22 abril, 2010

Rudicir

querido blog:
Rudicir de Freitas é a figura de destaque da p.32 da edição de hoje do jornal Zero Hora. Zero Hora? não era Zero Herra? era e é:
.a. "Comerciante de 39 anos diz que reagiu a ofensas depois de estacionar em espaço para deficientes" e
.b. "Dono de um mercado na zona norte da Capital, Rudicir Fernandes de Freitas, 34 anos estacionou o carro em uma vaga reservada."

ou seja, em quatro parágrafos, neguinho remoçou cinco anos. Zero Hora? e que de indigitado terá o Rudicir? parece que eu já lera no jornal da véspera ou antevésperas uma nota sobre o incidente que volta a ser resumido na matéria assinada por Humberto Trezzi, o jornalista responsável por uma coluna da "Polícia", "Segurança", sei lá.

volta e meia, valho-me da diferença conceitual entre indivíduo e cidadão, a fim de entender coisas do mundo. o indivíduo, alega-se, é egoísta e o cidadão, altruísta, essas coisas. ambos, em sua trajetória comportamental valem-se de um montante substantivo de racionalidade, a fim de maximizarem seu bem-estar, diz a teoria.

todo mundo diz que ninguém deve fazer justiça pelas próprias mãos, o que obviamente é um conselho do cidadão. isto não impede que o indivíduo, em sendo interessado em seu próprio bem-estar aja em desacordo com a regra social. fosse ele coordenado, não haveria crimes, sou levado a crer, a não ser -claro- os dos políticos que, na verdade, são predadores acabados.

então o Rudicir foi ofendido pelo também comerciante, cinco ou 10 anos mais velho, dependendo da idade de Rudicir. precisando reparar sua honra com "empurrões" e "frascos de álcool em gel" e outros objetos, o Rudicir disse que não começou nada, tudo atribuindo ao "empresário Léo Mainardi, 49 anos". Léo flagrou Rudicir estacionando, irregularmente, numa vaga de deficientes físicos. reclamou e Rudicir disse não ter visto o sinal de reserva da vaga, aparentemente não tendo adesivo indicativo de sua condição de deficiente em seu carro. depois de alguns encontrões, diz o jornalista Trezzi: "O empresário levou apior na briga. Sofreu uma pancada na cabeça, que o deixou com um coágulo e forçou sua hospitalização."

ou seja, diz Rudicir não lembrar de ter jogado sobre Léo uma barra de ferro (retirada das estantes do supermercado em que havia o álcool gel). at the same time, aduziu: "Não lembro dessa barra, mas devo ter jogado." seu advogado, o mister Cid Cezimbra, cedeu o escritório para que a entrevista fosse realizada por Zero Hora, ocasião em que o Rudicir declarou: "Esse lugar que ele me acertou, no tornozelo, tem seis parafusos. Eu manco por isso, mas nunca usei vaga para deficientes, não preciso disso."

não sou detetive, não pretendo julgar juridicamente ninguém. sou interessado em questões de escolha social, de escolha interativa. claro que juro que ambos pagariam R$ 50 ou mais para não se verem envolvidos neste tipo de notícia. e achei particularmente infeliz a atitude do Léo em sapecar um acerto (chute?) no tornozelo do rapaz. at the same time, não acho que o Rudicir tenha sido feliz em jogar álcool gel (engarrafado) e uma barra de ferro sobre o Léo.

acho tudo isto uma infelicidade. afinal, o Rudicir e o Léo não parecem habitar o mundo da contravenção. apenas tentaram fazer justiça com as próprias mãos. uma vez que este conceito não especializado de justiça é passível de contestações a ferro e fogo, o conflito seria inevitável. o Rudicir disse que o Léo chamou-lhe a atenção em termos deselegantes, quando ele -inadvertidamente, alegadamente- avançou sobre a vaga de deficiente físico. o fato concreto é que o Rudicir não se deu por achado e, com seus seis pinos, considerou adequado manter o carro onde sua "pressa".

em outras palavras, não ganho R$ 27.000 por mês, logo não vou julgar. todavia, se houvesse julgamento por anciãos, ganhando R$ 00.000 mensais, eu requereria que ambos prestassem trabalhos comunitários durante um certo período, também condenando a igual pena o dono do supermercado e o prefeito de Canoas, pois é tudo cúmplice. digo isto, porque hoje cedinho andei pelo centro de Porto Alegre e vi tanta irregularidade que pensei que estava tendo um pesadelo, morando numa daquelas cidades brasileiras em que morre mais gente de tiro do que de doença coronariana.
DdAB
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3 comentários:

maria da Paz Brasil disse...

Muito bom, Duílio.
Beijão.
MdPB

Sílvio e Ana disse...

Caro Duilio, como reduzir a ignorância de Rudicir que distribui barras de ferro ao Léo? Qualquer bate-boca, hoje em dia, tem que terminar em morte?
Sugiro, novidade para ti, 1. três horas de ginástica por dia (para manter a coluna ereta), 2. três horas de aula por dia (para manter a mente quieta) e 3. três horas de trabalho comunitário por dia (para manter o coração tranquilo).
(Sílvio)

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

amiga/o:
só posso dizer, para a da Paz, que sou da paz. e para Sílvio e Ana que sou do xadrez, ou melhor, jogaria o Rudi a jogar xadrez. ele, no devido tempo, mudaria a concepção de "jogo de guerra" para "jogo competitivo", no qual apenas cabe o fair play. e um pouco de matemática, pois "b" x "a" faz "bah!".
DdAB