30 abril, 2010

Primeiro Mundo (.a.) e Primeiro Mundo (.b.)

querido blog:
o festejado jornal Zero Hora deixou-me ler em seu caderno "Campo & Lavoura" a manchete: Primeiro Mundo é aqui". a insofismável prova da translação do país da barriga dágua para o norte da Europa foi a importação de "maquinários agrícolas de ponta", que "já chegam antes ao Brasil do que ao Exterior". como Zero Herra não me é lá tão levada a sério, primeiro parti para a galhofa: como pode chegar do exterior antes de estar no exteror? translação no mundo da realidade imaginária, ou seja, um setor transportes com distâncias mensuradas com números complexos, ou seja, tudo vezes o imaginário "i".

depois pensei que não é impossível que o Brasil seja líder na produtividade de alguns setores, se uso esta palavra para descrever mercadorias compostas como o grão de soja ou o quilo de carne de boi (de ambos os sexos...). não sei se temos liderança mundial em algum setor industrial, eis que a soja e o boi fatiado pertencem ao setor agro-industrial. nossos aviões (que a Embraer é majoritariamente estrangeira), nossa caninha Pitu (que a Pituitária é uma bebida embriagante), nossa... bem, que é mesmo que é nosso? nós, quem, tonto? parece que nosso, nosso mesmo, no sentido de que não é meu, mas brasileiro, são os capitalistas agro-industriais.

isto implica logicamente que não somos "primeiro mundo", ou seja, não somos do "mundo desenvolvido", pois o dualismo deles é reduzidíssimo. e, sob este ponto de vista, quanto maior a distância (cartesiana, né?) entre o setor de menor produtividade (lipoaspiração ou vacina contra barriga dágua) e o de maior (digamos que o suco de laranja, não busquei dados) seja de um quatrilhão de vezes maior do que a correspondente distância da Noruega. neste caso, devemos reconhecer que a Noruega não é do mesmo balde que o Brasil, ainda que nenhum deles partilhe do ambiente frequentado pelo Paraguay ou pelo Zaire.

basta? claro que não, pois falei apenas do "Primeiro Mundo .a." do título da postagem. a segunda parte tem a ver com a declaração do deputado Paulo (R$ 27.000) Bornhausen, do ex-PFL de Santa Catarina. envenenado pela inveja provocada pela inclusão do presidente Lula (pai de Fábio) da Silva entre os 25 líderes mundiais (talvez o primeiro), Paulão -diz ZH na p.8- disse "[...] ou a revista 'ficou louca ou ganhou um patrocínio de uma estatal brasileira'." (o trecho entre '...' é ipsis litteris, o resto é de ZH). seria talvez mais difícil proclamar uma revista como louca, pois os antropocentrismos estavam banidos, do que saber se a revista Time americana andou mesmo tendo a mão molhada pela Petrobrás, pela Caixa Federal, pela Casa Civil etc., há tantos suspeitos.
DdAB

tuíter:
esquerdinha: resta saber quem está mais à esquerda: myself ou a colunista de Zero Hora, Sra. Rosane de Oliveira. na "Página 10" da p. 10 de hoje, lemos: "Aliás. Com a decisão de ontem sobre a Lei da Anistia, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a tortura deve ser esquecida, como se não tivesse ocorrido nos porões da ditadura." E eu que, ontem mesmo, mostrei apoiar -nem tanto os R$ 27.000 de "salários" dos ministros- a declaração de imbecilidade que eles prolataram sobre a Ordem dos Advogados do Brasil: vamos parar de pensar em vingança, inclusive contra torturadores já mortos pela intempérie, e baixar a barriga do menino pobre e sua verminose. ademais, parece que, pelo que li, nenhum ministro sugeriu, menos ainda aprovou aquilo que a colunista esquerdista de Zero Herra chama de "porões da ditadura" e, abaixo, critica a preocupação (de sei-lá-quem) com a "tranquilidade nos quartéis". seja com for, acalento a idéia de que Rosane joga pela direita e gente de meu porte comporta-se como da portentosa esquerda do século XXI. contrastando com a New Left, vou lançar o Movimento Neo-Left.

fonte da imagem:
http://www.ufv.br/dea/poscolheita/boletins/Image134.gif.
cheguei a ela ao procurar no Google Images apenas as expressões ".a." e ".b.".

29 abril, 2010

Ampla, geral e irrestrita

querido blog:
procurei no Google Images: beluzzo + palmeiras. deu, entre outras curiosidades, o original desta foto. por que busquei estes dois substantivos, a fim de ilustrar os três adjetivos do título da postagem? quero crer que inspirei-me na derrota da intolerância acachapada pelo Supremo Tribunal Federal. ganhando R$ 27.000 mensais, cada juiz -num placar de 7 x 2- deu ganho de causa para o bom-senso. meu ponto de vista nem é tanto o da denúncia da contradição entre duas diretorias da Ordem dos Advogados do Brasil (honorários podendo chegar a R$ 27.000, se conseguirem a representação pro rata, sei lá, no próprio tribunal. uma diretoria queria a anistia ampla, geral e irrestrita. a atual ou outra menos recente queria "ampla, geral e irrestrita estrela", ou seja, pegar uma turminha que achamos que deve levar pancada.

meu ponto de vista é que há muito mais coisa para ser tratada no Brasil do que bobagens plebiscitárias sobre monarquia, uso de armas, presidencialismo, sei lá. e esta campanha nacional para anular o amplo, geral e irrestrito só pode ser fruto de mentes levianas e vingativas. por estas e outras é que lancei o MAL*, que é o movimento pela anistia aos ladrões estrela, ou seja, os políticos. no caso, não que eu venha a lançar o MATE (movimento pela anistia a torturadores e outros energúmenos), mas acho que acabou mais uma palhaçada de uma esquerda que esqueceu de virar o calendário para o século XXI. precisaríamos saber se os pais ou responsáveis dos/pelos guris portadores de barriga dágua, sufragariam a vingança, caso o voto fosse voluntário. no voto compulsório, de qualquer jeito, ganhou de lavada o direito a usar arma, uma desmoralização para as motivações pacifistas de uns trapalhões que estão confundindo o calendário do terceiro milênio com o do primeiro ou segundo, para não falar nos anteriores.

DdAB
fonte do original da imagem: http://img.blogs.abril.com.br/1/falatorcedor/imagens/presidiario.jpg

28 abril, 2010

Fazer A ou B

querido blog:
acabo de aprender com Vinicius Valent que uma boa questão que, a sua maneira, envolve todas as demais questões, leva-nos a escolher entre
.a. se quero ficar preso a uma coisa que não conheço ou
.b. se quero ficar livre de uma coisa que conheço.

claro que pensei em Raul Seixas e na metamorfose ambulante, o que também me leva a apreciar o blog de Ricardo Martini. claro que eu prefiro abster-me de ter opinião formada sobre tudo. mesmo minha crença na ladroagem generalilzada dos políticos adoraria deixar-me. e eu a ela, especialmente se todos se persignassem e começassem a fazer trabalhos sociais. que parassem de meter a mão no dinheiro, nas vidas, na liberdade do povo.

mesmo sem falar em economia política, achei que as opções acima lembram a epígrafe do livro de econometria de Henri Theil sobre a crença em modelos: models are to be used, not to be believed.
DdAB

fonte da imagem (vê-se no rodapé: Ivan de Almeida): http://img18.imageshack.us/i/igp0822.jpg/

27 abril, 2010

CAPACIDADE DE CARGA E O QUATRILHÃO

Querido Blog:
Em outubro de 2010, segundo a Wikipedia em português (http://pt.wikipedia.org/wiki/Popula%C3%A7%C3%A3o_mundial), o planeta Terra terá sete bilhões de habitantes e, em 2070, terá
avançado para 26 bilhões. Os numerólogos já diriam: 10.10.10. E os jornalistas emendariam: a população de 26 bilhões é 10! E, se fosse mesmo 10, então os sete bilhões seriam 3,7, não é isto?

Se nascesse um habitante por segundo, seriam necessários 222 anos para vermos os sete bilhões encordoados, e 602 anos para acrescentarmos os 19 bilhões da chegada em 2070. E que aconteceria, se nascesse 1 terráqueo por segundo durante 32 milhões de anos? Teríamos um quatrilhão. Este quatrilhão seria alcançado com o crescimento de 7,1% a. a., ou seja, dobrando a cada 10 anos, em nada modestos 500 anos. Acho que nem a renda pode fazê-lo, pois a capacidade de carga do planeta não permite tal delírio nem com tecnologias ainda completamente desconhecidas. E se essa macacada toda se concentrasse em Porto Alegre, seriam 2 milhões de habitantes por metro quadrado. Cá entre nós, é muito aperto (diz um astrólogo que conheci que foi uma reunião entre amigos deste tipo que gerou uma pressão equivalente à força explosiva do Big Bang...).

