Querido diário:
Se bem lembro, naquele imortal "A economia brasileira: crítica da razão dualista", Chico de Oliveira falava (e, se não me engano, condenava) uma "perspectiva ético-finalista", um troço assim. Eu me acho dentro desta perspectiva: faço uma condenação moral do capitalismo tal qual o encontramos no mundo, eu o encontrei em 1947, ao nascer. Sabe-se lá de onde originou-se minha perspectiva ético-finalista, da religião, da consciência da tristeza da pobreza (colegas de classe, amigos de rua), da empatia?
E aí veio aquela "big issue", dizendo que há um trade-off entre igualdade e crescimento. Andrew Glyn falava em igualitarismo e dinamismo. Ético-finalisticamente eu sempre quis que se pudesse provar a relação direta entre crescimento e distribuição.
Vão-se poucos anos desde que escrevi esta primeira parte desta postagem aqui. E vejo com galhardia que aqui vemos referidas tenebrosas transações devidamente documentadas pela OECD-OCED.
Lá no site da OECD, dizem eles:
The evidence shows that high inequality is bad for growth. The case for policy action is as much economic as social. By not addressing inequality, governments are cutting into the social fabric of their countries and hurting their long-term economic growth.
A questão é esta da "social fabric", ou seja, o tecido social. Será que é preciso um tecido social de boa qualidade para promover o crescimento? Prosseguem:
The report highlights the need to address working conditions. The increasing share of people working part-time, on temporary contracts or self-employed is one important driver of growing inequality. Between 1995 and 2013, more than 50 per cent of all jobs created in OECD countries fell into these categories. Low-skilled temporary workers, in particular, have much lower and instable earnings than permanent workers.
E agora um lado cruel que rima com o sr. Fernando Henrique Cardoso, que elevou a idade da aposentadoria para 75 anos, ou seja, velho no mercado de trabalho formal é mais jovens no tráfico de drogas. O sr. Lula achou a ideia ótima, tanto é que não a mudou. E a sra. Dilma considerou que Lula é sua grande liderança e deixou tudo na mesma. Agora, no afã de tornar o Brasil a primeira economia do mundo, o mesmo vai acontecer para os funcionários públicos. E os jovens? Que migrem!
Youth are most affected: 40% are in non-standard work and about half of all temporary workers are under 30. They are also less likely to move from a temporary job into a stable permanent one.
E a mulherada?
Another key lesson from the report is that more needs to be done to reduce the gender gap. The increase in the number of women working has helped stem the rise in inequality, despite their being about 16% less likely to be in paid work and earn about 15% less than men. If the proportion of households with working women had remained at levels of 20 to 25 years ago, income inequality would have increased by almost 1 Gini point more on average.
E a coesão social? E que acontece com a educação e treinamento das famílias de baixa renda?
Beyond its impact on social cohesion, the report stresses that growing inequality and weak opportunities in the labour market are harmful for long-term economic growth. The rise in inequality between 1985 and 2005 in 19 OECD countries analysed is estimated to have knocked 4.7 percentage points off cumulative growth between 1990 and 2010. In fact, it is inequality affecting the bottom 40% which mainly brings down overall growth. As inequality rises, families with lower socio-economic background experience significant falls in educational attainment and skills, implying large amounts of wasted potential and lower social mobility.
E daí?
Inequality is highest among OECD countries in Chile, Mexico, Turkey, the United States and Israel and lowest in Denmark, Slovenia, Slovak Republic and Norway. Inequality is even higher in major emerging economies although it has fallen in many including Brazil.
E agora? Agora, no Brasil, temos que parar de pensar que algo de positivo acontecerá na distribuição ou no crescimento se:
.a. não gastarmos em educação e
.b. não elevarmos as alíquotas do imposto de renda.
O que é mesmo que eu penso sobre igualiarismo? Que, na sociedade igualitária, todo mundo estará correndo o tempo inteiro atrás de mais conhecimento, todo mundo será atleta e todo mundo fará trabalho comunitário. Então vai sobrar gente, pois não precisa de tantos trabalhadores para prover todos estes serviços? Claro que não, pois a fome de saber é insaciável. Os cuidados pessoais também são ilimitados e os próprios exercícios físicos têm a ver com a ideia de infinitude. Por exemplo, escalar montanhas, melhorar no jogo de tênis ou tornar-se árbitro de polo aquático.
Torna-se claro que a chave da sociedade igualitária é o emprego: o dentista da escola de ensino fundamental leva, com seus vencimentos, seu filho ao show de rock. Os responsáveis pelo som do show levam suas vovós ao otorrino, a ascensorista do edifício do otorrino estuda inglês de noite e dará emprego a um agente de viagens no próximo verão. Os mantenedores de aparelhos de ar condicionado estão loucos que chegue nova onda de calor, pois querem um dinheirinho extra para trocar de carro. Os revendedores de carros querem comprar um sítio suburbano. Os vizinhos, etc., etc.
