05 outubro, 2019

Bom Humor Brasileiro (de quem conta as histórias)

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No outro dia, dona Dila (Dilamar Schoingele), nossa admirável cozinheira estava preparando a carne para produzir uns bifes enrolados, daqueles com recheio de bacon e cenoura, tudo espetadinho com palitos. Eu, em louvável atitude de reformador (preocupado em salvar o mundo), lia meu jornal calmamente à mesa da sala. Casa de pobre, sala contígua à cozinha...

Uma história a contar sobre as batidas do bife é que eu nem notei, mas pessoas próximas o fizeram, no passado remoto, havia uma reforma na cozinha e no banheiro de minha velha morada à Rua Demétrio Ribeiro, em Porto Alegre, certamente no ano de 1993. Eu, para minha própria tristeza e decepção de amigos, não defendera a tese de doutorado nos dias finais de Oxford, tendo que fazer muita edição ainda, até receber o O.K. de meu finado orientador, o inesquecível mr. Andrew Glyn. Pois foi exatamente naqueles tempos que a bateção de martelo e chispar de lixas tornou-se -dizem- mais invasiva, só que eu nada ouvia.

Pois então. D. Dila em sua faina esmerava-se em deixar aquela carne de segunda com a maciez da de primeira. Eu nem ouvia, pois estava, como disse, lendo o jornal e amaldiçoando os tempos que me foram dados para viver sobre a terra. Epa, agora Brecht (tá aqui o poema). Mas, de repente, ela adentrou porta da sala, com o avental todo sujo de ovo (epa, agora não dei a origem desta expressão. Alguém não sabe?) e, percebendo que eu segui concentrado na leitura do jornal, contou-me a seguinte história. Muitos anos atrás, ela própria trabalhava numa casa em que a patroa era uma chata. E, chata oficial, certo dia, ouviu a d. Dila em sua esmerada bateção de bifes, dirigiu-se a ela, em bons termos e pediu: "Por favor, nunca mais bata bifes em minha casa, pois os vizinhos vão pensar que estamos comprando carne de segunda e, ipso facto, pensar que somos pobres."

Pois então II. Li, juro que li, lá por aqueles tempos ou oxfordianos ou no imediato retorno ao Brasil:

BUARQUE, Cristóvão (1991) A desordem do progresso ; o fim da era dos economistas e a construção do futuro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

Agora não sei onde está o livro, de sorte que não citarei a página. Mas consta em minha memória que Cristóvão visitava Manaus, um calor de assar pinhão nas calçadas do afamado teatro. Ele andava, digamos, com seu anfitrião local num automóvel de ar condicionado ligado. O anfitrião viu um táxi-fusca todo fechado, vidros, claro. E disse a Cristóvão: "Sabe por que aquele táxi tem os vidros fechados?" Para abreviar a história, Cristóvão respondeu: "Não." E seu amigo explicou: "Com os vidros abertos, todos verão que o motorista está passando um calor dos diabos, mas com os vidros fechados, vão pensar que ele está com o ar condicionado ligado." Cristóvão teria pensado: "Não!" Se ele não fosse pernambucano, mas gaúcho, a exclamação muda seria: "Capaz!", com o mesmíssimo ponto de exclamação.

Pois então III. Uma história de fusca puxa outra e aí me lembrei de outra delas, que me foi contada pelo meu líder na Sociedade de Economia e ex-prefeito de Porto Alegre, o já falecido prof. João Acyr Verle. Na busca de conseguir "instrumentar" a sociedade civil, especialmente frente a um grupo de economistas definitivamente da velha geração que controlavam a Sociedade de Economia do Rio Grande do Sul, Verle associou-se à entidade e chegou a fazer parte da diretoria quando -agora não lembro se testemunhou ou apenas ouviu falar- fizeram um jantar de arrecadação de fundos e os convites falavam que seria sorteado umfuscanovinho. Deu-se o jantar, deu-se o sorteio, deram-se os discursos laudatórios e deu-se a confusão. Digamos que o econ. Fulano de Tal viu seu convite ter o número sorteado, credenciando-o a tal mimo. Mais discursos e o brinde vai ser entregue: um autinho de plástico em formato de fusca dentro de uma jarra de vinho: um fusca no vinho.

Dizem que até hoje o econ. de Tal está reclamando, querendo processar os dirigentes da instituição da qual naquela mesma oportunidade demitiu-se.

DdAB
P.S. O combo do restaurante Dilamar é apenas ilustrativo. E pode ser acompanhado por um vinho sem fusca.

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