Um troço que cresce a 7,2% ao ano (ou, mais rigorosamente, a 7,1773462%) dobra a cada 10 anos. Neste caso, se cada grupo de 100 mulheres decidisse estraxinar o planeta, e terem 7,2 filhos por ano durante 175 anos, elas gerariam 1 quatrilhão de pimpolhos. A Toyota que, pelo que li num cantinho, produz 10 milhões de automóveis por ano, vê uma dessas armas de destruição em massa surgir a cada três segundos. Ou seja, é carro prá burro e criança prá caramba do mesmo jeito. Parece que não cabe, né? Para acomodar um quintilhão ou números igualmente fantasmagóricos é necessária a conquista de outros planetas ou, o que acho mais provável, a construção de naves aos magotes.
DdAB
tuíter 1: ao buscar minha ilustração de hoje com "quatrilhão", achei interessantes os ônibus londrinos mergulhados em não-sabia-bem-lá-o-quê. fui ao site buscar a imagem. e achei a postagem tão interessante, tão análoga (e, ainda assim, tão mais interessante...) àquilo em que eu estava pensando ao falar na capacidade de carga do planeta Terra que recomendo a viagem (clicar aqui) para acessar o site: http://cybervida.com.br/a-quantidade-de-dados-processada-pelo-google-e-sua-equivalencia-em-arroz.
tuíter 2: por falar em arroz, a fábula da recompensa em grãos ao inventor do jogo de xadrez (crescimento de 100% a cada período, ou melhor, a cada célula do tabuleiro) é 2^64 = 18.446.744.073.709.600.000, ou dezoito vírgula quatro quintilhões.

26 abril, 2010

JL Borges e os mendigos loiros

querido blog:
até parece que o mendigão do cando direito, com seus -creio- três dentões, já andou pintando em minhas ilustrações copiadas do Google Images. procurei hoje "mendigo loiro" e tive que mudar para chegar onde parei. por que falo em mendigos loiros? hoje, jejum de minha parte, oito da matina da parte do resto do universo porto-alegrense, fui ter meu próprio sangue tirado, a fim de vê-lo examinado e ser declarado velhinho saudável, condição que busco certificar anualmente.

entre minha casa e o laboratório, divisei com um senhor de poucas posses, pelo que sou dado a julgar. mais ainda, chamou-me a atenção seu cabelo: um jovem, cabeleira basta, pelos alongados, a metade de baixo bem loirinha e a de cima mais para castanha. pensei: oxigenação, aplicada na Estética Franciscana, oslt. Era, creio, um loiro oxigenado que o simples giro do planeta fez descer para mais longe dos folículos pertinentes. uma tragédia, o fim do mundo. o que passa comigo, claro, pois não sei como ele vem a sentir-se quanto aos tais giros planetários que referi. ele fala português, indagou-me onde é a Avenida Ipiranga. pensei no grito da independência, que aparentemente ele deu, de um jeito arrevezado, ou lhe deram... um desamparado, temo concluir.

por contraste, fui recebido com pompas de um verdadeiro imperador (como já registrei, não há registro de nenhum imperador Duilio...), uma cortesia e eficiência espantosas. ao sair, voltei a caminhar (combustível do pensamento) e pensar no erro daqueles que insistem na tecla de que a presença do estado na sociedade brasileira é excessivo.

por circunstâncias não absolutamente transversas, recebi de presente um ensaio curto de Jorge Luis Borges, em sofisticada tradução de Sérgio Faraco, intitulado -lá o ensaio, não o Faraco- de "Nosso pobre individualismo". não quero falar muito mais do que registrar que a obra, o autor, o tradutor e o leitor geniais: achei muito interessante. procurei em minhas Obras Completas e não localizei, o que deixa claro que elas não são "Completas". ao contrário. além de co-autorias, como o livro do budismo e do Martin Fierro (que adquiri ambos), sei de várias outras coisas que fugiram à Editora EMECÉ. seja como for, quando saírem as obras super-completas, não mais vou comprar. aprendi a lição com os quatro volumes da Nova Aguilar e de Machado de Assis. daqui a alguns tempos, estou certo, pintará novidade.

Borges preocupa-se com o que hoje chamamos de problemas de escolha coletiva: aprendi com Samuel Bowles (livro de micro de 2004) que devemos citar três "instituições" que organizam as preferências sociais: mercado, estado e comunidade. também aprendi que, além destas inegáveis virtudes, as três apresentam falhas e apenas no ambiente de equilíbrio entre elas é que poderemos pensar no funcionamento harmônico da sociedade (frase meio redundante, pois parece que "equilíbrio" e "harmonia" tornam-se sinônimos neste contexto).

eu olhei para as ruas de Pescara e lembrei das de Porto Alegre, nas semelhanças (vendedores ambulantes) e contrastes (não há meninos de rua). agora olho as de Porto Alegre e fico a indagar-me o que querem dizer os liberais extremados (também Borges?) quando querem menos presença do estado. para mim, não precisava ser estado para coletar lixo ou impostos ou pagar aposentadorias, mas alguém deveria fazê-lo, a fim de garantir regras decentes de convivência (menos pedintes e menos assaltos). mas quando penso na corrupçáo que se instala, volto a entender que a participação comunitária é que se mostra fundamental. e aí começam os problemas novamente, pois nem o mercado -enquanto locus de concorrência e maximização- nem o estado têm maiores interesses em promover este tipo de saneamento.

ao mesmo tempo, sempre que penso em participação comunitária lembro de um breve que aprendi não faz muito tempo: mas cuidado com os comitês de defesa da revolução. acho que só metendo um chopp para poder desdobrar-me destes impasses...
DdAB
fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipGk3a7Kh33vw9-pu7d90lKMX-fGNzrXtnEY7fh8sCjGHscG8fWvUe_zul19OOiFzzpZiZjBCnEO_saZZNZ8FGqkT0l5IBbbJ4L53UQAssYRSLF9L7s03a3X7W9VIcbBEC4ZFJM0Fzx3c7/s400/mendigos.jpg

25 abril, 2010

Flores e a Renda Básica

querido blog:
acabo de ver, pela enésima vez, o documentário de Jorge Furtado, "Ilha das Flores". os guris acima não são figurantes daquele ambiente porcino. nem sei de onde são. nem sei seu futuro, se ainda estão vivos. mas eu fiquei pensando novamente sobre a renda básica ao ver o filme e ao procurar com "renda básica" no Google Images.

de 30 de junho a 2 de julho, teremos o congresso mundial da problematização da renda básica em São Paulo: http://www.bien2010brasil.com/. a idéia que mais marcou-me sobre o tema foi a analogia da evolução das conquistas dos direitos humanos ao longo dos tempos modernos:
.a. a libertação dos escravos no século XIX,
.b. o foto feminino no século XX
.c. a renda básica, a ser conquistada no século XXI.

muita gente volta-se contra esta idéia, inclusive jovens, por terem a idéia de que "esmola" é algo problemático. não se dão conta de algumas objeções importantes, das quais eu destaco por hoje:
.a. se todos ganham o mesmo, digamos, R$ 200 reais por mês, isto deixa de ser esmola
.b. o primeiro teorema da renda nacional (o PIB corresponde a 100% do PIB) garante que enfrentamos apenas problemas de alocação que, modestamente, representeam a diferença entre a vida e a morte de garotos como os que chafurdam acima.
DdAB
veja mais em: http://200.169.228.51/arquivosCartaMaior/FOTO/46/foto_mat_22437.jpg

24 abril, 2010

Vingança

querido blog:
ontem eu dizia que a justiça não pode ser feita pelas próprias mãos, ainda que não seja difícil reconhecer como traço do mundo mundano que a vingança é cabível ao indivíduo. no mundo da ilustração que encontrei para "vingança", vemos uma postura totalmente etnocentrista (^-1), ainda que divertida. por sinal, o site hayalevi deixa-se ler em língua estranha, mas retirei a ilustração do que abaixo registrei, seguindo a nova prática de deixar visível a origem de minha viagem diária ou quase no mundo do Google Images.

na condição de indivíduo, ao ler o artigo de hoje de Cláudio Moreno ("Tuitar"), na p.7 do caderno "Cultura" de Zero Hora, senti-me vingado -na condição de indivíduo- e justiçado, ao invocar a condição de cidadão. ainda assim, minha vingança não é completa, pois não sei bem o que me levou a pensar do jeito que o faço nesta matéria. poderia ser apenas meu instinto, poderia ser a influência dos bons professores que tive. não citarei Moreno ao pé da letra, mas desconstruirei (como diria algum moderninho) as partes que me interessam de seu primeiro parágrafo.

falando em seu tema do tuíter, ele diz:

[...] apesar do título [...] referir-se a um fenômeno da internet, pretendo tratar exclusivamente de assuntos de nosso idioma [...]

e o trecho entre parênteses é que é avassalador e constitui minha mais circunspecta vingança:

(alguns moderninhos escreveriam "de o título", mas eu, para honrar os bons professores que tive, não posso cair nessa armadilha)

o pior dos mundos é aquele que se encontrará em alguns artigos de minha autoria, revisados precisamente pela macacada da revisão de português emplastada nas revistas técnicas. não sei o que é mais pernicioso para o futuro da humanidade, se a da Fundação de Economia e Estatística ou a do Banco do Nordeste do Brasil. mas -i'm afraid- não apenas estas duas escolas de escol (^-1). é óbvio que estou longe da perfeição em matéria de escrita correta, mas também é óbvio que tive bons professores que, por mérito lá deles, independente de minhas eventuais virtudes, deixaram-me belas cicatrizes.