O que é mesmo que eu penso sobre igualiarismo? Que, na sociedade igualitária, todo mundo estará correndo o tempo inteiro atrás de mais conhecimento, todo mundo será atleta e todo mundo fará trabalho comunitário. Então vai sobrar gente, pois não precisa de tantos trabalhadores para prover todos estes serviços? Claro que não, pois a fome de saber é insaciável. Os cuidados pessoais também são ilimitados e os próprios exercícios físicos têm a ver com a ideia de infinitude. Por exemplo, escalar montanhas, melhorar no jogo de tênis ou tornar-se árbitro de polo aquático.
Torna-se claro que a chave da sociedade igualitária é o emprego: o dentista da escola de ensino fundamental leva, com seus vencimentos, seu filho ao show de rock. Os responsáveis pelo som do show levam suas vovós ao otorrino, a ascensorista do edifício do otorrino estuda inglês de noite e dará emprego a um agente de viagens no próximo verão. Os mantenedores de aparelhos de ar condicionado estão loucos que chegue nova onda de calor, pois querem um dinheirinho extra para trocar de carro. Os revendedores de carros querem comprar um sítio suburbano. Os vizinhos, etc., etc.
DdAB
Imagem: peguei lá do relatório. Verás o antepenúltimo item do histograma: o Brasil. Medalha de bronze na desigualdade. Só bebendo!
P.S.: aditado às 20h25min de 29/maio/2015.
Sabem meus leitores que sou fã do governador do Rio Grande do Sul, o sr. José Ivo Sartori. É dele a inspiração para a postagem daqui. E também a daqui. E na página 8 de Zero Hora desse 28 de maio, que o sr. Sartori está em viagem de negócios pela Europa, lemos:
ZH - No Rio Grande do Sul, todo mundo cobra uma manifestação sua a respeito do bloqueio de recursos para pagamento de servidores que têm salários mais altos que teriam atraso de 10 dias...
Sartori - Estamos aqui em uma caminhada muito boa. Estivemos na Alemanha, continuamos aqui hoje na Airbus. Hoje à noite deveremos estar na embaixada e amanhã estaremos recebendo certificado de Estado livre da peste suína clássica.
Concluiu ZH: "E encerrou a entrevista, visivelmente chateado." Como poderia eu evitar ser alheio ou indiferente a um governador produtor de nonsense?
P.S.: aditado às 20h25min de 29/maio/2015.
Sabem meus leitores que sou fã do governador do Rio Grande do Sul, o sr. José Ivo Sartori. É dele a inspiração para a postagem daqui. E também a daqui. E na página 8 de Zero Hora desse 28 de maio, que o sr. Sartori está em viagem de negócios pela Europa, lemos:
ZH - No Rio Grande do Sul, todo mundo cobra uma manifestação sua a respeito do bloqueio de recursos para pagamento de servidores que têm salários mais altos que teriam atraso de 10 dias...
Sartori - Estamos aqui em uma caminhada muito boa. Estivemos na Alemanha, continuamos aqui hoje na Airbus. Hoje à noite deveremos estar na embaixada e amanhã estaremos recebendo certificado de Estado livre da peste suína clássica.
Concluiu ZH: "E encerrou a entrevista, visivelmente chateado." Como poderia eu evitar ser alheio ou indiferente a um governador produtor de nonsense?
2 comentários:
Prezado Duilio,
Postei lá antes de postar aqui, mas queria mesmo era começar por aqui.
Primeiramente, excelente esse relatório da OECD. Não o li, mas os fragmentos que colocaste no texto dão uma ideia de como andam as coisas.
Chamou-me a atenção aquele trecho que fala da qualidade dos empregos atuais. Extremamente preocupante. Aliás, isso me fez pensar se não vamos acabar descambando para isso com essa famosa terceirização, pelo menos da forma como vai ser feita. Acredito que se deva mudar, mas será que a forma que está aí é a melhor?
Verdade seja dita, um texto como esse é um choque de realidade em uns e outros que sempre pregam uma espécie de "salve-se quem puder", estado mínimo e essas coisas todas.
Às vezes me ponho a pensar que o pessoal se agarra em algumas visões de mundo e não larga mais, mesmo que a realidade do dia a dia mostre o contrário. Será isso cegueira ideológica ou discurso ensaiado? E mais, muitas vezes ponho em cheque a independência intelectual de uns tantos por aí. Bom, já estou me estendendo e filosofando demais.
Ah, a questão do aumento do IR me lembrou da participação (constrangedora?) do Lara Resende no Roda Viva com o Piketty. O que era aquilo? Depois fiquei matutando se o André não quer aumento de carga tributária porque ele acredita que não seja o caminho ideal ou porque está com medo de ter de pagar mais imposto sobre a grana que ele ganhou no mercado. Tenho dúvidas (risos).
Ainda faltou comentar a nossa medalha de bronze e outros assuntos, mas fica para a próxima.
Abraço,
Teixeira.
Caro Teixeira:
Novamente vejo observações agudas sobre meu texto. Eu nunca me senti tão isolado com relação às ofertas de partidos de esquerda atuando no Brasil. Parece que é tudo ladrão e aquele aggiornamento tão necessário às forças progressistas ainda não aconteceu. E nem vejo ainda perspectivas de que venha a ocorre tão cedo.
DdAB
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