Pensei que já tinha falado no livro de Marcelo Gleiser:
GLEISER, Marcelo (2016) A simples beleza do inesperado; um filósofo natural em busca de trutas e do sentido da vida. Rio de Janeiro, São Paulo: Record.
Mas não achei aqui no motor de busca do próprio blog (aliás, parece que andei publicando duas vezes as mesmas ideias expressas de maneira ligeiramente diversa. E agora quero referir um texto das páginas 109-110 que acho um verdadeiro breviário de combate ao obscurantismo que, infelizmente, tomou conta de boa parte d@s adult@s brasileir@s. (E ao usar o genérico @ para homens e mulheres já vou atraindo a ira de muit@s amig@s e até parentes.
[...] Onde alimentar nossa espiritualidade num cosmo regido por uma precisão calculista?
Alguns optam por ignorar os achados da ciência, entregando-se ao extremismo religioso, submetendo-se ao dogmatismo de alguma ortodoxia. Isso, vemos em certos movimentos fundamentalistas, como Al-Qaeda ou ISIS, onde assassinar aqueles que se opõem aos seus valores é perfeitamente justificável pela sua fé. Ou mesmo em seitas não violentas, mas nem por isso menos fundamentalistas, como certos grupos cristãos ou judeus ultraconservadores, cujos valores permanecem firmemente ancorados no passado distante. Acho um tanto irônico encontrar um rabino ultra-ortodoxo, de barba longa, chapéu alto, vestido como seus antepassados o faziam séculos atrás, usando um GPS ou um celular, ou, quando vem alguma doença, tomando antibióticos ou recebendo terapias de radiação. Como conciliara o fato de que essas tecnologias são produto das teorias quânticas e relativísticas da física, da teoria da evolução e da genética na biologia, as mesmas que trouxeram uma visão de mundo tão antagônica à sua? Como conciliar o fato de que a mesma ciência que usamos para construir esses instrumentos e terapias é usada na datação de fósseis e da idade da Terra, ou na evolução das espécies de bactérias a pessoas? A inconsistência é absurda. Mesmo assim, milhões de pessoas optam por esse tipo de cegueira dogmática, sem se preocupar com o paradoxo de sua escolha.
A única saída que encontro para meu desespero lendo essa passagem e entendo que há montes de gente que não se flagra dessa contradição é citar Carlos Drummond de Andrade:
Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças.
DdAB
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