eu penso, penso?, que os moderninhos cometem um erro de translação mecânica de conceitos que se aplicam em outros contextos. "faz-se carretos" é o jeito errado de dizermos "fazem-se carretos", aprendi. o "desdobramento" (era isto?) da frase expressa na forma passiva sintética (era isto?): carretos são feitos, flores são vendidas. aceito. neste caso, tinha umas coisas do agente da passiva e outros agentes sociais, mas começou o exagero com frases daqueles blim-blim-blins transitivos indiretos, que a negadinha também começa a "desdobrar", uns exagerados.

obviamente, não sei do que estou falando, pois tenho mais segurança para falar do futuro da humanidade do que dos xavecos da língua portuguesa. por exemplo, asseguro que, dentro de poucos séculos, moraremos em naves espaciais. no caso do "apesar do título referir", e "apesar de o título referir", fico a indagar-me a razão da incapacidade da macacada e da negadinha de entender que as árvores semânticas prestam-se à perfeição para, na hora da análise, deixarem-nos desdobrar o "do" em preposição para um lado e artigo para o outro. para não falar na forma não-sulista de dizer: "caiu em mim" como "caiu nimim". tá na cara que, sempre que ouço "nimim", já vou traduzindo para "em mim": em mim provoca ódio e desejo de vingança ter textos escritos corretamente "corrigidos" para formas que atentem subjetividade de terceiros, ou o que é pior, "corrigidos" para formas erradas!
DdAB
http://www.blogger.com/email-post.g?blogID=7020426533943799981&postID=3738364331886478407

tuíter: mas na p.2, a coluna semanal de Cláudia Laytano diz: "[...] antes de os cuidados com a saúde [...]" sei lá o quê. eu também acho que uma forma de evitar esta frase agongorada é mudá-la: antes que os cuidados com a saúde façam algo...
tuíter pós-parto: achei mais milhares de formas arrevezadas "de o autor", sei lá que decidi ir atrás de prova cabal de que Moreno falou mesmo o que falou:

23 abril, 2010

Confissões Constrangedoras: Fernando Mottola


querido blog:
claro que, no mundo moderno, mundo de Scherlock Holmes e outros praticantes do modelo conjetural, não basta o indivíduo confessar o crime, a confissão não pode ser tomada como único elemento a apontar para o final das investigações. por exemplo, digamos que a vida de João da Silva tenha o valor de 27.000 quantidades monetárias e a de José da Silva, de apenas 0,1 u.m. neste caso, podemos conceber que, se por alguma razão escalafobética, João da Silva assassinar Maria da Silva e José da Silva confessar o crime (ganhando um incentivo de, digamos, 0,2 u.m., ou 54.000, sei lá), será óbvio que a aceitação incondicional da confissão -ainda que avalizada pelo mercado- não terá maior valia sob o ponto de vista dos interesses perenes da sociedade igualitária (para esta, tudo começa com a liberdade, e Maria da Silva não tem liberdade de ser morta por ninguém).

em outras palavras, o fato de que o desembargador aposentado do TJRS, sr. Fernando (R$ 27.000) Mottola escrever o artigo "Os juízes do Rio Grande e a anistia" entregou a ditadura militar não a compromete de modo absoluto, mas que é uma boa dica para os desmandos de ambos, lá isto é: "Os dois lados tiveram vítimas e cometeram excessos. A tortura e o assassinato de opositores, reais ou imaginários, não foram uma exclusividade dos governos militares."

um dos lados, claro, é a milicada. o outro são "alguns dos que pretendiam criar um Estado comunista", como podemos ler na p.15 -dos Artigos- do jornal Zero Hora. e o Mottola quer deixar bem claro que a milicada teve vítimas e cometeu excessos, não é isto? pior ainda, a tortura e o assassinato reais ou imaginários também foram praticadas pelos militares, não é isto? eu, se fosse o detetive do caso João-José-Maria, não aceitaria isto sem provas. mas tem juiz muito louco que já iria condenando o José, não é?

o juiz está estupefato. e eu também, claro. parece que o juiz é contra a anulação da lei da anistia. e eu também. descambando para uma aulinha de inglês, eu diria: "there is an enormous pit among us". e mais: "the difference between us is that i support the MAL* and he supports evilish ways of conducting politics". que é o MAL*? é o Movimento pela Anistia aos Ladrões, uma organização sem fins lucrativos que apoia a idéia de deixar tudo o que aconteceu até ontem como dito por não dito e começar vida nova a partir de amanhã. a prioridade, no caso, seria -ao invés de gastar recursos sociais tentando enquadrar os amigos do juiz Fernando- dar um combate feroz à barriga dágua 27.000.000 de meninos brasileiros.
DdAB
http://centrajur.sites.uol.com.br/balanca.jpg

22 abril, 2010

Rudicir

querido blog:
Rudicir de Freitas é a figura de destaque da p.32 da edição de hoje do jornal Zero Hora. Zero Hora? não era Zero Herra? era e é:
.a. "Comerciante de 39 anos diz que reagiu a ofensas depois de estacionar em espaço para deficientes" e
.b. "Dono de um mercado na zona norte da Capital, Rudicir Fernandes de Freitas, 34 anos estacionou o carro em uma vaga reservada."

ou seja, em quatro parágrafos, neguinho remoçou cinco anos. Zero Hora? e que de indigitado terá o Rudicir? parece que eu já lera no jornal da véspera ou antevésperas uma nota sobre o incidente que volta a ser resumido na matéria assinada por Humberto Trezzi, o jornalista responsável por uma coluna da "Polícia", "Segurança", sei lá.

volta e meia, valho-me da diferença conceitual entre indivíduo e cidadão, a fim de entender coisas do mundo. o indivíduo, alega-se, é egoísta e o cidadão, altruísta, essas coisas. ambos, em sua trajetória comportamental valem-se de um montante substantivo de racionalidade, a fim de maximizarem seu bem-estar, diz a teoria.

todo mundo diz que ninguém deve fazer justiça pelas próprias mãos, o que obviamente é um conselho do cidadão. isto não impede que o indivíduo, em sendo interessado em seu próprio bem-estar aja em desacordo com a regra social. fosse ele coordenado, não haveria crimes, sou levado a crer, a não ser -claro- os dos políticos que, na verdade, são predadores acabados.

então o Rudicir foi ofendido pelo também comerciante, cinco ou 10 anos mais velho, dependendo da idade de Rudicir. precisando reparar sua honra com "empurrões" e "frascos de álcool em gel" e outros objetos, o Rudicir disse que não começou nada, tudo atribuindo ao "empresário Léo Mainardi, 49 anos". Léo flagrou Rudicir estacionando, irregularmente, numa vaga de deficientes físicos. reclamou e Rudicir disse não ter visto o sinal de reserva da vaga, aparentemente não tendo adesivo indicativo de sua condição de deficiente em seu carro. depois de alguns encontrões, diz o jornalista Trezzi: "O empresário levou apior na briga. Sofreu uma pancada na cabeça, que o deixou com um coágulo e forçou sua hospitalização."

ou seja, diz Rudicir não lembrar de ter jogado sobre Léo uma barra de ferro (retirada das estantes do supermercado em que havia o álcool gel). at the same time, aduziu: "Não lembro dessa barra, mas devo ter jogado." seu advogado, o mister Cid Cezimbra, cedeu o escritório para que a entrevista fosse realizada por Zero Hora, ocasião em que o Rudicir declarou: "Esse lugar que ele me acertou, no tornozelo, tem seis parafusos. Eu manco por isso, mas nunca usei vaga para deficientes, não preciso disso."

não sou detetive, não pretendo julgar juridicamente ninguém. sou interessado em questões de escolha social, de escolha interativa. claro que juro que ambos pagariam R$ 50 ou mais para não se verem envolvidos neste tipo de notícia. e achei particularmente infeliz a atitude do Léo em sapecar um acerto (chute?) no tornozelo do rapaz. at the same time, não acho que o Rudicir tenha sido feliz em jogar álcool gel (engarrafado) e uma barra de ferro sobre o Léo.

acho tudo isto uma infelicidade. afinal, o Rudicir e o Léo não parecem habitar o mundo da contravenção. apenas tentaram fazer justiça com as próprias mãos. uma vez que este conceito não especializado de justiça é passível de contestações a ferro e fogo, o conflito seria inevitável. o Rudicir disse que o Léo chamou-lhe a atenção em termos deselegantes, quando ele -inadvertidamente, alegadamente- avançou sobre a vaga de deficiente físico. o fato concreto é que o Rudicir não se deu por achado e, com seus seis pinos, considerou adequado manter o carro onde sua "pressa".

em outras palavras, não ganho R$ 27.000 por mês, logo não vou julgar. todavia, se houvesse julgamento por anciãos, ganhando R$ 00.000 mensais, eu requereria que ambos prestassem trabalhos comunitários durante um certo período, também condenando a igual pena o dono do supermercado e o prefeito de Canoas, pois é tudo cúmplice. digo isto, porque hoje cedinho andei pelo centro de Porto Alegre e vi tanta irregularidade que pensei que estava tendo um pesadelo, morando numa daquelas cidades brasileiras em que morre mais gente de tiro do que de doença coronariana.
DdAB
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgpSIcgYY9SjshF2oOwmEqzUUfSomtS3dBIrbJtajlEbtQ1M_RVf0Tl9B3AgCrPxu-EQl-bcVgQOhU-hdLOSMyg9w-NpzmqxDIKTjSWer78RGLKtmWCLidP-VubyQX_a0oS07iQjeOW61r/s1600-h/amizade-thumb.jpg

