Querido diário:
A Carta Capital impressa para o dia 27 de maio, quarta-feira próxima, chegou-me às mãos já devidamente impressa... Vou destacar a mistura de mau jornalismo, bom jornalismo, maus repórteres e bons articulistas. Na verdade, ninguém se escapa do sisudo julgamento do Planeta 23. Até já vi bons repórteres fazendo o papel que, na presente edição é dos maus. E também digo coisas assemelhadas para os articulistas. Tenho dois exemplos: uma reportagem de capa sobre a China, considerando que aquele acordo de uma assimetria estrambótica de 55 bilhões de dólares pode ser a redenção nacional, que o tal banco dos brics com sede em Xangai pode ser melhor para o Brasil que o FMI, essas coisas, da esquerda que não experimentou qualquer aggiornamento. E tem aquela reportagem sobre o caos paranaense de corrupção e autoritarismo trazendo contra o filho do ex-governador Such Richa o depoimento do ex-governador Such Requião (ou é o contrário?).
Falo hoje de Vladimir Safatle, colunista já tradicional, com um artigo intitulado "Frente de Esquerda para quê?", na página 31. Ele acha absurdo que Lula seja um dos líderes desta nova frente, uma tentativa de começar a resgatar os caquinhos, os estilhaços da explosão do PT. Pois Safatle tem uma lista de agenda para a construção do Brasil do futuro. Algo que deveria ter sido discutido na campanha eleitoral, assim como diversas sugestões, às vezes até repetidas por aqui mesmo, neste planetinha de 23 horas. A lista de Safatle é:
.a. revolução tributária que taxe a renda e libere a taxação sobre o consumo,
.b. a democracia direta com poder de deliberação, veto e gestão,
.c. o combate à especulação imobiliária através de leis que limitem a propriedade de imoveis,
.d. a reforma agrária,
.e. a diminuição da jornada de trabalho,
.f. a autogestão de fábricas e locais de trabalho,
.g. o salário máximo,
.h. o casamento igualitário,
.i. as leis radicais de defesa da ecologia,
.j. o fim da política de encarceramento sistemático,
.k. a exposição da vida financeira de todos os que ocupam cargos de primeiro e segundo escalão,
.l. a punição exemplar da corrupção e
.m. o fim do monopólio da representação política para partidos.
Este é, inegavelmente, um programa de esquerda, contendo até itens ausentes de minhas próprias sugestões sobre o tema, por exemplo, o item .f. Claro que tenho itens que deveriam constar de qualquer pauta de 13 itens, como é o caso: a renda básica da cidadania, a reforma política, a reforma administrativa (especialmente a do poder judiciário). E por aí vai.
DdAB
Imagem daqui. Sabe o que é aggiornamento riuscito? É colocar em dia novas ideias, novas ações, novas crenças, novas perspectivas. O Google tradutor fala em atualização bem-sucedida.
Nota de 25/maio/2015. Comecei esta mensagem ontem, com a intenção de terminá-la hoje. Por razões desconhecidas, publiquei-a ontem mesmo, o que fez duas postagens no mesmo dia, caso raro em minha já longa vida de blogueiro. É que faltava uma referência feita por Alselm Jappe a um programa que ele trata com bonomia, pela ingenuidade, e que atribui ao marxismo tradicional. Como diria Pablo Milanez, "no soy tanto". Seja como for, faço minha a lista:
.a. restabelecer o estado-providência como reacção à barbárie neoliberal,
.b. regressar à agricultura industrial de há vinte anos como alternativa à manipulação genética dos alimentos,
.c. reduzir a poluição em 1% por ano,
.d. limitar a exploração aos maiores de dezasseis anos,
.e. abolir a tortura e a pena de morte.
Pensando bem, não estou muito satisfeito com o item .b. E o Jappe está aqui:
JAPPE, Anselm (2011) As aventuras da mercadoria; para uma nova crítica do valor. Lisboa: Antígona. Tradução de José Miranda Justo.
E ainda tem mais.
Aqui:
http://19duilio47.blogspot.com.br/2012/05/carta-que-bebe.html
postei isto aqui:
Uma verdadeira indignação teria nos levado a uma profunda reforma política, com financiamento público de campanha, mecanismos para o barateamento dos embates eleitorais, criação de um cadastro de empresas corruptoras que nunca poderão voltar a prestar serviços para o Estado, fim do sigilo fiscal de todos os integrantes de primeiro e segundo escalão das administrações públicas e proibição de o governo contratar agências de publicidade (principalmente para fazer campanhas de autopromoção). Nada disso sequer entrou na pauta da opinião pública. Não é de se admirar que todo ano um novo escândalo apareça.
Pensei: é isso aí, xará. E acrescentaria: a extinção dos estados, do senado e do poder judiciário, o voto distrital, o voto facultativo, o parlamentarismo. Mas, prá começar, a agenda dele até que vai bem. Mais que isto, parece que ele queixa-se, de maneira inovadora, do caos político nacional, o que também o leva a falar da desigualdade. Penso que a equação é: precisamos mudar a causa da causa da falsa consciência. Um troço destes.
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