31 maio, 2019

A Maconha e o Osmar Terra

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Em meus tempos de professor de microeconomia (a rigor, até em Introdução à Economia), eu chegava a certo ponto do estudo das curvas de oferta e demanda e suas condições de equilíbrio e não resistia a jogar na parada um problema de tributação. A moral da história microeconômica é que, se o governo cobra um imposto por unidade vendida (e não, por exemplo, por cabeça), a carga se distribui entre o comprador e o vendedor. A curva de oferta é que se desloca "para cima" e a de demanda vai "para a direita" (pois tem uma pilha de gente que tinha medo de meter um baseado e, com a legalização, decide-se a testar o bagulho.

Parece que, desde sempre, sou a favor da legalização do comércio de drogas e, naquele contexto, ajustei parâmetros das curvas de oferta e demanda e a função tributação (que é pT = pP x (1 + t), isto é o preço depois do tributo é igual ao preço puro vezes a alíquota do imposto, esta variando de 0,01 até infinito. Os problemas que eu dava a este respeito sempre levavam a resultado moralista: maior preço induzia menor quantidade de equilíbrio.

Hoje, mais radical com relação ao besteirol político nacional, sou favorável à destruição do mercado de drogas por meio de um artifício pueril (solução trivial, diriam os matemáticos bem-humorados): o governo começa a distribuir tudo o que é tipo de droga que possamos imaginar "de grátis". Quer cocaína? Vai no centro de consumo? Quer crack? Vai na enfermaria? Quer maconha? Vai na farmácia (como no Uruguay). Queria só ver a cara do doutor Osmar Terra, um rapaz que jamais ouviu falar em teoria da escolha pública, nem seus CCs o fizeram, um rapaz que não consegue entender que "o problema das drogas é caso de medicina e não de polícia". E mais: é um caso de recompensas extraordinárias para empresários empreendedores destrutivos (ver William Baumol e Fernandinho Beira-Mar): não se pode segurar água correndo morro abaixo, não é mesmo? Com tais incentivos precisamente originários da política de repressão do governo, é impossível pessoas de moral baixa e aversão ao risco rastejante resistam a essas recompensas.

E tenham destruído o Brasil. Dá para reconstruir, mas que está destruído, lá isto está mesmo. Em outras palavras, por essas e por outras é que nutro por Osmar Terra e mais um magote de celenterados um desprezo de fazer explodir a urna em que faria recall de seu mandato...

Osmar Terra? Isto é bicho da terra? Mais me parece um nefelibata, intrinsecamente reacionário e com um grau de confiança em si que já passou do limiar da patologia, paranoia, em particular. Ou muito me engano.

Osmar Terra? Talvez algum dos CCs de sua confiança tenham lido o número 1090 da revista Época, de 29 de maio de 2019, o editorial concernente à matéria de capa:

A MACONHA É TÃO INOFENSIVA ASSIM?
O que dizem os últimos e polêmicos estudos sobre o tema
por Danilo Thomaz e Carolina Brígido.

Vai lá, editorialista, que vou citar apenas o primeiro parágrafo, dedicando-o à plêiade de sinecuristas encabeçadas pelo dr. Osmar Terra e seus funcionários em cargos em comissão:

UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA
   Um terço dos 700 mil brasileiros presos cumpre pena por tráfico de drogas. É um contingente que cresce em ritmo exponencial. A causa disso não está no aperfeiçoamento da competência policial e jurídica do país. Encontra-se, maus uma vez, na capacidade estrutural da sociedade brasileira de maximizar desigualdades.
   Em tese, a legislação estabelece, desde 2006, que o usuário de drogas não deve ser punido com a cadeia - apenas com sanções alternativas, como a prestação de serviços à comunidade ou a participação em cursos educativos. Na prática, por falta de critérios objetivos na distinção entre usuário e traficante, que fica a cargo de policiais, promotores e juízes, grande parcela da população carcerária brasileira enquadrada como traficante é, na realidade, formada por consumidores de drogas ou microtraficantes, geralmente pobres.
   O Brasil precisa reconhecer o fracasso da política de 'guerra às drogas' - como batizada pelo presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan na década de 80 -, com foco na repressão e prisão. em 40 anos, apesar dos bilhões gastos no combate ao tráfico de drogas, o consumo só aumenta.
   Parte considerável do mundo já o fez. em 30 dos 50 estados americanos, por meio de suas leis locais, o porte de drogas para uso recreativo ou medicinal foi descriminalizado. Portugal mudou sua política em 2001. Legalizou todas as drogas para consumo próprio, adotou parâmetros claros para distribuir usuário de traficante e deu ênfase ao tratamento de saúde dos dependentes. de lá para cá, obteve redução do número de mortes por uso de drogas. Em 2018, o Canadá seguiu o mesmo caminho. O Uruguay adotou a política mais radical do mundo. Legalizou não só o consumo, mas também o cultivo caseiro da maconha, e permitiu o comércio em redes de farmácias.
[...]

Mas que fique bem claro: minha posição não se atém ao caso da "saúde pública". Penso precisamente que é preciso um ataque radical à guerra que, de acordo com James Tobin, foi perdida mesmo pelos Estados Unidos: aceitar o conceito de consumo recreativo de drogas leves e controlar e tratar o uso de drogas pesadas. Os resultados apareceriam num just like that de deitar por terra... o Osmar Terra!

DdAB
P.S. Por que começo a ler a revista Época? Pois os incompetentes da Carta Capital, mais enfronhados com a esquerda, só que com a esquerda do século XX (antes de 9.nov.1989), não conseguem fazer um entrega regular da revista ao assinante. Claro que eu podia comprar na banca, da mesma forma que comprei a Época. Mas não o faço por pirraça. E achei esse editorial que me parece um tanto esquerdista.
P.S.S. E houve anedotas por causa meu arrojo. Um dia eu indaguei (pois não sabia) o preço de um baseado. Um futuro economista confrontou-me: "Quanto o senhor tem pago?" À época (sem trocadilho com a revista que ainda não existia) talvez eu não tenha dado a melhor resposta que vim a ler nas páginas amarelas da revista Veja, que entrevistava um professor de medicina oslt do MIT oslt especialista precisamente em adição a drogas. E aí indagaram-lhe: "Já cheirou?" E ele respondeu apenas: "Isto é irrelevante".
P.S.S.S. É preciso ter o focinho escarafunchando na terra para pensar que sou apologista do uso de drogas. Meu problema diz tudo: um imposto indireto calculado com exação, e apenas ele, poderia dar mais combate ao consumo de drogas do que todas as leis que o velho Terra tem encaminhado.

16 maio, 2019

Ontem, Hoje e Amanhã: o voto, a filosofia e o Bolsonaro


Talvez seja a idade (isto que nem fiz aniversário...) que, se não me dá mais sabedoria, brinda-me com mais tolerância. Na verdade, de repente, vim a entender que há duas maneiras irreconciliáveis de pensar a macroeconomia: com estado regulador ou com estado mínimo. Da mesma forma, haverá duas maneiras de classificar as pessoas em termos de sua adesão (consciente ou não) a diferentes filosofias políticas. Neste caso, entendo que estamos falando dos igualitaristas, por oposição aos neo-liberais.

Depois de entender essas divisões perenes no tempo e que também se fazem presentes nos diferentes espaços de nossas vidas profissionais, sociais e familiares, vim a entender -entender, entendeu?- que não sou tão tolerante assim. A verità é que considero que o governo deve implementar políticas econômicas voltadas à promoção do bem comum (empregador de última instância, imposto sobre o cigarro, subsídio à educação, etc.), ou seja, sou um adepto do estado regulador. Da mesma forma, tenho posição clara em favor da sociedade igualitária, considerando ser vital para o futuro da humanidade (obviamente passando pela gestão do meio-ambiente) o rompimento com as posições que defendem o estado mínimo. E vejo dissidências importantes entre colegas de trabalho, nossos vizinhos de rua e nossos familiares.