21 abril, 2010

Felizardos: jovens e velhos

querido blog:
estamos lendo "voto voluntario" em espanhol. busquei a imagem no site http://libertadengrano.blogspot.com, se bem entendo, chileno. há muito tempo, caiu-me a ficha do absurdo que é o voto compulsório. voluntário : facultativo e compulsório : obrigatório, são os dois vetores do antítido e do autoritarismo. parece inconcebível que um indivíduo humano, em plena segunda década do século XXI, seja obrigado a prestar serviço militar e a votar. no Brasil é. e pior, no Brasil, precisamos vera campanha do tribunal eleitoral (precisava?) tentando promover a adesão dos jovens ao processo eleitoral de 2010.

nas primeiras vezes em que problematizei o tema com amigos -na Academia BAR- fiquei muito surpreso ao ouvir de alguns (ou apenas um?) a defesa da obrigatoriedade do voto. volta e meia tenho dito aqui que o voto voluntário é uma estratégia dominante, por assim dizer. quero dizer que, se ele for voluntário, quem se obrigar a votar vota e quem se facultar o direito de votar ou vota ou não vota. parece melhor do que ser obrigado a votar ou ser proibido de votar.

no caso os felizardos brasileiros são de dois grupos:
.a. os jovens, definidos como gente cuja idade cai no intervalo aberto de16 a 18 anos
.b. os velhos, definidos como gente cuja idade é maior ou igual a 70 anos.

a estes dois grupos, garante-se o direito de votar, mas não a obrigação de fazê-lo. vota se quiser. naqueles tempos da Academia BAR, eu vi o paralelo entre a lei do ventre livre e a lei dos sexagenários, mutatis mutandis. mais recentemente, vi o paralelo do voto obrigatório com a Lei de Gresham (a moeda má expulsa a moeda boa do mercado monetário).

resultado: o processo (mercado) político é poluído pelos maus políticos, que desqualificam a política, lançam-se ao patrimonialismo e pensam que lei do orçamento é leigo ornamento.
DdAB
http://spf.fotologs.net/photo/63/22/33/xelo_boss/1205880026_f.jpg

20 abril, 2010

falhas de coordenação

querido blog:
sempre que alguém, como dizíamos em Jaguari e algures, apela para a ignorância, os indivíduos de boa-vontade devem lamentar. sempre que um exército age coordenadamente de modo a destruir o adversário (ou derrotá-lo, dado o prévio apelo à ignorância), também devemos lamentar. sempre que uma torcida futebolística apela para a ignorância etc..

naturalmente qualquer solução pacífica é melhor, sob o ponto de vista social, do que qualquer solução belicosa. isto não implica ausência de competição, competitividade. a competição pode ser feita em termos absolutamente cândidos. o uso de recursos para depreciar os outros é que é socialmente condenável. ainda assim, os problema de coordenação existem em ampla escala em todos os aspectos da vida societária. quero acrescentar documentadamente (até por aí...) mais um deles.

ocorre que, dias atrás, um jovem foi eletrocutado ao sentar-se em um banco postado em uma parada de ônibus e colocar os braços sobre um balaústre. alguns governantes foram mais reticentes do que outros em assumir a óbvia responsabilidade pelo fato. se os governantes alegam -para justificar seus altos rendimentos- estarem onde estão por chamada popular e para atender aos interesses então segue-se logicamente que choques elétricos, assaltos a mão armada, assaltos de descuidistas, mau cheiro dos bueiros, o que quer que pensemos na vida comunitária, ocorre por desígnios ou omissão dos governantes.

como não poderia deixar de ser, ontem o novo prefeito da cidade visitou a família da vítima, a fim de qualificar-se para mais uns votos (pelo menos foi o que me disse um menino de rua...) nas próximas eleições. o jornal Zero Hora noticiou o fato em sua p.30 da edição de hoje. ocorre que ontem, ouvindo a Rádio Gaúcha AM (do mesmo conglomerado que abarca ZH), um repórter denunciou que o delegado fulano, encarregado do inquérito policial para apurar responsabilidades sobre o dolo, após esperar inutilmente pela chegada (voluntária) de funcionários municipais (da EPCT) abarcados pelo caso, jurou que a próxima convocação será formal. o próprio repórter conjeturou que o prefeito ficaria furioso com isto. na Zero Hora de hoje nada consta sobre esta desagradável fuga dos governantes municiapais e seus prepostos. para não pensar em incompetência ou má-vontade ou interesses escusos (o que sempre penso, quando se trata de políticos brasileiros), estou atribuindo o fato a um simples problema de coordenação na ação dos agentes. bonito, né?
DdAB
http://arquivos.tribunadonorte.com.br/fotos/54370.jpg

19 abril, 2010

mais sobre o futuro

querido blog:
acho que foi no tempo de Berlim que comecei a viajar na idéia dos "universals", seguindo a recente inspiração do livro de microeconomia de Samuel Bowles (que li naquelas paragens) e, mais antigas, as leituras do livro de sociobiologia de Edward Wilson. por acaso surgiu a antropóloga inglesa, cujo nome agora me foge como o macaco aos leões.

pois agora, lendo Ernst Mayr (O que é a evolução, Rocco, 2009), registrei que na p.272 ele diz:

Entre as poucas características exclusivamente humanas figuram o comprimeito menor dos braços em relação às pernas, a maior mobilidade do polegar, a ausência de pêlos no corpo, a pigmentação da pele e o maior tamanho do sistema nervoso central, especialmente do prosencéfalo.

no capítulo final do livro, intitulado "Como surgiu a humanidade", ele acrescenta considerações que nos permitem pensar que a linguagem é outro diferencial com relação aos animais e, como tal, comunalidade entre os humanos, descontados os casos de afasia/patologia. ao mesmo tempo, ele fala em estancamento evolucionário humano em virtude de fatores físicos terráqueos:
.a. ocupação de todos os nichos planetários
.b. intercomunicação física entre todos os grupamentos populacionais.
de minha parte já fui pensando que estas duas condições não são exclusivas, uma vez que o futuro remoto trará exploração espacial em naves ou mesmo em outros planetas. (esta hipótese parece-me não ser boa idéia, dados os abalos da vida planetária, como a ação recente do vulcão islandês comprova).

eu outras palavras, já falei e agora reafirmo que prevejo mudanças substantivas na condição humana, cuja sucessão alcançará o que chamei -num paper que encaminharei à American Economic Review ou outra- de humáquina. acho que, essencialmente, viveremos em taylor-made naves espaciais. e que, o mais importante para o júbilo, deixaremos este planeta aos aborígenes, ou seja, ao resto da macacada.
DdAB
http://clubevozdoarcanjo.blogspot.com/2009_11_15_archive.html

18 abril, 2010

quanto mais rezo, ...

querido blog:
talvez seja apenas retaliação a minhas duas últimas postagens, em que citei nominalmente Zero Hora, o lado luminoso, e a Zero Herra, o umbral escaleno, do jornal que leio diariamente. talvez não seja, mostrando apenas o engajamento (como também já referi por cá da minha inconformidade...) desse diário em pontos de vista que declaro eminentemente conseradores. seja como for, nas pp.30-31 de hoje há uma entrevista com Eduardo Kalina, médico argentino, em que podemos ler, entrecortadamente, o seguinte: "[...] é preciso cuidar [...] para que a droga não chegue até a pessoa." de minha parte, concordo em absoluto! e sempre penso que este cuidado não se associa à recepção de detentores de empregos precários como frequentadores dos pátios das escolas de todas as quase 500 cidades do Brasil (cf. José Eli da Veiga) e outros núcleos urbanos. agora vejamos o que segue:

Em vez de esse tema ser tratado por certos profissionais, sobre ele opina Fernando Henrique Cardoso, que fala de legalizar porque o mercado controlado acabaria com o problema. tenho o maior respeito pelo Fernando Henrique Cardoso, mas ele não tem nenhum preparo para falar sobre droga. Falam também músicos, pintores, políticos, jornalistas, e muito pouco se trabalha com profissionais da saúde. [...]

quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. acho que Zero Herra tem mesmo má fé comigo... primeiro, a questão do maior respeito por FHC, tema sobre o qual devo dizer que meu respeito já foi maior... segundo, se o entrevistado é mesmo adepto da idéia de que o ex-presidente da república não pode falar sobre drogas forço-me a crer que ele, articulista, é um ingênuo. acho mais, que seu corporativismo é visível. ademais, por falar em corporativismo, não seria o caso de ele deixar para os economistas a questão do estudo do mercado de drogas? tem preço? tem! tem quantidade que nivela -equilibradamente- a oferta e a procura? tem. então é caso para economista, não é para profissionais da saúde.

