Querido diário:
Nosso admirado colega Róber, dez horas atrás, escreveu o que segue em pleno Facebook:
O que me pergunto é como a ignorância tomou conta do país tão rapidamente. Foi como um furacão. De repente, ficamos dominados e rodeados pela imbecilidade.
Tomei a liberdade de comentar:
É que o grau de educação do brasileiro médio é mais baixo que rodapé de biblioteca. O grau de falsa consciência, por contraste, é mais elevado que os para-raios. E o que me surpreende é que muita gente acha que a política econômica deve ser para promover a indústria e não para promover a escola.
E por que o fiz?
É que sou muito invocado com aquela turma que acha que tratores são capazes, in due time, de produzir engenheiros. Volta e meia, filosofo a respeito por estas bandas. Acho que uma das últimas e mais potentes filosofadas que dei foi ajudada pelo comentário de Carolina da Silva Dias. Sugeri que provavelmente a correlação entre o produto industrial e o grau de desenvolvimento institucional é que leva os incautos a pensarem que o que leva ao crescimento econômico é a industrialização, quando é o patamar mínimo de vida civilizada (baixo nível de infanticídio, uma elite muito do bem cuidadinha, algum sistema de esgoto na comunidade, coleta de lixo, alguma escolarização, essas coisas que dariam outro ensaio do porte do que estamos examinando). Deste modo, os adoradores da indústria culminam por pensar que é mesmo o trator (o telefone celular, o avião a jato) que tem a capacidade de produzir o engenheiro.
Meu ponto de corte com essa macacada é que a verdade verídica testemunha em favor da tese de que é mesmo o engenheiro que faz tratores e não vale o vice-versa. E daí? É que, mesmo antes de setar meu Facebook para ler o mural de Róber Iturriet, eu estava descartando uns papéis sem data (mas -digamos- de cerca de 1982, quando comecei a lecionar introdução à economia -eis que eu já lecionava microeconomia desde 1976- mudei aquele pueril exemplo da primeira questão fundamental da economia, deslocando-o de canhões x manteiga para rede que distribui gasolina versus rede que distribui alimentos. Pois bem os papéis eram notas de aula de um tema que já nasceu fazendo parte do programa de minha disciplina. Ou até vice-versa, a disciplina é que nasceu comprometida com o rompimento da caretice de certos livros texto, sambões de batuque monótono prá caramba.
PEREIRA, Wlademir. As bases demográficas da economia. In: _____ (coord.) Manual de introdução à economia. São Paulo: Saraiva, 1981. Capítulo 2, p.27-52.
Antes de jogar as mal-traçadas anotações às traças (ou melhor, no lixo seco que trabalhadores informais roubam às ruas, por delegação ou conivência do DMLU, locupletando-se de uma vida sem direito a repouso remunerado, férias, aposentadoria, em benefício da falsa consciência que acabo de referir), li -em minha letrinha caprichada- o que segue:
IMPORTÂNCIA DA DEMOGRAFIA ECONÔMICA: a população é a mais importante das variáveis do sistema econômico, pois são os homens que organizam e executam a produção de bens e serviços. Para produzir, há necessidade de recursos materiais e humanos. Os humanos encontram-se na população de um país. Daí estudar a população é compreender características do mercado de trabalho.
Fiquei pensando: então nenhum aluno meu jamais chegou a sugerir que aviões a jato têm a capacidade de organizar a produção de bens e serviços. Ao contrário, misturando daqui e repensando acolá, pensei ter lhes ensinado que o excedente econômico (que vim a chamar de m) é gerado “no recesso da firma” e não “no recesso da firma industrial”).
Então: homens produzem cultura que gera instituições que gera educação de qualidade que gera engenheiros que geram tratores, aviões e outros valores de uso.
P.S. aquele galinheiro lá em cima é um barco flutuando sobre o Rio Xingu.
DdAB
Esta postagem reproduz integralmente o que publiquei no Facebook há instantes.
Meu ponto de corte com essa macacada é que a verdade verídica testemunha em favor da tese de que é mesmo o engenheiro que faz tratores e não vale o vice-versa. E daí? É que, mesmo antes de setar meu Facebook para ler o mural de Róber Iturriet, eu estava descartando uns papéis sem data (mas -digamos- de cerca de 1982, quando comecei a lecionar introdução à economia -eis que eu já lecionava microeconomia desde 1976- mudei aquele pueril exemplo da primeira questão fundamental da economia, deslocando-o de canhões x manteiga para rede que distribui gasolina versus rede que distribui alimentos. Pois bem os papéis eram notas de aula de um tema que já nasceu fazendo parte do programa de minha disciplina. Ou até vice-versa, a disciplina é que nasceu comprometida com o rompimento da caretice de certos livros texto, sambões de batuque monótono prá caramba.
PEREIRA, Wlademir. As bases demográficas da economia. In: _____ (coord.) Manual de introdução à economia. São Paulo: Saraiva, 1981. Capítulo 2, p.27-52.
Antes de jogar as mal-traçadas anotações às traças (ou melhor, no lixo seco que trabalhadores informais roubam às ruas, por delegação ou conivência do DMLU, locupletando-se de uma vida sem direito a repouso remunerado, férias, aposentadoria, em benefício da falsa consciência que acabo de referir), li -em minha letrinha caprichada- o que segue:
IMPORTÂNCIA DA DEMOGRAFIA ECONÔMICA: a população é a mais importante das variáveis do sistema econômico, pois são os homens que organizam e executam a produção de bens e serviços. Para produzir, há necessidade de recursos materiais e humanos. Os humanos encontram-se na população de um país. Daí estudar a população é compreender características do mercado de trabalho.
Fiquei pensando: então nenhum aluno meu jamais chegou a sugerir que aviões a jato têm a capacidade de organizar a produção de bens e serviços. Ao contrário, misturando daqui e repensando acolá, pensei ter lhes ensinado que o excedente econômico (que vim a chamar de m) é gerado “no recesso da firma” e não “no recesso da firma industrial”).
Então: homens produzem cultura que gera instituições que gera educação de qualidade que gera engenheiros que geram tratores, aviões e outros valores de uso.
P.S. aquele galinheiro lá em cima é um barco flutuando sobre o Rio Xingu.
DdAB
Esta postagem reproduz integralmente o que publiquei no Facebook há instantes.
2 comentários:
Bom dia caro Mestre Duílio! Felizmente sou dos seus alunos, que também concorda com o fato de que o bem mais precioso é o capital humano, os engenheiros, os economistas, médicos, professores, e não o lucro indecente da produção industrial, que jamais foi, não é, e temo crer, que nunca será distribuído de forma igualitária, entre donos das indústrias e sua mão de obra qualificada, desrespeitada e marginalizada!
Mas vamos manter as esperanças que ainda veremos mudanças, para melhor!
Carpe Diem!
Aê, meu!
Vejo o comentário já no sábado madrugada. Eu tenho esperança de que o atual sistema econômico (lembra que "o capitalismo acabou há mais de 15 dias"?) permita, com transferências interinstitucionais (por exemplo, famílias ricas às famílias pobres) sem excessivas pressões inflacionárias, desde que mantidas dentro de certos limites (dados pela capacidade instalada na economia).
Abçs do DdAB
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