Nos dias que correm, temo que a posição dominante no Brasil, no Menino Deus e no mundo seja mais favorável àquilo que uns falam em liberalismo na economia e conservadorismo nos costumes. Dada a intolerância a que o que expus anteriormente me lançou, só posso dizer que condeno veementemente essas pessoas, as pessoas que esposam este tipo de posição John Rawls e eu (!) consideramos que o mais importante valor humano é a liberdade ("Todos têm igual direito à mais ampla liberdade compatível com a dos demais indivíduos."). Chego mesmo a esposar a ojeriza ao totalitarismo anunciada por Karl Popper (ver aqui): não podemos transigir com os intolerantes que usam a democracia precisamente para acabar com ela.

Tá na cara que estou falando em geral e especialmente no Brasil contemporâneo e seu bolsonarismo. Ilustro o absurdo da situação com duas referências ao jornal Zero Hora:

No exemplar de ontem, 16 de maio de 2019, li uma carta de leitor na página 4:

VERBAS PARA INSTITUIÇÕES
   Concordo com o corte de verbas para as universidades (ZH, 7/5) [sic], pois as instituições, ao contrário do que afirmam, estão mais preocupadas com suas agendas corporativas do que com a sociedade.
Luiz Serpa
Aposentado - Novo Hamburgo

Gelei, degelei e tornei a gelar. Então o senhor Luiz Serpa pensa mesmo isso? E fiquei imaginando o que ocorrerá se os cortes de verbas forem confirmados. Talvez ele espere mesmo que as preocupações corporativas venham a se desvanecer, em resposta à futura penúria. Por simetria, poderíamos pensar que, se as verbas forem aumentadas, acaba-se a agenda corporativa. Naturalmente, esta visão ácida que confiro à filosofia política (talvez praticada apenas no nível inconsciente) não é nada coerente com minha tolerância com relação à opinião de outrem. Gelei...

Pois a própria capa da Zero Hora de hoje, 16 de maio de 2019, não precisou de mais de 12 palavras para fazer-me degelar e, rapidamente, gelar de novo:

'São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra.'
JAIR BOLSONARO
Presidente, sobre a manifestação

Pero que si, pero que no. As manifestações de ontem foram, claramente contra o governo, "tudo isso que aí está" com atropelos de vários naipes e, lamento dizer, com o apoio de gente do feitio do sr. Luiz Serpa. E, eu que sou lá daquele grupo de filosofia política e economia política, fiquei feliz em ver que a sociedade tem um segmento, o mais promissor, o mais interessado num futuro luzidio, que diz "não", "Ele não!". E que fazer com um cara que venceu as eleições com o voto de 57 milhões de brasileiros? Sou contra o impeachment, esculacho da ordem institucional de que o Brasil é tão carente. E se há esperança de criação de instituições inclusivas mais afeitas à modernidade, esta reside apenas e exclusivamente na educação do povo.

E até lembrei de minha biografia antiga: andei sendo chamado de inocente útil, o que hoje representa um elogio, comparado com a condição de idiota útil, que me parece precisamente o caso do presidente da república: que pensarão as elites pensantes dos países amigos quando essa figura medíocre e mal-assessorada expressa tal opinião sobre a geração futura que hoje está em formação?

Gelei, degelei, tornei a gelar!

DdAB
Peguei a imagem que nos encima do corpo de uma postagem que fiz aqui.

15 maio, 2019

Finnegans Wake: não dá pra ler...


Querido diário:

No livro de Donaldo Schüller intitulado "Joyce era louco?", fui levado a retirar o ponto de interrogação: claro que era louco, muito louco. De minha parte, comecei a esposar esta manière de voir digamos que em 1970, quando adquiri a primeira tradução do "Ulysses" para o português perpetrada por Antônio Houaiss. Trata-se daquele "Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan...". (olhar rodapé ou no motor de busca do próprio blog).

