Querido diário:
No outro dia, o prof. Adalmir Marquetti fez uma devastadora análise da economia brasileira lá em seu Facebook. "Compartilhei-a" com minha gente. E agora escrevi por lá:
Disse-nos o prof. Adalmir:
Ou melhor, direi coisas que não estavam na agenda dele para falar, claro. Mas que têm a ver com uma das questões centrais das economias monetárias (e talvez de todas as demais). E diz respeito às razões para se desejar crescimento da produtividade do trabalho.
Com maior produtividade, produz-se mais com os mesmos recursos, ou o mesmo com menos recursos. O lado alegre é que se economiza trabalho.
Mas o lado trágico é que, num sistema econômico com regras distributivas abiloladas, menos emprego significa menos renda. As legiões de desempregados que vivem no mundo foram excluídas da distribuição do excedente econômico. Mas não precisariam ter sido, se as regras distributivas fossem diferentes, se não seguissem estreitamente as sinalizações do mercado de trabalho (tão imperfeito quanto todos os demais).
Mas tem outro lado alegre, se desconsiderarmos a questão do desemprego. E este lado alegre diz respeito ao destino dos ganhos de produtividade. Temos três opções usadas isoladamente ou em conjunto:
.a. distribuição aos trabalhadores via maiores salários
.b. distribuição aos capitalistas via maiores lucros
.c. distribuição aos consumidores (finais ou de insumos) via menores preços.
Por hoje é só. Vou lá olhar se meu zapzap já voltou, hehehe.
(Esta 'foto' é um gráfico de minha tese de doutorado: relação entre os preços industriais e a produtividade do trabalho no Brasil nos anos 1970, os velhos anos 1970, da ditadura, do milagre, do tricampeonato de futebol, de minha sagração como economista, meu primeiro emprego e da incompetência do poder judiciário, no caso, ontem, hoje e amanhã)
DdAB
Com maior produtividade, produz-se mais com os mesmos recursos, ou o mesmo com menos recursos. O lado alegre é que se economiza trabalho.
Mas o lado trágico é que, num sistema econômico com regras distributivas abiloladas, menos emprego significa menos renda. As legiões de desempregados que vivem no mundo foram excluídas da distribuição do excedente econômico. Mas não precisariam ter sido, se as regras distributivas fossem diferentes, se não seguissem estreitamente as sinalizações do mercado de trabalho (tão imperfeito quanto todos os demais).
Mas tem outro lado alegre, se desconsiderarmos a questão do desemprego. E este lado alegre diz respeito ao destino dos ganhos de produtividade. Temos três opções usadas isoladamente ou em conjunto:
.a. distribuição aos trabalhadores via maiores salários
.b. distribuição aos capitalistas via maiores lucros
.c. distribuição aos consumidores (finais ou de insumos) via menores preços.
Por hoje é só. Vou lá olhar se meu zapzap já voltou, hehehe.
(Esta 'foto' é um gráfico de minha tese de doutorado: relação entre os preços industriais e a produtividade do trabalho no Brasil nos anos 1970, os velhos anos 1970, da ditadura, do milagre, do tricampeonato de futebol, de minha sagração como economista, meu primeiro emprego e da incompetência do poder judiciário, no caso, ontem, hoje e amanhã)
DdAB
A foreig friend asked what is happening in Brazil. Here is my answer to him.
“The political situation is very difficult in Brazil. A structural capitalist crisis always resulted in changes in the Brazilian political life. It happened in the 1930s, in the 1970s and it is happening now.
There is a combination of economic and political crisis. The profitability is declining in the Brazilian economy since 2007. It resulted of the international crisis with declining price of commodities and rising real wage above labor productivity, an economic policy advocated by PT.
The Brazilian government was not able to understand the crisis of the neoliberal capitalism. Dilma government adopted a series of economic stimulus to the private capital accumulation in a period of rapid declining profitability. The private sector did not invest and the growth rate declined substantially in her first government.
The result was a deterioration of the fiscal situation. After the 2014 election, Dilma selected a very neoliberal economist for the “ministério da Fazenda”. He reduced the fiscal spending, raised the interest rate, allowing increases in prices comanded by the government, while the exchanged rate was devaluated. The result was a disaster, a combination of high inflation rate (almost 10%) and negative growth rate (-3.7% in 2015). The expected fall in GDP for 2016 is 3.5%.
