23 março, 2010

Sociedade do Futuro e Fotografias

querido blog:
tá tudo no Google Images, não é mesmo? conhecer Escher perturbou-me mais do que conhecer os Rolling Stones, mal comparando. e nada melhor do que uma de suas gravuras para refletir sobre fotografia. procurei com "sociedade do futuro", como na epígrafe. e veio-me alguma coisa interessante, inclusive o livro Walden, de Henry David Thoureau.

um dia, refletirei sobre, como se diz em alemão, "dudo chundo 'reunido", ou seja, Swift, Morus, Defoe, Rousseau, Skinner, Huxley, essa macacada toda que escreveu sobre utopias e distopias. não sei se foi o Armstrong do jazz ou outro jazzista (Gilespie?) que teria dito que preocupa-se com o futuro, pois é lá que vai viver. no outro dia, falávamos sobre epitáfios e Antonino falou em um mais ou menos assim: "foi bom, não é mesmo? vemo-nos em breve aqui embaixo". em resumo, a menos que aquelas teorias sobre as caixas de neutrinos e o Cinema Cacique, sei lá, estejam certas, não há muito o que esperar do porvir. seja como for, fica-me a frase de Ray Bradbury que aprendi em Berlim (mas que ele disse sei lá aonde): vivemos numa espaçonave cuja tripulação vai trocando ao longo da viagem.

seja como for, ninguém sabe com exatidão o que será do futuro, exceto uma categoria muito especial de meninos, descritos por seus pares -há algumas décadas- como "adivinhão". naturalmente, suas previsões distinguem-se das que alcançamos com o uso de técnicas mais modernas, como a leitura espelhada do céu estrelado e a tomografia das vísceras dos animais domésticos. na verdade, li na agora já saudosa Zero Hora há algum tempo uma crônica de Moacyr Scliar em que ele dizia que a batalha final ocorrerá entre os que têm animais domésticos (cães, em particular) e os normais. eu acho que este é mesmo um tema importante e associo-me a Eduardo Dusek na palavra de ordem: "troque seu cachorro por uma criança pobre". mas, mais malvado, sou de opinião que cachorro de rico também deveria pagar imposto de renda. (mas cachorro de pobre também!).

mais importante do que esta clivagem entre cães e homens, pobres e ricos, existe o espantoso divisor de águas entre decência e inconveniência dado pela legião de batedores de foto (os de filmezinhos de telefone já caíram no opróbrio mesmo nos dias que correm). strange days indeed, disse o John. a verdade verídica é que, quanto menos tu aparecê nas foto, maiores serão teus créditos para a aquisição de bens ou serviços que te empurrem a uma curva de indiferença superior à da macacada do click-na-tua-cara.

prevejo que nosso bem-estar (estamos do mesmo lado, não é mesmo) botará no chinelo o dos donos de cães e gatos e dos batedores de foto de telefone.
DdAB

3 comentários:

Sílvio e Ana disse...

O futuro é uma coisa engraçada.
Ontem, conversando com um especialista em som, descobri que o vinil ainda não foi superado no que diz respeito à qualidade de reprodução da variadíssima gama de sons musicais. Eu também sei que as máquinas fotográficas digitais ainda não conseguiram superar as de filme em termos de qualidade de imagem. Já sei, há muito tempo, que uma caneta esferográfica não supera uma a pena. Sei que a educação "pela internet" nunca vai superar aquela em que o professor está ali ao lado. Mas o futuro vai encontrando soluções "mais práticas", mais viáveis do ponto de vista econômico: vivemos em uma época em que as lâmpadas são vendidas com ar dentro para terem sua duração reduzida de quase eternas para um ano, no máximo.
Caminhamos para um futuro que, para ser bom, deveria voltar ao passado. Talvez fosse o caso de dizer - como é mesmo aquele adágio popular? - : "No futuro adeus pertences."
(Sílvio)

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

é Sílvio:
na linha dos modelos friedmanianos de que falei (aquele negócio do "as if", o mundo funciona "como se" fosse um modelo...), penso que há um limite para a acuidade da reprodução do mundo, que é dado pela acuidade dos próprios sentidos humanos. por exemplo, não há necessidade de uma máquina (vinil ou não) reproduzir sons que não são capturados pelo nosso ouvido. da mesma forma, um piano-analógico e um piano-digital: para que aqueles sons agudíssimos, se não somos cães? um dia, vi uma propaganda de câmera dizendo que agora chegou uma geração ("compre, compre") que as diferenças não mais são significativas para o olho humano. os gregos disseram que "o homem é a medida de todas as coisas" e acho que não precisamos de i-Pods com 1 bilhão de canções. mas não podemos esquecer que "entre um de 500 milhões e outro de 2 bilhões, ficarei com o segundo". pelo menos é o que dizem os economistas...
DdAB

Sílvio e Ana disse...

O que eu disse é um pouco diferente de como você interpretou. Eu disse que nós já possuíamos produtos perfeitos para as nossas necessidades e passamos a fazer coisas piores de propósito. Nós sabemos fazer lâmpadas que não queimem, mas fazemos lâmpadas para durar só um ano para vender mais. O vinil capturava sons musicais que podíamos ouvir, mas passamos para o som digital que tem qualidade inferior. A relação entre professor e aluno é insubstituível, mas começamos a ensinar pela internet. Nós não estamos querendo melhorar, queremos piorar. Queremos vender muito qualquer porcaria que seja.
(Sílvio)