25 agosto, 2023

Galindo é Lindo: entra em minha roda o pretuguês

(Imagem daqui)

Tod@s conhecem o Caetano Galindo? Tradutor da terceira edição brasileira do "Ulysses", de James Joyce (o primeiro tradutor foi Antônio Houaiss e a segunda, minha preferida, foi a professora Bernardina da Silveira Pinheiro). O Caetano é um intelectual de respeito, inclusive tendo escrito um "uma visita guiada ao "Ulysses". 

Em 2022, ele publicou o livro "Latim em pó; um passeio pela formação do nosso português".

E é dele, livro e título, que quero falar com vocês, a turma do Planeta 23.

O livro tem um capítulo que se chama "Pretuguês", em que ele argumenta que aquele português de Portugal que nos foi ensinado na escola tem tanta influência das migrações (africana, italiana, alemã, árabe, e por aí vai, além da indígena). Mas que a mais notável influência é das diferentes nações africanas que tiveram seus filhos sequestrados e vendidos como escravos para o Brazil. Eu sou facilmente influenciável e me convenci que nossa língua é mesmo o pretuguês dada a influência africana e sua diáspora dentro do Brasil, influenciando as falas de todas as áreas. Ele exemplifica com com quitanda e carimbo, caçula e cafuné. E vou além, na página 18:

   "Assim, é de novo sedutora a possibilidade de que aquela estranha (ainda que relativizável) homogeneidade do português falado no Brasil se deva a esse movimento constante de massas de escravizados, de negros, indígenas e pardos, que levavam de uma região a outra a versão que tinham absorvido e modificado daquele tal 'pretuguês', segundo a linguagem do preconceito racial e linguístico do Brasil colônia, muito antes da reapropriação do termo por Lélia Gonzales, por exemplo. Assim, teriam sido eles os principais responsáveis por fazer com que as várias partes do território tivessem contato umas com as outras e fossem, elas também, homogeneizando seus usos."

De fato, entrei numa viajação do encontro com esta língua que falamos e que designamos com o termo preconceituoso. Num certo passado, eu costumava pensar que é puro elitismo dizermos que falamos uma língua europeia e não um patoá africano. Agora, como não vou fazer concurso para a FEE, sempre vou falar em pretuguês (se conseguir, dado meu condicionamento de anos do português brasileiro)!

O Galindo ainda indica uma bibliografia no final do volume. E de lá decidi que vou ler uma meia dúzia. E acabo de receber a primeira compra: "Norma culta brasileira: desatando alguns nós", de Carlos Alberto Faraco (orientador do mestrado do Caetano). São Paulo: Editora Parábola, 2008.

DdAB

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