Combined with this economic situation, there is the “Lava Jato”. It is the investigation about corruption during the PT government. Its goal is to eliminate the credibility of PT and Lula. The corruption is mainly associated with the contracts with Petrobras. Part of the money of the contracts went to the political parties that supported the Lula and Dilma governments. Most of these parties are from the right. These parties are now supporting the impeachment of Dilma. The investments of Petrobras were responsible for about 10% of total investments in Brazil. It declined to almost zero.
Dilma must left the presidency next week when the impeachment process will be accepted by the senate. The new government will attach the workers’ rights and will privatize. Brazil will have Full Neoliberalism Phase II.
Brazilian workers will have tough times ahead.”
E eu acrescentei:
O professor Adalmir deu um show! Vejo uma crítica sensata sobre a política econômica. Destaco um elemento óbvio que, naturalmente contraria a o "pensamento econômico do senador Paulo Paim". Falo da crítica de Adalmir aos aumentos do salário mínimo despidos de iguais aumentos da produtividade do trabalho. E acho que a encrenca é até pior, pois como é que poderia algo deste jaez dar certo, se o salário mínimo brasileiro não é apenas salário de trabalhadores, mas também transferência de aposentados?
E depois:
E depois:
Ricardo Holz: O q sao regras distributivas abiloladas?
Duilio De Avila Berni: É Ricardo: as regras distributivas sensatas, por contraste às abiloladas, procuram organizar a distribuição da renda de sorte a não criar grandes desníveis do consumo per capita da população. Para tanto, entendem que existe uma distribuição primária feita pelo mercado de trabalho e outra distribuição secundária, dada pelas relações interinstitucionais, como é o caso da cobrança de impostos diretos por parte do governo às famílias e o pagamento de transferências destes para essas.
Vinicius Valent: Se uma maior produtividade do fator trabalho fosse oriunda da educação - ou até mesmo de um treinamento que prestasse - essa construção analítica se aproximaria da complexa realidade que vivemos. Porém, quando se fala em produtividade, sob a óptica dos empresários, falamos em mais chicote.
Duilio De Avila Berni: É Vini: o aumento da intensidade do capital por trabalhador é a maior fonte do crescimento da produtividade no Brasil. Mas não podemos negligenciar a educação e mesmo o chicote (figurado). O certo é que as "folgas organizacionais" requerem uma solução criativa (cooperação, de preferência, em detrimento do 'chicote') para serem superadas. Claro que, dado certo tamanho do mercado (da empresa), quanto mais racionalmente for organizada a empresa, maior será sua produtividade e, como tal, menor será seu nível de emprego.
Vinicius Valent: Se uma maior produtividade do fator trabalho fosse oriunda da educação - ou até mesmo de um treinamento que prestasse - essa construção analítica se aproximaria da complexa realidade que vivemos. Porém, quando se fala em produtividade, sob a óptica dos empresários, falamos em mais chicote.
Duilio De Avila Berni: É Vini: o aumento da intensidade do capital por trabalhador é a maior fonte do crescimento da produtividade no Brasil. Mas não podemos negligenciar a educação e mesmo o chicote (figurado). O certo é que as "folgas organizacionais" requerem uma solução criativa (cooperação, de preferência, em detrimento do 'chicote') para serem superadas. Claro que, dado certo tamanho do mercado (da empresa), quanto mais racionalmente for organizada a empresa, maior será sua produtividade e, como tal, menor será seu nível de emprego.
Felipe Vasconcellos: Nao poder-se-ia distribuir renda atraves da repartiçao de 25% do lucro bruto das empresas com seus empregados??? Parcela variavel da renda, pois salario eh rigido.... Assim os empregados podem participar e sentir as flutuaçoes economicas....
Duilio De Avila Berni: É Felipe: Acho que existem leis mais perenes regendo o mercado do que as regulamentações (embora, por exemplo, salário mínimo, folga semanal, férias, essas coisas). No Brasil, os trabalhadores detêm cerca de 40% do PIB, o que por si só é uma vergonha, pois boa parte dos 60% restantes é capturada pelo governo na forma de impostos indiretos (o que distorce o sistema de preços e atua regressivamente sobre o nível de consumo da turma). Numa economia como a da antiga Iugoslávia havia formas de participação na linha que referes, mas que não conseguiram salvar o caos que se abateu sobre as regiões constituintes (by the way, nunca estudei bem o caso da ruína socialista por lá).
Ricardo Holz: Hmmmmm. Porque nao comprar acoes das empresas? A maioria das SAs distribuem acoes nas RVs dos altos cargos
Ricardo Holz: Um duvida: se o lucro fosse pago com emissao de acoes da empresa, sera que grande parte dos empregados nao venderia a acao para obter o lucro imediato ao inves de ter todos os anos?