ok, ok, não sou corporativista, mas não acho que bibliotecários ou xerocadores, para não falar em advogados e zoólogos, devam ser proibidos de inserir-se na discussão sobre drogas, sua legalização e as melhores estratégias de reduzir o consumo. fazer precisamente o que diz o entrevistado -que a droga não chegue até a pessoa- é o canal. apontar à "pessoa" o caminho da liberdade, o caminho da auto-superação e o caminho do repúdio à burrice.
DdAB
http://iniciandociclos.blogspot.com/2010/03/quanto-mais-eu-rezo-mais-assombracao-me.html

17 abril, 2010

Brasília e a Comédia dos Erros

querido blog:
desconheço autor de blog, poeta, escritor, ciclista, jogador de futebol e outras aplicações do tempo de vida humano que não tenham citado William Shakespeare. eu o faço hoje com "brasília", que seria uma corruptela de "brasina da ilha", uma encrenca dessas, certamente se direcionando à semântica da "terra de ladrões". pois a comédia dos erros não é de Shakespeare nem minha, mas de Zero Herra, o jornal que leio quando me encontro em Porto Alegre.

hoje, na p.5 do "Caderno Cultura" tem uma reportagem ofensiva. vejos uma garota lá de seus 48 anos de idade muito sorridente, declarando ser a primeira a ter registro de nascimento na capital do rent seeking nacional. pois não é que o cliché diz o seguinte? "Jussara Maria Oliveira Santos, 59 anos, nascida em Brasília". achei ofensivo atribuir a uma mulher de cerca de 48 anos de idade a cifra de 59 anos. quer prova? leia mais abaixo: "Jussara Maria Oliveira Santos completa 50 anos em 26 de abril de 2010." não precisei tornar-me detetive particular para deduzir que não eram 48, como julguei, nem 59, como o jornal gaúcho difamou.

em 1960, eu recheguei ao Rio Grande do Sul, vindo de Mato Grosso, acompanhado de quase uma dezena de entes queridos. digo "recheguei", pois chegara em 1947 pela primeira vez, como andei revelando em meus escritos de "Vida Pessoal" há pouco tempo. independentemente de minha chegada, semanas depois, Brasília seria inaugurada. morando em Jaguari, andei lendo obras seriadas, como o Pererê e o Bolinha, em que podíamos divisar: "1960 - ano de fundação de Brasília". claro que achava estranho aquele "de, de". eu queria "ano da fundação de Brasília", peso que carrego até hoje, o de diferenciar artigos de acessórios...

para me não tornar excessivamente coloquial, vou dar um toque de economia política nesta postagem (ainda que não lhe reserve o marcador correspondente). em 1960, o Brasil apresentava o menor índice de desigualdade na distribuição da renda (Gini de 0,49) de todos os registros disponíveis. depois, o progresso, a urbanização, a fundação de Brasília, o sindicato dos ladrões, tudo o mais, contribuíram para uma escalada ascendente (teria "escalada descendente"?) deste índice, culminando, nos anos 1990 com um valor de 0,65 oslt. sem esquecer que, em virtude deste índice de Gini, foi libertado o governador agatunado (?), senhor Arruda. pode?
DdAB

16 abril, 2010

o crak quebra

querido blog:
que crak será aquele da imagem de hoje? e como será que "now" rima com "mes petits..."? a indústria do crack é chumbo grosso... li na Zero Hora de hoje que 72,5% dos moradores de rua de Porto Alegre usam crack. e ouvi no rádio que, na cidade de Rio Grande, apenas 5% o fazem.

claro que fiquei pensando nas severas condições de vida em minha cidade. uma cidade que autoriza a existência de moradores de rua, que abandona sua infância e velhice deverá ser tragada pelas chamas, como já andou acontecendo -disse lá uma bíblia- no Oriente Próximo. nunca me esquecerei da progressista cidade de Três Coroas -rota preferencial para quem quer espairecer em Gramado- e a autorização de seu prefeito para a instalação de uma vila precária precisamente na beira da estrada. nunca me esquecerei que tive a espantosa oportunidade de atropelar um menino lá de seus três anos de idade, andando quase debaixo das rodas de meu potente veículo, em seu triciclo. como eu disse "quase", estou implicando que não atropelei! agora, não podemos negar que o prefeito de Três Coroas deu-me esta inacreditável oportunidade de fazê-lo.

volta a velha questão: não é que o menino não tenha direito de lazer em seu triciclo (de segunda mão...), mas que ele tem direito de um ambiente mais sereno para suas investidas no mundo das rodas. e -em nenhuma hipótese- nas de meu potente bólido.

indago-me quanto ganha por mês o político encarregado de responder pela prefeitura de Três Coroas, quanto ganha cada assessor, secretário, vereador. quanto ganham os deputados, juízes de direito, delegados de polícia. e, claro, tudo vale para Porto Alegre, com seus desvalidos fumadores de crack. só com os tiros da Valentina oslt de Roy Lichtenstein oslt.

por outro lado, li nas p.4-5 da mesmíssima Zero Hora, uma reportagem com o título "Um guia par votar melhor". fora a questão de que os adjetivos não deveriam modificar verbos (apenas os advérbios é que deveriam fazê-lo...), temos o elogio da iniciativa cidadã -por assim dizer do carimbadíssimo jornal- de um modelar cientista político, o Prof. Paulo Moura. diz ela que diz ele: "[...] a quantidade e variedade de informações oferecidas na interenet formam uma peneira virtual capaz de separar os bons dos maus políticos."

quer dizer, o problema daquele menino do triciclo é que seu pai não usou adequadamente o computador e, como tal, deixou-se ludibriar pela candidatura do prefeito, cujo mandato agora até expirou. pensar o mundo desta maneira é o fim-da-picada. logo eu ler isto, que vivo alardeando a importância da "sacada" de terceiros que associam o voto obrigatório ao mecanismo do dinheiro dobrões de ouro e prata: quando um "vale" mais do que o outro o que está por baixo expulsa o de cima do mercado. mutatis mutandis, com o instituto do voto compulsório, o mau político elimina o bom do mercado. claro que quem vota em mau político não usa toda a quantidade e variedade de informações oferecidas na interenet, a não ser seus parentes e apaniguados, os legendários detentores de "cargos em comissão". o crack quebra, a política corrompe. a saída ainda está distante.

inspirado nessas informações, volto-me à poesia, em que procuro inovar formalmente com separações de sílabas para tentar (sem sucesso) uma métrica de rimas ricas:

nesse período de expo-
sição ao macarrão,
o que não foi pou-
co, só posso ter fi-
cado louco.
DdAB
(fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1I30SH9j3PJxvsz7LHmjngBRRqVHKsY2_aFnVw6OQc7ctMaZopId2H65cWyn7hP0ghNvXpii4y8WQS4ecE1Iop2sJInZVHqqZEe_6TegBMNpmyOsXH4cbodc4GeV5bbphyzx9pWbJS76n/s320/Crack+Roy+Richtenstein.jpg)

15 abril, 2010

choque de gestão

querido blog:
falar em choque de gestão numa terra (Porto Alegre) em que um jovem de 20 anos de idade é eletrocutado pelos governantes pode parecer coisa da China. esta, com suas oito mil condenações à pena de morte anualmente, qualifica-se como do clube dos malvadeza-durão, na linguagem de Zé Kéti. em Porto Alegre, a placa que acima estampo (e referencio abaixo) fez falta.

faltou competência para o governo, houve desencontros entre o estadual e o municipal. os governantes ou são eleitos, cabendo a investidura no cargo como antídoto a qualquer possibilidade de que se faça justiça, ou são nomeados pelos eleitos, os populares CCs, ou seja, detentores de cargos em comissão. ou seja, levam o cargo e suas investiduras e ganham comissão pecuniária por isto. nada falamos sobre choques de gestão.

claro que o primeiro item para o choque de gestão é a profissionalização da administração pública neste intrincado país. não quero dizer que um juiz profissional deva ter cargo hereditário (como, lamento reconhecer, tem) nem que um funcionário público ganhe R$ 27.000, num país de renda per capita de, digamos, R$ 1.000 por ano! ou seja, 12 x 27 vezes mais do que o brasileiro médio.

o segundo item para o choque de gestão é acabar com as diferentes instâncias de atendimento do público: secretaria dos transportes, secretaria da elergia, secretaria do presídio. cidadão deveria ter o direito de falar com um funcionário público que deveria responder por todas as frentes de atrito entre o primeiro e o governo dos homens.
DdAB

http://www.fisiostore.com.br/images/product/SINA-220BC_298.jpg

14 abril, 2010

Adeus às Armas: prisão perpétua

querido blog:
eu nem queria alongar-me. mas -para fazer explícitos todos os vínculos que me acorreram à cabeça, não bastarão duas ou três palavras ou um sistema de equações. não sei se estou do lado dos conteúdos do site de onde retirei este revólver desativado. no caso do Brasil, este país de ladrões (político rouba pobre e ladrão comum rouba ricos...), fala-se em cancelar a lei da anistia para a turma da ditadura.

acho esta uma palavra de ordem tão tartamuda quanto as velhas campanhas em favor das eleições diretas para presidente, da monarquia ou república e do "diga não às armas". o povo disse "sim!" e eu, pela primeira vez na vida, fiz desobediência civil, jurando (era o ano do "mensalão") nunca mais votar, nunca mais comparecer ao tribunal para prestigiar o voto compulsório. ou seja, no plebiscito das armas, pensei com meus trôpegos sapatos: "não pode portar arma nem pode ser proibido portar arma", os abobados que fizeram o plebiscito enriqueceram e, mais, enriqueceram os rapazes da empresa que vendeu os recibinhos de "em dia com as obrigações eleitorais" para 100 milhões de eleitores. fora os fantasmas...

