Além da notícia de que um desembargador do tribunal de justiça do Rio Grande do Sul ganhou R$ 118.084,39 num mês e mais R$ 82.829,01 no mês seguinte, o jornal Zero Hora deixou-me estupefaciente na manhã de hoje. Sua principal manchete diz: "EUA indicam Argentina e Romênia para grupo de nações ricas e frustram Brasil".
Naturalmente a pergunta é "quem o desembargador pensa que é para retirar esses estupefacientes montantes de dinheiro de um estado que é incapaz de prover esgotos a sua pacífica população ou o salário mínimo do magistério?" A resposta veio rápida, mal a formulei: o desembargador, claro. Fosse eu o secretário da receita federal ou mesmo da estadual, propugnaria pela elevação da alíquota do imposto de renda para quem recebe mais de R$ 35.000 (parece que o teto -furado- pelo jeito) mensais. Só para ilustrar e calcular algo, imagina que os R$ 35 mil são o montante da isenção, ou seja, todos os brasileiros nada pagam se receberem 35 paus por mês. Então, essa diferença entre os 118 mil e os 35, ou seja, os 83 paus que igualam o do mês seguinte, teriam 40,15 retidos. Ainda assim o desembargador seguiria classificado na categoria dos apaniguados maiúsculos, mas o estouro nas combalidas contas estaduais seria menos indecente.
-Começou bem, pensei.
Mas voltei à capa: então Argentina e Romênia, sim, mas Brasil, não. A Romênia, nem mesmo forneceu os ancestrais da presidenta Dilma. Aí fui ver o embasamento econômico da recusa americana em aceitar um país que não manja de tecnologia para fazer esgotos cloacais. Não achei os dados cloacais, por assim dizer, mas peguei alguma coisa dos verbetes dos nomes dos trẽs países, já recebendo alguns bits de esclarecimento. Primeiro, o Brasil, com seu vasto e rico território e sua grande e vibrante população é o terceiro (segue no pódio...) em renda per capita. Ou seja, um pobretão, status compatível com a falta de esgotos, falta de policiais, professores e enfermeiros et tutti quanti.
Mas bem sabemos que a renda per capita corrigida pela paridade do poder de compra não é tudo. Afinal, a felicidade não é comprada com dinheiro. (Ou é? De acordo com Richard Layard, é...). Mas tem indicadores de que a vidinha de cá não é tão enobrecedora como a dos vizinhos do sul e os amigos do norte. Nossos índices de Gini da desigualdade na distribuição da renda são:
Argentina - 0,41
Romênia - 0,35
Brasil - 0,53.
Bem assim: 0,53. Falta emprego, faltam professores, enfermeiros, policiais, motoristas, aviadores, ascensoristas, engenheiros, garçons, 20 milhões de faltas.
E quando ao que mais interessa para deixar-nos de vez no grupo dos mais felizes do mundo? Vejamos o IDH:
Argentina - 0,83
Romênia - 0,81
Brasil - 0,76.
Epa, talvez tampouco sejamos o país de maior coeficiente de felicidade nacional bruta. Uns brutos. Um país que abandona sistematicamente sua infância (desde aqueles "capitães da areia" até os meninos e meninas de rua dos tempos atuais). E seus adultos, ignorantes, deseducados, beberrões. Claro que não estou falando dos desembargadores. Mas provavelmente eles têm em comum com todos os demais brasileiros natos ou naturalizados a inconformidade com seus ganhos, com planos de gastar mais, se lhes derem novo aumento.
Argentina
Population | |
---|---|
• 2019 estimate
| 44,938,712 |
• 2010 census
| 40,117,096[13] (32nd) |
• Density
| 14.4/km2 (37.3/sq mi)[13] (214th) |
GDP (PPP) | 2019 estimate |
• Total
| $920.209 billion[14] (25th) |
• Per capita
| $20,425[14] (56th) |
GDP (nominal) | 2019 estimate |
• Total
| $477.743 billion[14] (30th) |
• Per capita
| $10,604[14] (53rd) |
Gini (2017) | 40.6[15] medium |
HDI (2017) | 0.825[16] very high · 47th |
Population | |
---|---|
• 2019 estimate
| 19,401,658[4] (59th) |
• 2011 census
| 20,121,641[3] (58th) |
• Density
| 84.4/km2 (218.6/sq mi) (117th) |
GDP (PPP) | 2019 estimate |
• Total
| $541.807 billion[5] (40th) |
• Per capita
| $27,753[5] (54th) |
GDP (nominal) | 2019 estimate |
• Total
| $244.158 billion[5] (46th) |
• Per capita
| $12,506[5] (57th) |
Gini (2018) | 35.1[6] medium |
HDI (2017) | 0.811[7] |
Population | |
---|---|
• 2019 estimate
| 210,147,125[5] (5th) |
• Density
| 25/km2 (64.7/sq mi) (200th) |
GDP (PPP) | 2019 estimate |
• Total
| $3.495 trillion[6] (8th) |
• Per capita
| $16,662[6] (80th) |
GDP (nominal) | 2019 estimate |
• Total
| $1.960 trillion[6] (9th) |
• Per capita
| $9,343[6] (73rd) |
Gini (2017) | 53.3[7] high · 10th |
HDI (2017) | 0.759[8] high · 79th |
Desde o tempo dos militares, os presidentes da república do Brasil têm sonhos fenomenais, um deles é ter assento no conselho de segurança da ONU. Sempre fui a favor não desta posição, mas de mais conforto emblematizado por mais esgotos. Naturalmente nosso atual presidente é um militar. E que tem a ver esta peroração com o apoio americano à Argentina e à Romênia, deixando o Brasil, por assim dizer, mascando o freio?
Zero Hora, na página 10, explica tudim tintim por tintim:
Qual a contrapartida em troca do apoio americano?
Em março, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu fazer esforços para ajudar o Brasil a ingressar no bloco, foram exigidas contrapartidas. [...] Em troca do apoio de Trump, o Brasil também permitiu a entrada de americanos no país sem necessidade de visto. A permissão para uso da Base de Alcântara, no Maranhão, e a isenção de tarifas de importação de trigo dos Estados Unidos completaram a lista de medidas oferecidas por Bolsonaro.
Três belas contrapartidas. Um presidente da república ungido ao cargo por 57 milhões de brasileiros. Uma tragédia, duas tragédias, pilhas e pilhas de tragédias. Outro 7x1.
DdAB
Imagem: tão abisurado fiquei com o grau de debilidade mental da diplomacia brasileira e do presidente da república que, eu mesmo, fiquei um tanto debilizado e fiz propaganda para uma loja que me vendeu aqueles copos de R$ 9,90 por cada, como diriam os suinocultores. E os literatos da entourage presidencial.
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