Duilio De Avila Berni: É Ricardo: estamos, claro, falando de blue collar, e não de dirigentes, não é mesmo? Neste caso, empresas que oferecem ações a eles contrariam o modelo abilolado, lógico. De qualquer jeito, ao vender as ações, o trabalhador estará realizando ganhos financeiros, experimentando variações alheias ao PIB e, como tal, à distribuição funcional. Imagino que as ações distribuídas como participação nos lucros, a exemplo do INSS e FGTS entrariam como 'salários' (no caso do IBGE, 'remuneração dos empregados').
Ricardo Holz: Concordo [Emoticon like]
[DdAB: oba! e não sei um emiticon like aqui]
Duilio De Avila Berni: É Felipe: Acho que existem leis mais perenes regendo o mercado do que as regulamentações (embora, por exemplo, salário mínimo, folga semanal, férias, essas coisas). No Brasil, os trabalhadores detêm cerca de 40% do PIB, o que por si só é uma vergonha, pois boa parte dos 60% restantes é capturada pelo governo na forma de impostos indiretos (o que distorce o sistema de preços e atua regressivamente sobre o nível de consumo da turma). Numa economia como a da antiga Iugoslávia havia formas de participação na linha que referes, mas que não conseguiram salvar o caos que se abateu sobre as regiões constituintes (by the way, nunca estudei bem o caso da ruína socialista por lá).
Ricardo Holz: Hmmmmm. Porque nao comprar acoes das empresas? A maioria das SAs distribuem acoes nas RVs dos altos cargos
Ricardo Holz: Um duvida: se o lucro fosse pago com emissao de acoes da empresa, sera que grande parte dos empregados nao venderia a acao para obter o lucro imediato ao inves de ter todos os anos?
Duilio De Avila Berni: É Ricardo: estamos, claro, falando de blue collar, e não de dirigentes, não é mesmo? Neste caso, empresas que oferecem ações a eles contrariam o modelo abilolado, lógico. De qualquer jeito, ao vender as ações, o trabalhador estará realizando ganhos financeiros, experimentando variações alheias ao PIB e, como tal, à distribuição funcional. Imagino que as ações distribuídas como participação nos lucros, a exemplo do INSS e FGTS entrariam como 'salários' (no caso do IBGE, 'remuneração dos empregados').
Ricardo Holz: Concordo [Emoticon like]
[DdAB: oba! e não sei um emiticon like aqui]
Carolina Dias: Como é bom te ler! Quanta saudade da academia! Coisa boa!
Duilio De Avila Berni: Carol: e eu em lembrar de ti, de nossos tempos de pesquisadores associados! A primeira bolsista de iniciação científica da história recente da PUCRS.
Duilio De Avila Berni: Acabo de ver propaganda na TV dizendo que o salário mínimo cresceu 66 ou 76% nos últimos seis anos. Claro que esta política, associando trabalhadores ativos e aposentados, velhinhas, e pensionistas, só podia dar -zoologicamente falando- com os burros nágua.
Duilio De Avila Berni: De acordo com o modelo V = c + v + m, a maior contradição do capitalismo é que a empresa deseja economizar trabalho vivo, capitaliza-se e dispensa mão de obra, ou seja, eleva sua produtividade. Ao elevá-la, o funcionamento da lei do valor (e a regularidade empírica vista mesmo na abilolada economia brasileira entre preços e não valores) faz com que os preços caiam, fazendo também os lucros caírem.
Duilio De Avila Berni: De acordo com o modelo V = c + v + m, a maior contradição do capitalismo é que a empresa deseja economizar trabalho vivo, capitaliza-se e dispensa mão de obra, ou seja, eleva sua produtividade. Ao elevá-la, o funcionamento da lei do valor (e a regularidade empírica vista mesmo na abilolada economia brasileira entre preços e não valores) faz com que os preços caiam, fazendo também os lucros caírem.
Mas quero dizer outra coisa: aparentemente a melhor coisa do mundo é trabalharmos menos. Com os ganhos de produtividade dos últimos, digamos 1.000 anos, bem que poderíamos fazê-lo, mas esta é a maior razão que me leva a falar no abilolamento do mercado de trabalho. E de quebra, entra a ideologia da negadinha que recusa-se a aceitar que as variações no valor adicionado (não estou falando no 'valor') são função do tamanho da população (esta tonteia até o Adalmir e, de cambulhada, o Carlos Carlos Henrique Horn).
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