01 junho, 2020

Ulysses: os dois esquemas

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Nunca se deve falar o que não se vai falar. Mas, se não o fizermos, como as outras mentes saberão o que desejamos enfatizar o que fica de fora? Obviamente a maior parte dos desdobramentos do que quer que seja está banido de nosso pensamentos, ergo de nossa escrita. Assim, quando dizemos o que não diremos, estamos injetando nas mentes dos leitores dicas sobre o que poderíamos ter escrito, mas optamos por seguir o curso que está prestes a ler.

Pois "Ulysses" não fala de mais coisas que o faz. Mas o livro fala de tanta coisa que até hoje surgem estatísticas sobre o arco da criatividade de James Joyce: citações em línguas estrangeiras, colagens, vocabulário, leituras pregressas, e por aí vai Vivaldi. Pois então. Se estamos falando em esquemas no "Ulysses", não vou falar nos esquemas que Joyce fez para auxiliar a leitura do público, e nela servir seus dois amigos Carlo Linati (esquema escrito por Joyce em 1920) e para o biógrafo Stuart Gilbert (esquema de 1921). Portanto, não vou falar sobre o Barlow Schema, a não ser no rodapé, pois, para a guria da extrema direita, ele dará o que falar.

[Lembremos que a obra de Joyce começou a ser escrita em 1914 e foi declarada concluída em 1921. E começou a ser publicada em capítulos na "The Little Review" desde março de 1918 até dezembro de 1920, quando o esquema de Linati já estava pronto. E a obra final foi publicada pela americana Sylvia Beach, em sua editora parisiense em 1922.]

Se eu falar "Não vou falar dos satélites de Júpiter", talvez o leitor não entenda o que eu escreveria se nisso fosse falar, mas terá certo conforto ao ler o que escrevi/escreverei e percebe que não sentiu falta dos nomes, o que seja, do planetão. Ao mesmo tempo, se eu estivesse falando no "Ulysses", ressalvando que nada haveria sobre Júpiter, o leitor indagaria "Por quê ele falou que não vai falar nisto?" Especialmente ficará ele, leitor, espantado, pois existe, de fato, dentro do "Ulysses" um Júpiter, na verdade um Jupiter Pluvius, personagem, entre as centenas do romance. Mais adiante, um "jumping Jupiter". Depois ainda em "círculos devânicos de Marte e Júpiter".

Ou seja, até eu estou surpreso por ter achado tanta coisa sobre a qual não iria falar. E que falei? O mínimo dos mínimos foi mesmo que o esquema Linati foi escrito em 1920 e o Gilbert, em 1921. Claro que eles são parecidos e já tem muita coisa escrita comparando-os. E se eu disser que "não vou falar sobre Oxford"? Bem que eu poderia, pois há meia dúzia de passagens sobre a cidade e sua universidade mais famosa. E se eu disser que "não vou falar sobre Cambridge"? Pois neste caso, não dá para falar sobre o que está ausente...

Conclusão: praticamente o único tema que tem pouco ou nada a falar é um tweet de Richard Allan Barlow, para mim absoluto desconhecido. Deste modo, nada há a falar sobre conclusões. Mas um dia volto aos esquemas de Linati e Gilbert, nada falando sobre Barlow. Promise.

DdAB
P.S. O Barlow Schema veio daqui:
https://twitter.com/fuyerescaper/status/1247193327226798081. contendo o seguinte texto:

Pessoas relevantes

Co-editor:Joyce’s Non-Fiction (Palgrave 2018). Author: Joyce and Betrayal (Palgrave 2016). Tweets on the connections between bicycles and culture 

E tudo inicia com a montagem que segue:

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