28 agosto, 2020
24 agosto, 2020
Sopa de Letrinhas na Política: novas considerações
É tanto partido que minha capacidade de contar com os dedos das duas mãos desvaneceu-se. E dei o assunto por encerrado.
DdAB
17 agosto, 2020
Palocci e o Fim-da-Picada
Durante o fim-de-semana, vi aqui e ali denúncias de Antônio Palocci. Quero dizer, não a 'caguetagem' que Palocci praticou contra Lula, a delação premiada no processo da Operação Lava-Jato curitibana. Como lembramos, Palocci 'caguetou' Lula, falando em recebimento de propinas, e tudo mais.
Óbvio que, para tornar-se delator, ele estava se defrontando com acusações severas e queria reduzir suas penas. Pois o jornal Zero Hora -sempre ele, até quando?- na página 8 da edição eletrônica de hoje, tem reportagem de três colunas sobre a delação do esculápio das finanças pessoais.
Diz o jornal:
No documento finalizado na última terça-feira e enviado ao ministério público federal, [o delegado Marcelo Feres] Daher apontou que as afirmações dadas pelo delator 'foram desmentidas por todas as testemunhas declarantes e por outros colaboradores da justiça' e 'parecem todas terem sido encontradas em pesquisas na internet, porquanto baseadas em dados públicos sem acréscimo de elementos de corroboração, a não ser notícias de jornais.'
Diz o Planeta 23: pouca gente no Planeta Terra gosta de alcaguetes, mas considero esta delação de Palocci uma das mais mesquinhas da história da Operação Lava-Jato. E desse triste episódio de longa duração, tirei três lições e confirmei outra que já aprendera:
a) a Lava-Jato curitibana, destacando a dupla denunciada pelo jornal The Intercept Brasil, nomeadamente, Deltan Dalanhol e Sérgio Moro, tinha mesmo, agora se comprova factualmente, um viés persecutório contra Lula. O ex-presidente foi parar na cadeia, contrastando com os atos de vilania desses dois funcionários federais. Entristece-me saber que esses criminosos nunca verão a justiça penalizando-os pelas injustiças praticadas.
b) depois de ver-se preso e com limitadas chances de inscrever-se como candidato à presidência da república na eleição de 2018, Lula e a direção do PT não foram capazes de fazer um exercício de teoria dos jogos elementar: a indução reversa. Já falei nisto aqui neste Planeta: imaginemos a situação em que Lula está tomando posse no cargo de presidente. Semanas antes, ele teria que ver sua vitória confirmada pelo tribunal eleitoral. Disso, em primeiro ou segundo turno, ele deveria ter conquistado a maior parte dos votos válidos. E antes dessa estrondosa vitória das urnas, ele deveria ter sido inscrito candidato numa chapa completa, ou seja, com presidente e vice-presidente. Pois Lula não fez nada disso, com a aquiescência do futuro (naquele pretérito) candidato a vice-presidente, o dr. Fernando Haddad. E de toda direção do PT, que nunca ouviu falar em teoria dos jogos, talvez por considerá-la um esbirro da direita. Nada dessas ações do protocolo eleitoral aconteceu. Lula inviabilizou a candidatura da coalizão PT-PCdoB. Mas, porém todavia entretanto, o pavor popular ao neo-liberalismo e à personalidade narcisista de Jair Bolsonaro estava assustando a turma que, provavelmente iria eleger Haddad-Manuela.
c) neste preciso instante, na antevéspera (digo, oito dias antes) da realização do primeiro turno da eleição, Sérgio Moro agiu como um coronel-da-política, visando à vitória a qualquer custo. Tudo que podia incriminar Lula foi feito, inclusive aquela 'caguetagem' do esculápio. Acabo de olhar na internet o que o Google dá de retorno quando se digita "moro libera delação de palocci". As três entradas iniciais são:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/01/politica/1538428364_331167.html: Moro libera delação onde Palocci diz que Lula sabia de corrupção na Petrobras.
https://epoca.globo.com/sergio-moro-entra-na-campanha-eleitoral-ao-suspender-sigilo-de-parte-da-delacao-de-palocci-23126422: Sergio Moro entra na campanha eleitoral ao suspender sigilo de parte da delação de Palocci.
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/moro-achava-fraca-delacao-de-palocci-que-divulgou-as-vesperas-de-eleicao-sugerem-mensagens.shtml: Moro achava fraca delação de Palocci que divulgou às vésperas de eleição, sugerem mensagens.
d) mas falta-me o principal ponto, aquele me trouxe a postar sobre o fim-da-picada. O jornal cita o delegado que diz: "a não ser notícias de jornal". Ou seja, nada fora comprovado, Moro sabia, Haddad mal teve tempo de deixar-se conhecer como candidato a presidente da república. Os eleitores de baixa renda, digo, baixo rendimento mental, pularam no colo do oportunista Jair Bolsonaro. As notícias de jornal, hoje a polícia declara, eram reles notícias de jornal, sem comprovação de qualquer tipo.
