01 outubro, 2019

Ulysses: que pensará Stephen de Leopold?


Em compensação, Paul Prescott, falando de Hamlet, nominou 20 características que um ator, para representar essa legenda do teatro shakespeariano, deve apresentar. Já falei das características físicas de Leopold Bloom que, em minha opinião, foram incorporadas por James Joyce como seu physique du rôle a partir da aparência de seu crescentemente amigo e colega literato durante os tempos de Trieste. Falo de Italo Svevo, pseudônimo de Hector Schmitz. Talvez estejamos vendo precisamente a foto de seu aluno de inglês.

Segue-se logicamente que tomei para minha descrição de Leopold Bloom não apenas a foto que nos encima, mas também essas 19 características do ator shakespeariano, a saber:

anger, arrogance, charm, classicism, colloquialism, cruelty, discontinuity, excessive subjectivity, generosity, inconsistency, irony, lunacy, melancholy, mercurial shifts, stamina, variety, vocal technique, vulnearabitily, wit.

Desta lista, vemos quão latina é a língua inglesa. Olha os cognatos mais óbvios: 
arrogance, classicism, colloquialism, cruelty, discontinuity, excessive subjectivity, generosity, inconsistency, irony, melancholy, stamina, variety, vocal technique, vulnearabitily. Total, entre as 20, dá-nos 15 expressões (inclusive a dupla vocal technique). Ou seja, ficam fora do latinório do inglês apenas cinco: anger (raiva), charm (charme...), lunacy (demência), mercurial shifts (crises de raiva) e wit (sagacidade).

E por quê dei no título da postagem os possíveis pensamentos de Stephen (alias de Telêmaco) sobre Leopold (alias de Ulysses) e não o contrário? É que Stephen é sabidamente, por declarações do autor do romance, um especialista em Shakespeare. Jamais Leopold poderia ter-se tornado um leitor de Shakespeare além do que um judeu culto era capaz de fazer. Nada de especialização, por contraste a Stephen..

DdAB

P.S. A foto dali de cima retirei-a da Wikipedia no verbete Italo Svevo, que é o pseudônimo de Ettore Schmitz). Esta mesmíssima foto consta da página 428/23 (ou seja, depois da 
página 428, a 23a. página com lâminas de fotos de pessoas, desenhos e coisas) do livro 

ELLMAN, Richard (1982) James Joyce. 2ed. Barcelona: Anagrama.

Em outro momento, queixei-me de que os editores da Espanha não colocaram um índice analítico. Mas tem, e me foi útil para checar coisas de Svevo, um índice onomástico.

P.S.S.  Andei falando pelas postagens cujos títulos iniciam com "Ulysses" que Svevo foi professor de italiano de Joyce. O fato é que até agora voltei a consultar Richard Elllman (ver o rodapé anterior) que, na página 298, fala o que Svevo foi é aluno de inglês de Jim. Além disso, Joyce também foi professor da Berlitz School de Trieste. Parece que eu confundia coruja pelada na praia com com a cuja enfarpelada na Baía da Coruja... Dei umas espiadas aqui e ali e não encontrei referência a essas aulas de italiano. Aliás, duvido que Joyce tivesse dinheiro para pagá-las, o que, aliás, não impediria que algum de seus amigos e admiradores as ministrasse "de grátis". O que vi a respeito é que provavelmente ele já chegou à Itália com o domínio parlante da língua de Dante...

P.S.S. Depois da viajação, deu uma olhada neste site aqui e achei as viajações do próprio James Joyce:

Dia 02 de fevereiro de 1882 nasce James Joyce (1882 – 1941) em Dublin.
Depois de estudar num colégio jesuíta, muda-se para Paris em 1902 com a intenção de cursar medicina, mas vive como professor de língua e literatura inglesa.
Volta a Dublin em 1903 por causa da morte de sua mãe.
Em 1904, conhece Nora Barnacle, com quem se casa no mesmo ano.
Em 1905 muda-se com a esposa para Trieste, onde leciona na escola Berlitz de línguas e onde nascem seus filhos Giorgio (em 1905) e Lucia (1907).
Volta a Dublin em 1912. Em 1914 publica Dublinenses. Durante a Primeira Guerra Mundial, refugia-se em Zurique (Suíça).Muda-se para Paris em 1920, onde conhece Sylvia Beach (proprietária da livraria Shakespeare & Co.).Publica Ulisses em 1922 pela Shakespeare & Co. Em 1923, começa a ter um problema nos olhos que o acompanhará até o fim da vida.Começa a escrever Finnegans wake – que será publicado em 1939. Em 1940, vai para Zurique, onde morre em 13 de janeiro de 1941.

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