sobre esta questão dos torturadores, minha opinião é similar à que esposo sobre a corrupção: não era melhor começar para valer daqui a 20 anos? não estamos muito em cima dos fatos, o que nos impede de poder realmente promover uma organização popular que desalinhe (ou seja, baixe a lenha) os políticos (ergo, ladrões) da atual geração.

por outro lado, Heminguay, ao dar adeus às armas, com a estrondosa derrota que os republicanos espanhóis sofreram de seus irmãos, os franquistas, tinha claro (pelo menos é o que deduzi da leitura cifrada da p.123 do livro da Editora GangeS) que a pena de morte é um crime de lesa-humanidade, como a tortura, a pedofilia, as sevícias à infância (e.g., o puxão de orelha e a infibulação), o incesto, e tudo o mais. abaixo o relativismo cultural! sendo crime de lesa-humanidade, como é o caso do rapaz que, solto por um juiz que ganha R$ 27.000 mensais, tomou a liberdade de matar mais seis criaturas.

claro que sou contra a pena de morte, mas não vejo razão para que ele não pague com a perda permanente da liberdade este "nefando ato" (na expressão que aprendi com Carlos Heitor Cony, agora ele -não eu, meu chapa- jogando na ponta direita.
DdAB
(ver: http://portugalparafrente.blogspot.com/2008/11/priso-perptua-para-torturador-e.html)

13 abril, 2010

sinecuristas

querido blog:
a primeira vez que ouvi a palavra "sinecura" e seu praticante, o "sinecurista", ocorreu com minha condição de aluno da disciplina de contabilidade social, há milhares de anos. hoje decidi falar sobre o que diz Aurelião:

sinecura: [Do lat. sine cura, 'sem cuidado'.] S. f. 1. Emprego ou função que não obriga ou quase não obriga a trabalho; prebenda, veniaga.

já não sei o que é "veniaga. lá diz ele:

veniaga: [Do mal. bernyaga, 'comerciar, mercadejar'.]
S. f.
1. Mercadoria, artigo, produto.
2. Comércio, tráfico.
3. Fig. Trapaça, tramóia, tranquibérnia.
4. Procedimento de agiota.
5. V. sinecura.


claro que sei o que é prebenda, mas não sou tão familiarizado com tranquibérnia, meio aparentado com os Bêrni? seja como for, aparentemente, um indivíduo detentor de uma sinecura não é, dir-se-ia, trigo limpo. por seu turno, falar em "Do mal. bernyaga" certamente nos lembra do MAL*, o Movimento pela Anistia aos Ladrões*, ou seja, o movimento que pretende instaurar a moralidade na política brasileira daqui a 20 anos, de sorte a deixar a atual geração de dignitários à vontade para criar regulamentações anti-furto incidindo sobre seus sucessores.

e que dizer do presidente do Banrisul (ou seja, funcionário público, ou seja, banqueiro indicado por político) que foi indicado pela governadora Yeda para compor o tribunal militar? digo que, se bem lembro, andaram falando em fechar o tribunal militar. o desastre do governo Yeda é algo a enlouquecer gregos e troianos. e indicar um rapaz de tradição bancária, a fim de julgar os crimes militares é casca grossa. e, pior, não julgar nada, pois o tribunal está em processo de fechamento.

e sempre me pergunto: como é que faz para ganhar este tipo de nomeação, eu que tanto entendo de crimes civis e militares? ou todos nos locupletamos, ou restaure-se a moralidade (nesta ordem, né?).
DdAB
ver: http://sinecura.be/images/logo.gif

12 abril, 2010

Produtividade & Bitols

querido blog:
que seria dos Bitols sem os Beatles? Os Bitolados? OsBesouros Andarilhos? muitas divagações. na verdade, nem sei muito bem quem são os Bitols, apenas os vi citados na p.4 do Guia Hagah! de Zero Hora. mas a internet está cheia de respostas a pedidos de imagens com estes simples seis dígitos. tá na cara que, ao terem feito precisamente o que fizeram, e poderiam ter feito ligeiramente diferente, com resultados ligeiramente idênticos, os Beatles elevaram a produtividade do trabalho de todo o mundo, inclusive dos rapazes que neles se inspiraram e, talvez, em selos de "bitolados" para criar o nome do conjunto, conjeturo. eba! fazia tempos que eu não fazia frases com a que fiz neste tempo.

agora, mais interessante é a questão simétrica: que seria dos Beatles sem os Bitols? primeiro pensei nisto, e a resposta é uma das características fundadoras da vida moderna, nomeadamente, as economias de escala. sem milhões de fãs, não haveria vendas milionárias da parte dos Beatles. isto é meu aprendizado com Samuel Bowles, o maravilhoso livro de microeconomia de que falo sempre que me levo a sério...

naturalmente, para um economista de meu porte, id est, permanentemente preocupado em entender os vínculos distributivos de tudo o que ocorre na esfera econômica doPlaneta Terra, o que interessa saber é: qual a participação que eu deveria ter nos lucros dos Beatles simplesmente por tê-los amado, mas -mais que isto- por -em tendo-os amado- ter ajudado a alavancar suas vendas, as vendas de suas camisas, as vendas de seus CDs piratas, epa. quanto eu deveria receber na hora da distribuição dos ganhos de produtividade de uma rede simplesmente por dela participar. desde que passei a declarar-me "economista político", tenho claro que nem tudo o que é relevante no processo de escolhas econômicas está "resolvido" pelo mercado. ao contrário, o simples "livre jogo das forças de mercado" esconde interesses às vezes irrelevantes (tá bem assim, deixa os Beatles ricos e a menina Taiana morta) e outras vezes interesses pedindo regulamentações por parte da comunidade (ou do -temo falar, dada a ladroagem universal- estado).

ao começar a postar, dei-me conta de que busquei uma inversão de causalidade que aprendi ao ler o romance "Small World", de David Lodge, há milhares de anos. ele Lodge disse algo como a forma com que os modernos influenciaram a leitura de Chesterton, Shakespeare, Chico Xavier, sei lá, pode ser vista como uma chave para entendermos os acontecimentos contemporâneos, sei lá.
DdAB
[fonte da ilustração: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir36th8kC1Dl98-MQsmEl9bm4ogIwlFbBLjSovfCsge9n4dChoQFwjDtOWt9B8BzHhIjXszQGpHmQsTdqmuqmJHaZ1L4E0AiVj1KQm53-50wESf9yoCMrJOsgJ04cUm6QK3chU4Fyj7Ns/s1600/arte_impresso_m%C3%ADdia.jpg]

11 abril, 2010

mais de 31.416...

querido blog:
vida pessoal: não tenho a menor idéia de onde se situa essa rua, de quem mora naquelas casas, de que tipo de árvore foi abatida para construir aquela cerquinha. nem se o nome dela é Adalbert Strasse. mas posso garantir que, em minha vida pessoal, tirei uma foto bem na plaquinha de uma Adalbert Strasse em Berlim. concorrida foto em tarde-noite de, digamos, janeiro ou fevereiro de 2007. bela foto, belos tempos, bela cidade, belo experimento histórico para a humanidade. duas guerras, milhares de mortos, essas coisas que fazem um coração apaixonado pela humanidade ter lá seus ritmos de bumba-meu-boi.

escritos: escrevi 31.417, ou seja, mais de 10 vezes o número pi, palavras sobre uma personagem de ficção que pretendo oferecer ao mundo, ainda que mais para meu auto-contentamento do que do quê. esta personagem vai chamar-se Adalberto Strace, um detetive particular que desvendará todos os crimes dos políticos (ergo, ladrões) de todos os países do mundo, de Adis-Abeba a Zagreb, sei lá. e, por ironia, quem irá à cadeia será precisamente o Mister Strace.

economia política: um alcaguete que pulou das páginas de meu romance policial (ver "escritos", acima) denunciou o geólogo e professor Adalberto da Silva, da Universidade Federal Fluminense, como autor de um trabalho que dizia que não era boa prática erigir um assentamento humano sobre uma montanha de lixo. uma vez que o lixo do aterro do Itacorubi, em Florianópolis não se encontra disposto em formato de montanha, mas como lâmina sobre um mangue, não estamos falando da "Ilha da Magia", seguindo-se logicamente que o tema desta postagem é a tragédia do Morro do Bumba.

não era o caso de lançarmos os famosos raios pumba sobre os políticos nacionais e estrangeiros, requerendo -em forma de tombos- que eles passem a ser reciclados de sorte a levarem existência digna? nem era o caso de trocarmos os lixões por ruelas como esta suposta Adalbert da efígie hignenizada lá da ilustração desta postagem?
DdAB
p.s.: corrigendum (ou auto-crítica)
viajei pelo blog http://www.julianasphynx.blogspot.com/ e vi o registro da autora sobre o plágio. pensei que não pratico este vício, pois todas as imagens que seleciono vêm acompanhadas da fonte com um simples clicar de mouse. ledo engano. fiz um teste com a postagem dos panetones (27 de dezembro/2009) e caí em meu próprio blog, ou seja, agi como se a foto fosse algo gerado espontaneamente. pois mudarei minha conduta. hoje, temos: http://static.panoramio.com/photos/original/23217609.jpg. bye now.

