19 junho, 2018

A Copa do Mundo e a Vocação Estelar do Brasil


Querido blog:

Quando eu estava de saída de meu emprego no Programa de Pós-Graduação em Economia da PUCRS, estava entrando, migrando para o Rio Grande do Sul o professor Cadu Lobo. Passaram-se os anos e, em 24 de junho de 2017, ele escreveu esta bela crônica em seu mural no FaceBook. Há dois dias, vi este escrito. E o guardo aqui, para minha posteridade. Para as demais copas do mundo que me foram dadas a ver. Para eu reler quando abater-me aquele pessimismo que às vezes toca a todos os corações dos brasileiros que se declararão também responsáveis pela vitória, pelo hexacampeonato. Por sinal, sou campeão desde 1958, ouvindo o jogo -final, presumo- em pleno rádio, talvez a Rádio Bandeirantes ou uma repetidora local, em Campo Grande do Matto Grosso. Depois, voltei a ser campeão em 1962, e mais uma vez em 1966, outra em 1970, outra em 1974, mais uma em 1978 e outra em 1982. Depois venci novamente em 1986 e 1990, além de 1994. Veio o 1998, nova e retumbante vitória, seguindo-se de 2002: vitória. Aí rapidamente acumularam-se vitórias em 2006, 2010, 2014 e agora já vou-me declarando vitorioso.

A derrota de 7x1 para a Alemanha, em pleno Minerão, é vista pelos brasileiros como uma grande vergonha nacional. Não me parece ser o caso.
Qual o grande campeão da história? Não há dúvida em lugar nenhum do mundo: no futebol, o Brasil é o maior vitorioso do planeta. Os títulos provam a nossa superioridade. O Pelé também prova.
Mas não paramos por aí: o Brasil é o líder do futebol mundial nas vitórias e nas derrotas! Sim: ninguém perdeu de maneira tão espetacular quanto o Brasil. Arrisco a dizer que em todos – ou em quase todos – os grandes momentos da história do futebol, a seleção brasileira estava lá, vencendo ou perdendo de forma espetacular.
O futebol sem o Brasil se tornaria quase tão sem graça quanto o cricket.
O feito de perder de 7 a 1 diante de sua torcida em uma semifinal de Copa do Mundo só poderia ser do mesmo país que, contando com um escrete mágico, super favorito, tomou uma virada em pleno Maracanã em uma final de Copa inacreditável, que marcou o futebol e fez chorar uma geração inteira por décadas. O Maracanazo não ganhou um nome atoa. Talvez estejam ali os 45 minutos mais dramáticos da história do futebol.
Sofremos uma goleada arrebatadora em outra final de Copa, e que não veio sozinha, mas acompanhada de uma tragédia, um drama sem precedentes: o melhor jogador do mundo teria sofrido uma convulsão horas antes da peleja. Se drama pouco é bobagem, escalaram o craque convulsionado, e todos os nossos jogadores olhavam a bola e Ronaldo, que poderia cair a qualquer momento, tremendo e babando na grande área do adversário. Em plena final de Copa do Mundo.
Será que alguma seleção encantou tanto o planeta sem ter chegado a uma semifinal? A nossa de 82 caminhava em direção à glória eterna. Nossos jogadores encantavam e pareciam acreditar que gol feio não valia. Mas um único adversário, um único indivíduo mudou o destino de um elenco, uma filosofia, uma geração - fez três gols nos mágicos canarinhos. Enterrou a glória e criou o drama. O mundo, até hoje, venera o Brasil de 82. Mas venera também justamente pelo drama.
Sem dizer da luta incansável do Zico, quatro anos depois, para ajudar o Brasil, apesar do grave problema no joelho. Chegou à Copa como um herói do talento e da dedicação. Entrava durante as partidas - pela metade - e resolvia! Nosso craque, nosso ídolo, nossa esperança. Assim que entrou em campo, durante o difícil jogo contra a França, fez um lançamento primoroso para o Branco, que foi derrubado dentro da área. Em poucos minutos, Zico criou o caminho da vitória. O mesmo caminho que, minutos depois, marcaria dramaticamente a sua carreira.
Imaginem o futebol apenas com Argentina, Rússia e Nova Zelândia. Com todo respeito, imaginem as Copas com Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos.
Desculpem, mas a beleza das Copas se apoia no Brasil. Uma seleção que encanta, que vence como ninguém, com brilho e espetáculo. Que vence mais do que qualquer outra. E que, a cada derrota, enriquece a galeria dos grandes momentos do esporte, com drama e passionalidade.
Os 7 a 1 apenas confirmam o óbvio: sem o Brasil, o mundo estaria assistindo à NBA.
Rumo a mais um espetáculo em 2018!
Isso foi o que nos disse Cadu. Vejamos agora o que diremos, pois a bola de futebol está em nossas mãos. Eu alerto, de qualquer jeito, que "seleção brasileira" não é sinônimo de "República Federativa do Brasil, nem mesmo de Estados Unidos do Brazil".

DdAB

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