Desde então, venho tomando muitas precauções para não endoidar -myself- com o monte de follies que nosso amigo Jim praticou. Pois, depois de ler o livro de Caetano Galindo intitulado "Sim, eu disse sim..." (lá no rodapé) é que decidi que, além do trio "Dublinenses", "Um Retrato do Artista quando Jovem" e do próprio "Ulysses", eu não leria mais nada escrito diretamente por James Joyce. Pensei em transitar a um mundo formado apenas pelos comentários e comentadores de qualquer obra, mas em particular do "Finnegans Wake", o último romance publicado em 1939. Então estabeleci um programa de trabalho, ou programa de lazer, sabe-se lá:

.1 ler o verbete da Wikipedia (aqui em inglês e um verbetinho em português)
.2 ler os trechos pertinentes aos anos da composição do romance ("Finnegans Wake", por supuesto) na biografia escrita por
ELLMAN, Richard (1982) James Joyce. 2 ed. Barcelona: Anagrama. [Por razões antibibliográficas, a macacada barceloneta não traduziu o índice analítico do original em inglês].
.3 ler o livro
AMARANTE, Dirce Waltrick (2018) Finnegans Wake (por um fio). São Paulo: Iluminuras.
.4 ler o livro
AMARANTE, Dirce Waltrick (2009) Para ler Finnegans Wake. Sâo Paulo: Iluminuras.
.5 declarar-me livre para ler o que bem entender nesta linha de perkiza [e, pelo jeito, já fui contagiado pelas loucuragens do irlandês, pois acabo de inventar a palavra perkiza, que é, como sabemos, derivada de perquirir e pesquisar].

Nesta linha de influência rebelde, voltei a escrever na língua do JLM (de "Joyce era louco mesmo"): jistoleler é repetunterpretar, ou seja, ler é interpretar, mas, interpretei mal?, ouvir também é interpretar.

Em continuação, vou revelando meu desagrado com o título usado na tradução dos irmãos Campos publicada em 1962 intitulada "Finnicius Revém" que terminou na tradução de Donaldo Schüller intitulado "Finnegans Wake/Finnicius Revém". Pois não fui longe e logo nas primeiras páginas do primeiro capítulo da vida em Paris de James Joyce e família, achei por bem (ou acharam que eu achasse) traduzir a encrenca como "Os Rastros da Família Finnegan", que também poderia ser "O Despertar da Família Finnegan" ou, ao contrário, "O Velório dos Finnegans". Escolhi "O Despertar dos Finnegans". E por que o plural? A respeito dos Finnegans e não os Finnegan, reporto-me a Érico Veríssimo, que falava nos Silvas, nos Souzas, e por aí vai. Primeiro, declarei Érico um vassalo do imperialismo americano. Mas depois então entendi que o adjetivo concorda com o substantivo: se o artigo está no plural, então é porque o substantivo é que estava.

De onde veio o Finnegan? Sabemos que, nas páginas 605-6 do livro de Ellman que acabo de referenciar,

[...] Quando o escultor August Suter lhe perguntou o que estava escrevendo [depois de verem o Ulysses publicado], respondeu com sinceridade 'É difícil dizer'. 'Pois então qual é o título?'. 'Não sei. É como uma montanha  em que estou fazendo túneis em todas as direções, sem saber o que vou encontrar'. Na verdade, ele já sabia o título, e o contara a Nora [esposa de James] como um segredo [e nesse período se referiam ao livro como "Work in Progress"]. Seria Finnegan's Wake, com o apóstrofo entre o 'n' e o 's' suprimido porque significava , de sua parte, a morte de Finnegan e o ressurgimento dos Finnegan. O título era o de uma balada falando de um homem que carrega uma vasilha e que cai de uma escada. Supõe-se que morre em consequência da queda, mas no velório o cheiro do whisky o ressuscita, Sob esse tipo de pedreiro [?] irlandês, tinha um protótipo irlandês mais velho, Finn MacCumhal, o herói e sábio legendário. Joyce informou posteriormente a um amigo que concebia o livro como o sonho do velho Finn que encontra-se morto ao lado do rio Liffey e vê a história da Irlanda e a do mundo fluir -passado e futuro- por sua mente como se se tratasse de destroços [?] flutuando no rio da vida. Mas isto talvez tenha sido apenas para indicar que não era o sonho de nenhum dos personagens centrais do livro, [...]