Quanto a este item (d), que posso dizer? Alguém da comunidade ou do estado deveria punir os tais jornais que "repercutiram" notícias originárias de fontes não-idôneas. Cadeia para eles. E também para Lula que, de dentro da cadeia, não foi capaz de contar com um assessor (inclusive o economista Haddad) para dizer-lhe que preso não pode candidatar-se a cargos eletivos. E que, dado o ódio que -como dizem- a zelite nutria por Lula, inclusive a ministra Rosa Weber do STJ, tava na cara que ele não seria libertado para concorrer à eleição. Nem mesmo para participar, nas ruas, nos comícios, da bissexta campanha de Haddad.
Moraleja: no país da impunidade, juiz ladrão vai muito além do futebol.
DdAB
15 agosto, 2020
12 agosto, 2020
Mais Trovas: Cego Aderaldo, José Pretinho e eu
Confinado, lembrei daquela trova entre Cego Aderaldo e José Pretinho. Segundo minha memória recoleta do show que Ary Toledo fez em Porto Alegre, digamos, em 1966, José Pretinho tinha tudo para perder. Sua primeira intervenção foi:
Cego, a minha toada
É um trabalho garantido
Você pra cantar mais eu
Precisa ser aprendido
Queira Deus que me acompanhe
Pra cantar neste gemido.
Como falei, Zé Pretinho já entregou o jogo, pois Cego Aderaldo respondeu:
Se gemer for cantoria,
Tu és um bom cantador
Pois gemes perfeitamente,
No gemido tens valor.
Quem a paca cara compra paca cara pagará.
Zé Pretinho se atrapalhou com esse trava-língua. De minha parte, naquele tempo, eu estava para ser reprovado em Física no terceiro ano colegial e desafiei a professora: quem calcula a carga em Coulomb carga em Coulomb calcula. Ela balbuciou: "Newton, ação e reação, lei de Coulomb", mas, reconhecendo-se incapaz de reproduzir ou fazer algum variorum, aceitou a derrota diplomaticamente. Fui aprovado.
DdAB
09 agosto, 2020
Machado de Assis no Dia dos Pais
Querido diário:
Não terminarei nunca de falar em Machado de Assis e suas "Memórias Póstumas de Braz Cubas". E agora, em breve passagem, falo de sua invencível originalidade, declarando-o um precursor de "Rayuela" ("O Jogo da Amerelinha"), de Julio Cortázar. Pois vamos à prova.
O capítulo CXXIX se intitula "Sem remorsos" fala de seus sentimentos com relação ao fato de ter sido amante da esposa de Lobo Neves. Inicia dizendo "Sem remorsos", ponto. E segue-se nova sentença, com nosso Brasinho imaginando que, se tivesse o equipamento adequado, poderia "decompor o remorso até os mais simples elementos [...]". No capítulo seguinte, intitulado "Para intercalar no capítulo CXXIX", ele inicia dizendo: "A primeira vez que pude falar a Virgília, depois da presidência [de Lobo Neves], foi num baile em 1855. [...] Lembra-me que falamos muito, sem aludir a cousa nenhuma do passado. [...]". E termina dizendo:
-Magnífica!
Convém intercalar este capítulo entre a primeira oração e a segunda do capítulo CXXIX.
Vi nesse simples saltitar das razões de Brás Cubas uma ideia que certamente tomaria corpo no "puladinho" de que foi composto o "Rayuela", que, em gauchês, se pronuncia "sapata".
Então o capítulo CXXIX ficaria assim na edição da Biblioteca Nacional:
Sem remorsos. A primeira vez que pude falar a Virgília, depois da presidência, foi num baile em 1855. Trazia um soberbo vestido de gorgorão azul, e ostentava às luzes o mesmo par de ombros de outro tempo. Não era a frescura da primeira idade; ao contrário; mas ainda estava formosa, de uma formosura outoniça, realçada pela noite. Lembra-me que falamos muito; e sem aludir a coisa nenhuma do passado. Subentendia-se tudo. Um dito remoto, vago, ou então um olhar, e mais nada. Pouco depois, retirou-se; eu fui vê-la descer as escadas, e não sei por que fenômeno de ventriloquismo cerebral (perdoem-me os filólogos essa frase bárbara) murmurei comigo esta palavra profundamente retrospectiva:
— Magnífica!DdAB
P.S. Nunca fui capaz de ler aquele "O Jogo da Amarelinha", ou seja, a tradução brasileira. Mas li, con gusto, a tradução portuguesa, cuja capa insiro lá no início.
07 agosto, 2020
Machado de Assis e a Presidenta
A verdade é que vejo interesses materiais nesse troca-troca de signos para representar os velhos e batidos fonéticos vocábulos. Vendem-se mais dicionários, mais enciclopédias, dão-se ocupações a linguistas e aprendizes, estagiários e doutorandos. Mas perde-se a comunicação entre as gerações. De minha parte, volta e meia ando falando por este blog que já testemunhei duas mudanças ortográficas e, em menos de 100 anos acrescentei mais uma.
https://www.superprof.com.br/blog/numero-de-mudancas-na-lingua-portuguesa/
https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/as-reformas-ortograficas.htm
03 agosto, 2020
Velhinhas reaparecem na Quarentena:
(ao passo que)
Separado é tudo junto.