09 abril, 2010

Blim-blim-blins do Bumba

querido blog:
na tragédia fluminense-carioca reproduz-se a tragédia brasileira e de todos os países de baixíssimo nível de desenvolvimento comunitário. as forças da natureza atacaram sem piedade uma população predada por políticos e ladrões, ou seja, os mesmos agentes sociais. com a diferença que ladrões roubam os ricos e os políticos roubam os pobres.

temos um ministro baiano e agatunado, como Rui Barbosa e outros, que -dizem- deu verbas de saneamento ou sei-lá-o-quê na proporção de 0,6% para o Rio e 37% para a Bahia. claro que em dinheiro absoluto (?), os 0,6% podem ser mais do que 37%, claro... ou seja, 0,6% de um milhão é mais do que 37% de 100... segue-se necessariamente que o nome do ministro é Geddel Vieira Lima. não sei se ele é agatunado, apenas reproduzo o que li na imprensa local há muitos anos, muito antes de sua metamorfose em ministro do governo Lula da Silva.

by the way, por falar nos Silvas, o Diário do Sul, na p.2 diz que o Sr. Jorge Luís da Silva (sic) declarou sobre sua tragédia familiar: "Minha filha, cheia de sonhos, está embaixo desse lixo." Ele tem 29 anos, ela tinha 13, ou seja, se é pai sanguíneo, gerou-a aos 16. Brasil.

meu ponto é que as forças da natureza têm lá sua autonomia aqui e ali, mas o homem também tem seus mecanismos de controle para um expressivo número de emergências. no caso, o dinheiro da sociedade igualitária foi roubado, logo não houve cuidados pessoais e ambientais prévios que amenizassem o ataque natural, tornando-o -de lobo- em cordeirinho.
DdAB

07 abril, 2010

despretenciosa escassez

querido blog:
estivesse eu num ambiente como o acima talvez, despretenciosamente, pudesse estar fazendo precisamente esta postagem. não li em Zero Hora o tema, ouvi-o na Rádio Pampa ou outra de ondas médias. um orador com sotaque não integralmente gaúcho. falou muitas coisas dignas de olvido e, inadvertidamente, ouvi-o dizer que a tragédia que hoje abate o Rio de Janeiro era inevitável.

ora, eu admito que haja ocorrência de desastres naturais que não requerem autorização humana ou sua obstaculização. todavia tenho dois óbices, para ilustrar minha postagem de hoje. o primeiro, vim a entender, não é bem-vindo por muita gente: há gente demais no planeta. obviamente não quero dizer que haja cérebros demais, pois ainda falta muito para a humanidade declarar-se realmente conhecedora de diversos mecanismos basais do funcionamento do universo e, muito mais banal, do próprio planeta Terra, not to speak of o conhecimento do corpo humano, inclusive -o que é mais diabólico...- o cérebro.

é impossível produzir cérebros caprichados quando em montões de cantões do planeta sequer se pode alimentar a barriga. se falta comida, faltará educação, faltará esporte e faltará arte. quer dizer, não será por meio da universidade das ruas que saberemos, afinal, se temos 10 bilhões ou 100 bilhões de neurônios. ou seja, para produzir melhores cérebros, o bom mesmo é que não haja tanta barriga para encher, se me faço expressar adequadamente.

em segundo lugar, há algo mais na teoria de incriminar a vítima. pela própria natureza da escassez relativa do planeta, há gente morando nos mais escalafobéticos locais, desde a calota polar do norte até beiras de abismos e topo de vulcões. mas pior ainda é a mania humana de comer seus parentes, os mamíferos e, de maneira mais radical, todos os demais bichos. claro que, no futuro decente, quando os cérebros puderem trabalhar adequadamente, deixaremos o planeta para os animais curtirem seus próprios ditames da cadeia alimentar. abandonaremos nossa condição de reis dos animais, no sentido de mastigá-los, inclusive aos leões.

concluindo este segundo item, parece que a catástrofe do Rio de Janeiro poderia ter sido amenizada. claro que se lá houvesse urbanização decente, bom trabalho nas margens dos rios e tudo o mais, teríamos enxurradas menos devastadoras. claro que o vilão não é o pessoal do Pasquim que tomou a governança do estado, claro que não são os traficantes de drogas. claro que é um movimento coletivo de desmandos que pode ser desfeito por esses dignitários, na medida em que eles venham a organizar as preferências coletivas e, principalmente, usar o dinheirinho de que lançam mão para o bem e não para aumentar o índice de Gini local.
DdAB

06 abril, 2010

Aecinho e os mandatos de cinco anos

querido blog:
comparado comigo, Aecinho é um menino, digo, em termos de vitalidade, combatividade, vida noturna, idade, essas coisas perfeitamente mensuráveis pelas escalas de medida mais rigorosas. temos em comum, ele, eu e a torcida da dupla Atlético-Cruzeiro, uma preferência acentuada por pães de queijo, o que me deixa de água na boca com esta postagem, digo, com os pães de queijo acima definidos...

pois, de volta a Porto Alegre, ainda não pude desvencilhar-me dos problemas que me acompanham com a mudança do fuso horário, os compromissos iniciais da chegada e, sobretudo, o fato de que ainda não me desvencilhei de preocupar-me com a bagagem extraviada pela Air France, mas que foi localizada por eles e, por mim, ainda segue desvencilhada.

não é que ontem eu iria fazer uma postagem comentando um nome de gente com um prenome e, pelo que contei na notícia do jornal Zero Hora de domingo, uns 35 sobrenomes de gente ilustre e outros nem tanto (por exemplo, havia um ancestral Almeida, o que me levou a pensar - dados os milhares de ancestrais ilustres, além do indigitado - que se trataria de Manoel Antonio de Almeida, ou algum general...) e extasiando-me com a profissão que vi atribuída a uma jovem de 25 anos (ou eram 26...): turismóloga. com esta dos turismólogos, achei que perdera meu tempo quando dera aulas de introdução à economia para estes futuros profissionais, chamando-os simplesmente de estudantes...

e não é que, neste clima, dei uma olhada na postagem imediatamente anterior a esta e deparei-me com as declarações de Aecinho sobre a política brasileira e em particular a duração dos mandatos de cargos eletivos. fiquei a pensar o que dizer de alguém que, desde 1989, é favorável a mantatos eletivos de cinco anos e depois de alguns anos acha que a posição antagônica a sua é irreversível.

fico em dúvida sobre qual será o tipo de mecanismo que o subrinho do homem considera ter entrado em ação, no Brasil, para que seja tão esmagador o apoio à idéia de mantatos eletivos de quatro anos, com direito a diferentes níveis de reeleições. e seria o caso de falarmos mais nas possibilidades de reeleição:
.a. neguinho se elege para vereador (como foi o caso do ex-governador Jayr Soares) e, dois anos depois, se elege deputado estadual; dali a quatro anos, então já são seis, elege-se novamente para deputado estadual. fecham-se 10; garra eleição para senador, passa a 18 anos de mantatos remunerados ininterruptos. neste integregno, também pode ter garrado umas cinco ou seis aposentadorias. seja como for, reelege-se senador, vamos a 24. desiste na metade do caminho, retornamos a 20, mas elege-se deputado estadual novamente, para dar lastro a candidaturas de amigos de seu partido.
.b. neguinho se elege vereador, quatro anos, elege-se prefeito, mais quatro; reelege-se, fecham-se 12; renuncia nos seis meses anteriores, caímos a 11,5, mas candidata-se a deputado federal, passamos a 13,5.
.c. juízes de direito, os de tamanho 27 (ou seja, que recebem R$ 27.000 mensais), que se elegem privilegiados e detêm cargos vitalícios. não contentes com isto, elegem também seus filhos, netos, esposas, esposos, parentes, amigos, eleitores, como detentores de cargos nepóticos, com direito a sucessivas reeleições, ad infinitum.

e eu penso que o pior mesmo será o mundo regado a chineses e indianos. e, ao dar-me conta de estar pensando nisto, penso que posso estar pensando coisas pesadas porque já comecei a temer os assaltos brasileiros novamente, ao caminhar nas ruas, ao ver-me trancafiado em minha casa, com grades e auxiliares de segurança. claro que penso que, se Aecinho vier a eleger-se e reeleger-se presidente da república, tudo pode mudar ou todo pode permanecer intocado.

o que agora me dá alento, dada a inevitável vitória da chama branca Serra-Dilma é que Henrique Meirelles e -com ele- o FMI podem reeleger-se como tutores da brasilidade.
DdAB

04 abril, 2010

Aécio na 'Veja' e o voto nulo

querido blog:
ao chegar a São Paulo, tomei café e comprei a Veja. o café me fez bem e a Veja fez mal, como poderíamos esperar... li a entrevista de Aécio Neves, governador de Minas Gerais, sobrinho do pimeiro ministro do primeiro governo parlamentarista do Brasil, o finado Tancredo Neves. será que Aécio teve mais chances na vida e na política do que o Sr. José da Silva precisamente em virtude de sua relação de parentesco? para mim, nada é mais óbvio do que isto.

pelo que andei lendo na imprensa, tempos atrás, ele também é boêmio, noctívago, conquistador, essas coisas de gente comum, diversas -portanto- das vilegiaturas e liturgias cabíveis de serem esperadas da parte de um político sério. em resumo, o Aecinho nunca me agradou. e agora, que o vejo identificado com a chapa Serra-Dilma só posso rir de quem pensa que sairá algo de útil deste processo eleitoral que começa a pegar fogo. é tudo ladrão! tem que começar tudo de novo: um partido com alguns vereadores, depois prefeitos e deputados, depois governadores e presidentes. tem que ter uma reforma política decente, em que o presidente seja o chefe do estado e o primeiro ministro chefie o governo, aquela viagem inglesa. e tem que fazer muito mais coisa.

que diz Aecinho sobre a ladroagem?