Então: antes do livro de Joyce já havia uma canção (balada) intitulada Finnegan's Wake. O carinha que morre e ressuscita se chama Timothy (Tim) Finnegan. A certa altura do original citado por Ellman, lemos "[...] So they carried him home his corpse to wake [...]". Ou seja, se o neguinho morra de uma queda, quebrando o quengo, aquele corpse estava sendo velado e não acordado. Claro que uma das razões que minha psicanálise do velho Joyce aponta como responsável pela escolha daquele título é precisamente o fato de que "wake" é um termo equívoco, isto é, tem mais de um significado.

Dada a arbitrariedade que percola toda a obra e biografia dele, Joyce, dos comentadores e a minha própria, decidi-me por "O Despertar dos Finnegans", tendo bem claro, dado o que não li, tratar-se da família formada pelo casal Humphrey Chimpden Earwicker e Anna Livia Plurabelle e seus filhos Schem, Shaun e Isobel (Issy). De minha parte, sigo me atrevendo a ousadias novelescas. Parece-me que o nome Humphrey está tudo normal, mas aquele Chimpden cheira-me a um chimp, um chimpanzé e aquele Earwicker também me parece com um ouvido doentio, algo assim. Anna está ok, Lívia, também. E aquele Plurabelle não parece uma ode às belezas plurais da ragazza?

A tradução daquele 'wake' como velório ainda esbarra no que acabo de aprender ao dar umas olhadas no livro de 2018 de Dirce Waltrick do Amarante. O livro dela tem uma introdução assinada por Patrick O'Neill (who?) que, na página 13, diz:

[...] Se a palavra francesa fin significa 'fim', o termo latino negans, entretanto, significa 'negando', e isso sugere que o que pode parecer um fim pode também na verdade ser um novo começo. As referências cruzadas nas duas palavras do título, a findar e começar, a morte e ressurreição, a adormecer e despertar, a heróis do passado e urgências atuais são geradas por um conjunto de trocadilhos interligados - uma forma de jogo de palavras cômico considerado por críticos sérios de uma geração anterior como uma das formas mais baixas de humor. 

Pois então: mais razões para não pensarmos que Joyce estava inequivocamente rememorando o velório. E, sendo mesmo verdade, que o próprio Joyce falava no livro como expressão de sonhos, tá na cara que morto não sonha, velório não abriga sonhos do do caixão... Ao mesmo tempo, ele concebeu o título do livro tanto tempo antes da publicação que não posso descartar a hipótese de que ele se valeu precisamente do duplo sentido daquele wake para valorizar a desventura e reaventura de Tim Finnegan, parodiando-o com a família Earwicker.

Alonguei-me. Alongo-me um tanto mais a fim de concluir. Em mais de uma postagem deste blog, comparo a primeira sentença do Ulysses entre as diferentes traduções que constituem minha coleção dessa obra. Parece evidente que devo fazer o mesmo com o Finnegans Wake, o que, a rigor, pelo que agora sei, parece impossível. Então voltemos a olhar a imagem que nos ilustra hoje. Retirei-a da Wikipedia brasileira, tratando-se da primeira frase. Mas, diferentemente do Ulysses, cuja primeira sentença é meu objeto de estudos, aqui no Finnegans Wake vou ater-me apenas à primeira palavra (se é que aquilo é palavra...): riverrun. A melhor tradução pareceu-me ser a de Dirce Waltrick do Amarante. E foi a partir daí que decidi ler os dois livros dela. Com efeito, entre aqueles portentosos intelectuais tradutores, preferi a da professora da UFSC: correorrio. Em outras palavras, já li o suficiente: Joyce era mesmo louco! Com isto, declaro-me integrando o grupo de comentadores que se recusam a ler a crux of the matter. E, em breve, retornarei a ela (a matter...), sem prejuízo de novas reflexões sobre o Ulysses, outras tantas sobre notícias boas ou más do jornal Zero Hora, repercussões de publicações de amigos no Facebook e, finalmente, motto próprio.

