21 maio, 2016

O Lado Alegre da Baixaria


Querido diário:

O título que nos encima é inspirado em "O Lado Alegre da Vida", um filme estrelado pelo velho (hoje em dia) comediante Harold Lloyd. E quero falar de duas razões para alegrar-me: não leio mais os jornais Zero Hora e Correio do Povo. Em compensação, desde o início da semana, comecei a ler o Jornal do Comércio local. E o tempo está passando e não tenho sido capaz de comentar uma notícia da página 25 do exemplar de 19/maio/2016, quinta-feira. Abarcando meia página, vemos uma foto de Joseph Sartori, governador do Rio Grande do Sul, eleito em 2014 com um programa de governo que era basicamente "Vamos ver". E até hoje parece que não está cumprindo, pois ainda não vimos nada. Ou melhor, já vimos tanto descalabro que deixa qualquer um aflito. Por exemplo, acabou a segurança pública, tornou-se moribunda a educação estadual, e temos muitas outras dimensões da administração governamental tremendo mais que manjar branco carrado em trator.

Mas não é que José Ivo Sartori vai adotar uma medida que me levou a pensar bastante sobre a quadratura do círculo e outras quadraturas menos festejadas.

Primeiro parágrafo:
   Aprovado na noite de terça-feira pelos deputados estaduais o reajuste de 8,13% relativo aos vencimentos dos servidores do Tribunal de Justiça (TJ), Ministério Público (MP), Defensoria Pública, Tribuna de Contas do EStado (TCE) e Assembleia Legislativa será vetado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB).

Primeiro comentário:
Parece aquele tipo de encrenca em que os deputados jogam para a torcida e, ao mesmo tempo, legislam em causa própria. Aumento para os funcionários da Assembleia? Isto deveria ser aprovado por plebiscito.

No meio do segundo:
[...] utilizando sua conta no Twitter, o governador justificou o veto, dizendo que 'a reposição pretendida é justa, mas inoportuna. Não está em sintonia com a profunda crise que vivemos', defendeu, dando a entender que a situação dos servidores do Executivo é pior do que as das categorias beneficiadas pelo reajuste, especialmente professores e servidores da segurança pública. 'Se não tenho condições de dar aumento para quem ganha menos, não posso sancionar aumento para quem ganha mais', argumentou.

Segundo comentário:
Parece que o ridicularizado governador é o primeiro a ter algum pensamento decente, rompendo com a escandalosa discriminação que sempre houve entre apaniguados do tribunal de justiça e os rapazes da assembleia legislativa. E estou com ele. Como é que pode um ascensorista de elevador de um daqueles edifícios acarpetados ganhar mais que uma professorinha? Só no país das fábulas.

Quarto parágrafo:
   Na votação que resultou na aprovação dos projetos de reposição salarial, também foi incluída uma emenda, de autoria da bancada do PDT, que garante a retroatividade do aumento das categorias para o mês de janeiro deste ano. A base do governo na Assembleia defendia que o aumento deveria ser retroativo apenas a maio.

Terceiro comentário:
Não há maior desfaçatez que esta de deputados pedirem aumentos retroativos para seus "oficiais de gabinete" e terem os salários indexados a parte dos recebedores das novas prebendas. O PDT, minha gente, é outro partido que merece o oprópio.

Sexto parágrafo:
   Na sessão de terça, quando os parlamentares discutiram a matéria ao longo da tarde e da noite, alguns deputados de oposição acusaram os governistas de votarem a favor do projeto para evitar o desgaste político, porque sabiam com antecedência que Sartori o vetaria.

Quarto comentário:
Considero que não existem propriamente deputados governistas e oposicionistas, pois a divisão é mesmo entre quem está a seu favor e quem está ainda mais a seu favor. Os defeitos apontados pela mais tradicional teoria da escolha pública à ação do governo servem como paradigma para a ação dessa macacada.

E que mais dizer de tudo isto? Aparentemente, se não fosse a vergonhosa penúria das contas públicas do estado do Rio Grande do Sul, não haveria esta atitude sensata do governador. Lamento não nutrir esperança de que a tempestade que se abateu sobre a institucionalidade brasileira não tenha fôlego nem para eliminar políticos suspeitos de crimes dos escalões diretivos da república. Ao contrário, primeiro, bem entendo que o impeachment foi mesmo uma atitude violenta para punir um crime generalizadamente praticado por governantes e, pior, por vingança política olvidando o princípio da gradação das penas: aquilo que nos anos anteriores era "aprovado com ressalvas" foi "reprovado in totum". Cá entre nós, reprovado por um tribunal de contas politizado, por um relator do partido dos pecuaristas local, mas encaminhado para aprovação pelo relator da comissão de orçamento e finanças. E o plenário, até hoje, estou sem saber se votou o parecer do relator ou foi mergulhar direto no canto de Janaína.

DdAB
E a Bela Gil? Imagem que veio do Facebook. E que tal trocar salários altos de meia dúzia de manda-chuvas por salários ligeiramente mais decentes para a grande maioria dos funcionários públicos estaduais? E trocar a indecência dos deputados estaduais pelo fechamento dos estados, indo-se com eles a assembleia, o executivo e o judiciário? Ficamos com associações de municípios, congresso unicameral e judiciário organizado por empresas juniores de faculdades de direito europeias.


Nenhum comentário: