03 junho, 2020

Investimento: os bem-dotados e os embotados


A grande polêmica no momento no Brasil é se o confinamento provocado pela invasão do corona-vírus covid-19 causa mais males à economia que as portas de todo o comércio e indústria fechadas. Aliás, o termo "grande polêmica" no Brasil contemporâneo não é apenas isto ou aquilo. Tudo é polêmico, inclusive a liberação pelo finado juiz Sérgio Moro do depoimento do traidor dr. Antônio Palocci no intervalo entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018. Até fiz um hai-kai sobre o tema:

Haddad, tava na cara, ia ganhá
Até, mora na filosofia,
o endiabrado juiz Moro embananá!

Parece que a turma que defende que a economia não pode parar é noiva do catastrofismo. E não terá assistido a minhas entusiasmantes aulas de introdução à economia. Os alunos que terminavam o semestre com proveito recebiam um diploma de "estudante bem-dotado". Por contraste, vejo autoridades governamentais e outras apenas ornamentais desconhecendo elementaridades como a encapsulada no quadro que serve de imagem a guiar-nos nesta grande noite sem luz, em duas palavra, os embotados.

A analogia entre a primeira questão fundamental que qualquer economia responde, sabendo-a ou não, querendo ou não, é

o que, quanto produzir.

Em minhas divagações sobre o conceito de valor adicionado V, cuja primeira aproximação conceitual dou como "colheita C menos sementes S", em homenagem às mulheres maias que praticamente descobriram a agricultura/lavoura, vendo e interferindo a evolução cultural... do milho.

Então se a negadinha quer muito milho, terá que avançar sobre as sementes e, nestas circunstâncias, aquele V = C - S ficará menor que a situação em que S:posterior > S:anterior. Id est, a indiada estará praticando uma espécie de autofagia, um uroburo muito louco:


E que dizer da insistência de nossos governantes eleitos, em parte, pela inconfidência de Sérgio Moro e a cara-dura de Antônio Palocci, em mandar a macacada para a rua, dar a cara a tapa, dar a face a cusparadas letais? Só posso dizer: nunca antes na história deste país houve um presidente mais próximo às pegadas de Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello. Jair Messias Bolsonaro, o campeão do desatino, uma aberração da política, da cidadania. Em outras palavras, um embotado que fugiu da escola.

Como é que se pode pensar em manter a atividade econômica quando sabemos que com doença pandêmica aquele "mais agora" só pode ser avançado com um "muito menos depois". Trabalhadores adoentados não produzem tanto quanto a tigrada sadia. E a própria indústria de enterros está pedindo água, que não dá conta de tanto morto por unidade de tempo.

Claro que seria mais sensato começar a tal "abertura seletiva" quando o número de novos casos de covid-19 caísse a zero. É muito baixo? Ok, então 1, ou 2, mas não milhares... Parece que esses luminares das más práticas de governo não são capazes de entender que aquela questão fundamental do "mais agora ou muito mais depois" está invertida: "mais doentes agora e muitos mais logo depois".

Como disse minha astróloga: "strange days indeed", acrescentando: "o uroburo para presidente daria mais segurança para a gente".

DdAB

2 comentários:

Fly Sonorização disse...

Mestre de todos os mares, a coisa se encaminha pro desastre absoluto, mas vamos colocar os EUA no contexto também, trump eh tão inconsequente e incompetente quanto Bolsonazi, os dois se complementam no quadro dos horrores, não obstante acredito que Brasil e EUA estão abraçados no leito de morte do capitalismo, a diferença que um ja foi muito rico e se segura na beira do abismo e o outro eh o trouxa pobre que se acha rico... Saudade das nossas aulas, dos nossos debates, que tempo ruim, socorro!

... DdAB - Duilio de Avila Berni, ... disse...

Caro Fly: muito procedentes os comentários. Hás de lembrar que, desde aqueles tempos longínquos, eu sustentava/sustento que o capitalismo acabou há mais de 15 dias. Mas isto era brincadeira para enfatizar que o sistema econômico que hoje vemos não é aquele capitalismo do século XIX e talvez hoje em dia nem mesmo o do século XX. Ao mesmo tempo, vim a entender (e já devia ter entendido antes) que:
.a nenhum sistema econômico fenece antes de se desenvolver completamente (e o capitalismo ainda tem "muito campo", haja vista o universo de expansão financeira)
.b quando hoje se fala em socialismo não pode deixar de ser por meio de afirmações vagas, pois ninguém sabe o que ele é. Sabemos o que não é: União Soviética, China, essa turma.
Abraços