DdAB
P.S. Página 9 do Houaiss, primeira sentença: Sobranceiro, fornido, Buck Mulligan vinha do alto da escada, com um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha..
P.S.S. GALINDO, Caetano W. (2016) Sim, eu digo sim; uma visita guiada ao Ulysses de James Joyce. São Paulo: Companhia das Letras.
P.S.S.S. E a referência do livro do Donaldo está aqui:
SCHÜLLER, Donaldo (2017) Joyce era louco? Cotia: Atelier,

13 maio, 2019

O Ministro Moro é Mimimi


Então era mesmo golpe!

O Presidente Bolsonaro declarou, e o jornal ZH de hoje publicou, que o Ministro Sérgio Moro está cotado para receber -dele, Bolsonaro- uma indicação para a primeira vaga que surgir no supremo tribunal federal (o das lagostas e champanhas). Talvez fosse apenas mimimi, mas já sabíamos que "Juiz Moro é oximoro". Agora sabemos que foi golpe, que Moro foi aconchavado para ajudar a derrubar Dilma, para prender e arrebentar nas vésperas da eleição de 2018, o que favoreceu a eleição do velho Pocket.

Diz Zero Hora na capa da edição de hoje:

Capa:
COMPROMISSO PRESIDENCIAL - Moro irá para o STF na 'primeira vaga que tiver', diz Bolsonaro. Titular da Justiça e da Segurança deve ser indicado para o lugar do decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, que, em novembro de 2020, completa 75 anos, idade de sua aposentadoria compulsória.

Página 9:
Bolsonaro afirma que irá indicar Moro ao Supremo. MINISTRO DA JUSTIÇ assumiria vaga na Corte no finaldo próximo ano, quando o decano Celso de Mello atinge idade de aposentadoria obrigatória
Em entrevista ontem à Rádio Bandeirantes, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que assumiu compromisso com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, de indicá-lo para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
-Fiz um compromisso com ele, ele abriu mão de 22 anos de magistratura. A primeira vaga que tiver lá (no STF) [sic], estará à disposição. A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromisso e, se Deus quiser, cumpriremos esse compromisso. O Brasil inteiro vai aplaudir - disse Bolsonaro em entrevista ao program do jornalista Milton Neves.
[...]
Moro fui anunciado como ministro da Justiça no início de novembro do ano passado, poucos dias depois de confirmada a vitória de Bolsonaro no segundo turno das eleições.
[...]

Pois agora é que começa. No mural do Facebook de Jorge Ussan, lemos:

Até as carpas do lago do Palácio do Planalto já sabiam, mas agora é oficial: a recompensa do Moro é uma vaga no STF.
Foi Golpe sim.

Houve diversos comentários, inclusive de um finado amigo... Destaco o meu:

-Foi golpe!

Também destaco -tem tudo a ver com meu tema desta postagem- o da sempre vigilante Aniger de Oliveira:

-E crime.

E ela -Aniger- justificou seu julgamento sobre a seriedade do assunto reproduzindo o comentário de Robson Leite:

A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas sorrindo, texto

Que podemos dizer? Aquele senador de então, o sr. Romero Jucá, disse a frase que virou provérbio. Iniciou dizendo ser necessário "estancar a sangria" provocada no patrimônio dos políticos pela operação Lava-Jato, coordenada -você já andou adivinhando por quem, né?- pelo mesmíssimo juiz Moro! E mais ainda: vemos no site G1.Globo (aqui):

Na sequência, Machado destaca que é preciso "botar o Michel num grande acordo nacional".
"Com o Supremo, com tudo", enfatiza o ministro.
"Com tudo, aí parava tudo", concorda Machado.

Que fiz eu sobre o artigo que meteria o jovem Moro na cadeia por, em média, 4,5 anos? Procurei no prosaico Google: "código penal art. 317". E que achei? Um site de respeito: aqui. Eu disse "meteria", pois seria mais fácil eu ganhar aqueles R$ 285 milhões da mega-sena de ante-ontem do que o Moro ir para o xilindró...