Quase todo mundo percebe quando a política está sendo exercida como uma atividade nobre, sem mesquinharias, com transparência e produzindo resultados práticos positivos. A política, em si, é a mais digna das atividades que um cidadão possa exercer. Os gregos diziam que a política é a amizade entre vizinhos. Quando traduzimos para hoje, estamos falando de estados, municípios e da capacidade de construir, a partir de alianças, o bem comum. Vou lutar por reformas que possam tornar a política de novo atraente para as pessoas de bem, que façam dessa atividade, hoje vista com suspeita, um trabalho empenhado na elevação dos padrões materiais, sociais e culturais da maioria. É assim que vamos empurrar os piores para fora do espaço político. Não existe vácuo em política. Se os bons não ocuparem espaço, os ruins o farão.

já falei em reformas fundamentais, mas não falei de uma que ele tampouco falará: o voto voluntário, ainda que ele tenha acenado com o argumento da lei de Gresham (o mau político expulsa o bom do mercado político). voltarei a este ponto.

agora, ele mesmo se contradiz com a visão de que tudo começou com Fernando Henrque ou Itamar e não com Lula. a verdade é que o Brasil começou muito antes de 1994, mesmo muito antes de seu tio Tancredo ter sido primeiro-ministro de João Belchior de Marques Goulart:

Se um extraterrestre pousasse sua nave no Brasil e ficasse por aqui durante uma semana sem conversar com ninguém, só vendo televisão, ele acharia que o Brasil foi descoberto em 2003 e que tudo o que existe de bom foi feito pelas pessoas que estão no governo atual. Os brasileiros sabem que isso é um discurso vazio. Não teria havido o governo do presidente Lula se não tivesse havido, antes, os governos do presidente Fernando Henrique e do presidente Itamar Franco. Sem o alicerce do Plano Real, nada poderia ter sido construído.

olha a reforma política delatada por ele. primeiro, isto é ser mineiro: desde 1989, prefere mandatos de cinco anos, tanto é que já se elegeu e reelegeu em mandatos de quatro, ao segundo dos quais acaba de renunciar. quando diz que tentar mudar este status quo é irreal, talvez esteja sendo de cima do muro, pois significa que não quer mandatos de cinco anos. eu sou defensor ardoroso de permissão de reeleição para todos os tipos de mandatos. ou seja, sou de opinião que ninguém deveria ter três mandatos consecutivos, nem vereador, nem presidente, nem os vitalícios do poder judiciário. aí vem ele:

Eu prefiro mandatos de cinco anos, sem reeleição. Defendo isso desde 1989. Mas, hoje, pensar nisso é irreal. A reeleição incrustou-se na realidade política brasileira de maneira muito forte. A prioridade deveria ser uma reforma política que incluísse o voto distrital misto. Isso aproximaria os eleitores dos deputados e ajudaria a depurar o Parlamento.
sobre o messianismo do Presidente Lula, ele rebate com seu próprio culto, ou melhor, com o culto a sua pessoa:

Eu tenho muita vontade de participar da construção de um projeto novo para o Brasil, em que a nossa referência não seja mais o passado, e sim o futuro. Sem essa dicotomia que coloca em um extremo o PT e no outro o PSDB, e quem ganha é obrigado a fazer todo tipo de aliança para conseguir governar. Assim, paga-se um preço cada vez maior para chegar a sabe-se lá onde. O PT deixou de apresentar um projeto de país e hoje sua agenda se resume apenas a um projeto de poder. Eu gostaria de uma convergência entre os homens de bem, para construir um projeto nacional ousado, que permita queimar etapas e integrar o Brasil em uma velocidade muito maior à comunidade dos países desenvolvidos, de modo que todos os brasileiros se beneficiem desse processo.

estas siglas carimbadíssimas pelos mesmos homens de sempre agora digladiam-se como PT e PSDB, c'est tout la mêmme chose. por isto defendo que a chapa Serra-Dilma é palha! e começo a recuperar o mote que usei há dois e quatro anos:

política no Brasil? não vote.
ou, se tiver que votar, anule o voto.

DdAB

02 abril, 2010

a quanto viene?

querido blog:
o bigodão daquele desconhecido que aponta uma arma para o outro unknown poderia estar sinalizando para um tempo em que o petróleo e a gasolina subitamente se tornaram enormemente caros. tomei-os de empréstimo ao Google Images, como é meu hábito para ilustrar estas postagens. como quase sempre, esta foto foi-me oferecida ao procurar com "a quanto viene"?

terei dito que aprendi diversas palavras em italiano, "magari", "imparare", "venerdi" e outras. meu estoque já está maior do que o da língua alemã: "bier" e "mitvoch". não garanto pelas grafias de nada. seja como for, tudo isto, especialmente o "imparare", ou seja, "aprender" (que também tem o "aprendere") lembram-me lições de economia política. mas o que me fez postar esta despedida pescariana foi mesmo o "a quanto viene":
-a quanto viene?,
indagou uma senhora a um vendedor da livraria La Lunardelli, na Rua Umberto I. ele respondeu:
-viene a veintoto.
uns troços assim, tudo em italiano. seja como for, aquilo -para mim- foi uma profundíssima lição de economia política, como acabo de sugerir.

primeiro, porque estou lendo (cerca de 50 páginas) do verbete:Philosophy of Economics. Disponível em: http://plato.stanford.edu/entries/economics/. Acesso em 31/mar/2010.

e lá pelas folhas 15 deparei-me com uma questão interessante que me trouxe o genial economista Eduardo Grijó. haverá diferença entre "sistema econômico" e "ciência econômica"? colocada nestes termos, a questão é relativamente simplificada. seja como for, no texto da enciclopédia de filosofia de Stanford, diz-se que foram os mercantilistas, influenciados pelo desejo de promover políticas econômicas (comércio externo e tributação), que começaram a perceber que havia algo lá fora, do porte da religião, da arte ou das regras de boas maneiras à mesa, que exibia tantas regularidades que merecia ter suas próprias regras investigadas.

não há maiores dúvidas para mim que "mercantilista" não é um comerciante, mas um indivíduo que se insere numa escola particular de pensamento econômico chamada de "mercantilismo". da mesma forma, talvez o que terá feitos os pósteros classificá-los como mercantilistas e aproveitarem e também falarem em fisiocratas, foi que o objeto de sua investigação era a busca de regularidades que permitem que o "mundo econômico" funcione diuturnamente.

aqueles carinhas, inclusive Adam Smith, eram da pá virada, como o comprova o nome de Richard Cantillon, que -segundo entendo:
.a. talvez nem tenha existido
.b. mesmo sem existir, teve um poderoso insight sobre o fenômeno capturado pela matriz inversa de Leontief, sobre o preço da seda e o preço do vinho.

segundo: retorno ao "a quanto viene?". em sala de aula, há milhares de anos, eu insisti com os alunos que deviam pensar:
.a. em como suas próprias ações do cotidiano, entre escovar dentes e selecionar a porta mais conveniente do metrô como manifestações de princípios gerais que regem o comportamento deles próprios e de todos os demais humanos (exceto crianças, criminosos e, principalmente, loucos) que podemos enfeixar no fascio (epa!) "racionalidade".
.b. chamava-lhes a atenção ao fato de que nossas crianças já nascem doutrinadas para a vida econômica e, ao pedirem picolé (ou fichinhas para carrinhos do parque de diversões), não dizem:
-dá-me um picolé!
mas "me compra um picolé", com visível erro de colocação do pronome átono, mas -mais marcante ainda- com visível percepção do funcionamento do mundo econômico e a constatação de que picolés e muitas outras mercadorias são precisamente mercadorias, ou seja, não são bens livres ou dádivas. não nascem em árvores, mas são cultivadas pela mão humana.

segue-se logicamente que, quando uma senhora indaga ao vendedor de livros: "a quanto viene?", ela está certa de que não foi ele que fez o livro que a interessa. ou seja, ela sabe que a divisão do trabalho na sociedade criou os ramos industriais, como o comércio, a indústria editorial e gráfica e a indústria de alimentos (picolés), not to speak dos serviços como parques de diversões.
DdAB
p.s.: amanhã, começo o dia em Pescara, pulo a Roma, Paris, São Paulo e termino a noite em Porto Alegre. tudo a jato!