores relevantes e que podem modoficar este quadro imbecil de manutenção da cláusula ceteris paribus em 20 anos. O PIB crescerá muito mais do que o crescimento da população, ou seja, a renda per capita crescerá de qualquer jeito. Por que os velhos não deveriam tirar lá sua casquinha? Porque Giambiagi tem esta ojeriza ao déficit da previdência? Ou porque ele não gostaria que o imposto de renda aumentasse para cobrir eventual déficit do tesouro nacional?

O pior de tudo é que tenho a impressão de que este senhor Giambiagi não conhece o primeiro teorema do PIB: o PIB representa 100% do PIB. E, se estes 100% daqui a 20 anos representarem uma cifra expressivamente maior do que os 100% contemporâneos, segue-se logicamente que uma nova divisão dele -PIB- em partes poderá beneficiar todo mundo, inclusive os caquéticos aposentados.

DdAB
Imagem: aqui. Procurei no Google Images a palavra 'caquético'. E achei, entre outras irrelevâncias, esta linda foto que estampo com galhardia. Bem que os aposentados poderiam ter poder aquisitivo para manter um estilo de vida destes.

5 comentários:

Bípede_Pensante disse...

Para além de tudo aquilo que vc já falou, o que vou dizer apenas chove no molhado. Mas vc já sabe que o Sr. Fábio Giambiagi e os demais mensageiros do Apocalipse se valem de "manobras contábeis" (hehehe) para chegar nos seus números apocalípticos, não é?
Essa tese aqui é muito legal: http://www.corecon-rj.org.br/ced/tese_previdencia_denise_lobato.pdf

Ela refaz as contas, só que do jeito certinho...

Anônimo disse...

Pois é Duilio, o que me aflige nisso tudo é que em meio a tanta roubalheira, só corre o risco de ser punido aqueles que roubam muito. Os que roubam pouco são mais espertos.

Abs

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... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

querida/querido:
obrigado pela diligência. hoje falo mias brincalhonamente em contabilidade. o primeiro teorema do pib é casca grossa: Ricardo e a distribuição é que têm razão!
DdAB
vou olhar a dica de B.F.

Anônimo disse...

Duilio, andas lendo demais a ZH. Pintar o futuro de rosa não resolve o problema da previdência social nem o déficit da previdência dos servidores públicos que é outro escândalo nacional. Não sei se estaremos aqui em 2032, mas a conta terá que ser pagar para quem viver até lá. A teoria econômica não parou na estática comparativa de Marshall.

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

ei, anônimo:
.a. è vero: ando lendo demais a ZH,
.b. também concordo que pintar o futuro de rosa não resolve o problema,
.c. tampouco sei se estaremos aqui em 2032
.d. admito que a conta terá que ser paga por alguém desse futuro nem tão remoto assim: veinte años no es nada!
.e. também concordo que a teoria econômica pós-marshalliana é que é o canal.
DdAB