Foi golpe, sim!!!

DdAB
P.S. Tal qual mala de louco, pulei entre o blog e o Facebook. Acabo de escrever isto lá:  Ao ler o jornal hoje cedinho, fiquei estupefato com a notícia. Minha previsão sempre foi que Sérgio Moro nem termina o mandato como ministro. E, no caso, não viraria ministro... ou seja, ministro do executivo e ministro do judiciário (o das lagostas e champanhotas). E o que viraria o indigitado? Acho que vai direto para uma universidade média americana contratado como professor.
Mas apenas decidi documentar minha estupefação depois de ler a postagem de Jorge Maia Ussan (Foi golpe, sim!)e o comentário (E crime.) de Aniger de Oliveira. Moral da história, Moro não é totalmente moral e "juiz Moro" sempre foi, é e será mesmo um oximoro...

09 maio, 2019

Imperialismo Reverso: memórias deletáveis

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Querido diário:

Há instantes lembrei de um episódio ocorrido nos primórdios da FEE (Fundação de Economia e Estatística, criminosamente fechada no governo de José Ivo Sartori, coadjuvado que foi pelo trio de detentores de cargos em comissão oslt: Carlos Búrigo, Cleber Benvegnú, Márcio Biolchi).

Eram bons tempos, digamos que 1974, tempos inseridos no período militar, mas ainda assim comparado com a perseguição hoje encetada pelo governo, parece que aqueles tempos eram culturalmente menos sombrios que os da negadinha bolsonarista. Se não exagero, o que é provável, pois acabo de denunciar o obscurantismo do governo Sartori (2015-2018). Em 1974 governava o estado sulino o sr. Euclides Triches e a FEE dava seus primeiros passos.

Nesta linha foi contratado um, se bem lembro, geógrafo americano, um coroa, digamos, de seus 55 anos de idade, para desenvolver algum trabalho, digamos, geográfico. Pois certo dia, o dr. Brian estava precisando fazer uns cálculos nas raras máquinas modernas do acervo da FEE. Originário do centro do imperialismo mundial, ele era menos versado nos cálculos de uma Toshiba, Sharp, sei lá. E pediu instruções: "como faço para limpar o visor?" Numa adaptação/reversão do conhecimento importado, a então srta. Ana Altmayer disse-lhe: "aperte aquela tecla CE/C". E ele disse: "ah, clear". E o fez e deu tudo certo em suas contas e no desenvolvimento do capitalismo nos trópicos.

DdAB

08 maio, 2019

Um Governo Fraturado (e um jornal também)

Resultado de imagem para A gradual deterioração [do governo Bolsonaro] se origina na percepção de que o presidente ainda não tem noção da envergadura, dimensão e responsabilidade de seu cargo.

O jornal que, por razões as mais variadas, chamo de Zerro Herra tem em seu editorial de hoje precisamente o título de minha postagem: um governo fraturado. E sua chamada para o texto é:

A gradual deterioração [do governo Bolsonaro] se origina na percepção de que o presidente ainda não tem noção da envergadura, dimensão e responsabilidade de seu cargo.

Fiquei pensando:

.a o presidente é mesmo um sem noção

.b a percepção de que ele atende ao preceito do item .a. é que não precisava ser gradual, pois eu avisei há anos. E o jornal -e boa parte de seus jornalistas- fez escandalosa campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff e outra também razoavelmente desabotinada apoiando a candidatura desse rapaz que não avaliou (não dimensionaram, diria eu, dada o volume da negadinha que o apoiou na eleição e mesmo no crédito daqueles tradicionais primeiros 100 dias) a envergadura, a dimensão e a responsabilidade.

DdAB

05 maio, 2019

Marx e Certas Datas Comemorativas


O texto "Segue-se logicamente que hoje se completam 201 anos do nascimento de Karl Marx!" publiquei-o hoje no Facebook. Karl Heinrich Marx, que faleceu em 18 de março de 1883.

Então temos:

1818 - nascimento de Karl Marx, criando precedentes numerológicos para o número 18 e seu final 8

1838 - Auguste Cournot publicou seu paper sobre a formação do preço (e da quantidade) num duopólio de custo marginal nulo. Como bem lembramos, a turma costuma chamar o equilíbrio de Nash de Cournot-Nash, pois dizem que tá tudo explicadinho no artigo de 1838. A este arrazoado, prometi no bar levar uma obra (inédita?) de Aristóteles em que mostra exatamente o que é o equilíbrio de Nash num dilema de prisioneiro. O ajuste se dá por meio das reações com as quantidades vendidas.

1883 - falecimento de Marx, como acabei de referir. E também o ano em que Joseph Bertrand publicou seu artigo de resenha bibliográfica em que mostra a solução de equilíbrio (de Nash) em outro duopólio em que o ajuste se dá por meio da reação nos preços.

Em resumo, eu conhecia de cor essas datas de 1838 e 1883 por causa dos teoremas de Cournot e Bertrand. Ao associar aquele 1883 com o passamento de Marx e o nascimento naquele 05.05, então pulei direto ao 18 18 e vi que tudo fazia o maior sentido. Segue-se logicamente...

DdAB

01 maio, 2019

Ovo e Galinha: treinamento ou legislação

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A economia brasileira é um desastre. E isto não é de hoje, não é do governo Bolsonaro, que os diabos o traguem, é governo plural, todos os governos, todos os cargos em comissão dos governos recentes. É desde sempre, um país de analfabetos. Vivemos num país de iletrados, num país em que as inovações produtivas e organizacionais voltadas a elevar a produtividade do trabalho, a renda per capita e todo o resto rastejam. Destaco especialmente a sideral escassez na provisão de bens públicos (esgotos [sempre eles, hehehe] e segurança) e bens meritórios (educação, saúde).

E o entendimento de um número expressivo de economistas, turma dividida, é -por pirraça vou citar- a ilusão de que a indústria 4.0 pode anteceder os serviços industriais de utilidade pública (destacando os esgotos)- que a legislação trabalhista é entrave aos ganhos de produtividade. Há anos venho dizendo que, num país de analfabetos, os verdadeiros vilões de um crescimento da renda não mais que rastejante é mesmo a incapacidade de implantação de inovações produtivas, organizacionais e financeiras.

Pois, contrariamente ao que penso, li hoje na Zero Hora a manchete desdobrando o título do editorial:

UM NOVO DIA DO TRABALHO
O grande desafio para as instituições brasileiras é entender e se adaptar a esta nova realidade, em flagrante contraste com um modelo trabalhista erguido no século passado

Claro que parei de ler, ao pensar: que poderia eu aprender com essa macacada? A rigor o que aprendo é mesmo pensar criticamente em tudo o que eles falam, naquele mundo em que dar provas de estar à direita é a ambição fundamental dos jornalistas contratados. E imagino que o editorialista não chegou nem mesmo perto do livro de Acemoglu e Robinson, que citei e comentei no outro dia:

ACEMOGLU, Daron e ROBINSON, James (2012) Por que as nações fracassam; as origens do poder, da prosperidade e da riqueza. Rio de Janeiro: Elsevier Campus.

Como sabemos, esses dois professores falam das instituições inclusivas e das extrativistas e da presença de inovação na economia nacional. Claro que o Brasil é lotado por instituições extrativistas, que comportam um ideário anti-igualitarista e de baixa adesão aos padrões de honestidade e alta impunidade. País que não tem educação (e, antes dela, precisaria ter esgotos...) jamais poderá criticar as instituições existentes e, menos ainda, criar novas, mais afeitas ao progresso e à democracia. Sem estudo não há inovação. E sem inovação não existe progresso perene. O Brasil é uma prova de até onde a sociedade desigual pode levar: 30 ou 40 anos de crescimento rastejante.

DdAB
A imagem lá de cima é minha homenagem neste dia do trabalho aos injustiçados migrantes italianos para os Estados Unidos Ferdinando Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti .
P.S. quando os rapazes do jornal querem mudanças nas leis, eu sigo propugnando pelo treinamento, não é isto?