11 dezembro, 2019

Há Herro no Otimismo da Farsul

Some of the work made at Precious Trash Workshop @modeakademin / Fashion Academy at @morafolkhogskola Photo: Mora Folkhögskola 
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O jornal Zero Hora de hoje amanheceu agitado. Já referi lá no Facebook tratar-se do dia de São Sabino. Mas não foi apenas a hagiografia que me fez 'gavar' o jornal. E nem só de elogios... Não é à toa que volta e meia cognomino-o de Zerro Herra. Vou falar na ideologia e no cálculo de números índices.

IDEOLOGIA
Já que olhei o dicio.com.br por causa daquele verbo cognominar, cuja primeira pessoa do presente do indicativo fez-me suspeitar de minhas intuições clíticas, aproveito e pego o primeiro e mais relevante conceito do substantivo ideologia:

Reunião das certezas pessoais de um indivíduo, de um grupo de pessoas e de suas percepções culturais, sociais, políticas etc: sua ideologia é fazer bem ao próximo.

Tá na cara que estamos falando de um indivíduo e de um grupo de pessoas e suas percepções no espaço comungado com a sociedade. Olha então o que diz na página 8 a jornalista sabidamente esposa de posições reacionárias Rosane de Oliveira:

Farsul formaliza apoio aos projetos [do governo do estado]
   Última entre as federações empresariais a formalizar apoio ao pacote de Eduardo Leite, a Farsul [meu negrito, DdAB] vai partir para o corpo a corpo com deputados que têm ligação com o agronegócio, na tentativa de convencê-los a votar a favor das medidas ainda neste ano.
[...]
   O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, diz que o ajuste é necessário e que o custo deve ser dividido entre todos os poderes:
   -Qualquer empresa que estivesse na situação do Rio Grande do Sul já teria fechado as portas. Precisamos reduzir as despesas para que o governador cumpra a promessa de reduzir o ICMS em 2020.
   A Farsul também apoia o congelamento do orçamento, aprovado na Assembleia [Legislativa].
  -A solução passa por enfrentar a realidade. Isso significa acabar com a ficção das receitas extraordinárias no orçamento - diz o economista Antônio da Luz, assessor da entidade.

Então a inana começa. No melhor estilo Barriquelo, a Farsul esperou a Federasul e a Fecomércio darem seus pitacos e acordou, classificando-se em terceiro lugar. Mas marcou presença, pois aproveitou e disse ter-se adonado de uma frente parlamentar de 21 deputados estaduais. Não é à toa que recomendo o fechamento dos estados, viajando com eles as assembleias e o senado. Ok, ok. E nosso bom Gedeão diz a verdade: o ajuste é necessário e precisa ser dividido. Claro que os critérios de necessidade e divisão precisam ser bem esclarecidos para entendermos que há necessidades de esquerda ou direita e divisões também à direita e à esquerda. Uma divisão à esquerda, por exemplo, poderia manter o orçamento com crescimento nulo, mas tiraria mais de quem tem mais e subsidiaria quem tem menos. Não pode uma professorinha ganhar R$ 1 por mês contra os R$ 200 de um juiz, delegado, essas coisas. Na mesma página da jornalista Rosane, diz-se que os capitães da força pública terão um subsídio (?) de R$ 20.353,06, mais que os vencimentos iniciais de um professor doutor numa das universidades federais do país.

Vamos à página 9, quando a inana pega fogo! Agora a jornalista de uma coluna de 7cm de largura é Joana Colussi. Eu nem estava bem lembrado de tempos de crise, quando todo mundo fica dando palpites sobre sua ideologia otimista para o próximo ano, ou pessimista, se as Pítias estão na oposição ao Olimpo. Agora a Farsul [meu negrito, DdAB], a vera Farsul do apoio de direita ao governo Leite, espera que o 


[...] Produto Interno Bruto (PIB) do setor primário varie 7,5% no próximo ano. [...] O otimismo é depositado na expectativa de uma nova produção recorde de grãos: 35,4 milhões de toneladas, alta de 2,1% na comparação com a safra passada.
-A área da agricultura, principalmente da soja, continuará crescendo no Sul, que se consolidou como a nova fronteira agrícola do Estado -afirma Gedeão Pereira, presidente da Farsul [tudo vinho da mesma pipa, DdAB].
A valorização das carnes, puxada especialmente pelo aumento da demanda da China, também reforça as projeções positivas para o ano que se inicia. As reformas estruturais que vêm sendo feitas e as que estão por vir também devem ajudar o agronegócio a crescer, segundo Antonio da Luz [ou seja, vinho velho na garrafa nova, DdAB], economista-chefe do Sistema Farsul:
-Essas medidas vêm para reformar o Brasil, pois até agora quem pagou a conta da crise financeira foram as famílias.
O crescimento é apoiado também, segundo o economista, na perspectiva de retomada da economia brasileira, com a criação de empregos, e na continuidade da demanda externa por alimentos:
-A variação do agro é superior ao ritmo da economia brasileira porque nossos clientes estão em 190 países, além de termos um mercado interno gigante.

Vou falar o segundo capítulo desta postagem na relação entre aqueles dois números que, admito, podem ter sido objeto de algum erro de digitação por parte de Zerro Herra ou do economista-chefe. Não é bonito, mas não é feio. Ou algum outro tipo de encrenca, também honroso. Vejamos adiante.

Mas, por enquanto, detenhamo-nos sobre o conteúdo substantivo das declarações do Gedeão e do Antônio. Sua ideologia lhes garante que há reformas estruturais em andamento e que seguir-se-ão de outras, todas fundamentais para o crescimento do agronegócio. Então: as reformas vão reformar o Brasil, aliviando as famílias que pagaram a conta. Entendi, em outras imersões nas notícias de conjuntura do país, que a classe trabalhadora é que está sendo convidada à danser nesse clima. Claro que os alegados 13,5 milhões de trabalhadores estão incrustados em famílias, mas não estávamos falando na disstribuição do valor adicionado pela ótica da despesa (famílias, governo, empresas de comércio internacional e empresas nacionais investidoras), mas no PIB, pibpibpibpib... Então precisamos saber se esse otimismo instilado de tudo que é jeito em quem escreve (eu fora...) mas sem alcançar os agentes relevantes é descabido. e chegamos naquela variação do agro de porte superior ao ritmo da economia brasileira. Será que aqueles 7,5% e 2,1% dizem respeito ao Brasil? 

Extenuado com a leitura e releituras das jornalistas, passei agora à autora de toda a página 11, a senhora Marta Sfredo. Diz ela:

RS [na internet, rsrsrs quer dizer 'risos', no contexto é Rio Grande do Sul, DdAB] pode crescer até 3% neste ano
   O material impresso preparado para a apresentação de final de ano da Federalção da Agricultura do EStado (Farsul) esta pronto quando foi anunciado o PIB nacional do terceiro trimestre, no dia 3. Como veio acima da média das expectativas, alterou as projeções do núcleo de economia da entidade comandado por Antônio da Luz [é ela, é ele!, DdAB, com dados que me permito nem referir, pois todos atestam mesmo é um crescimento rastejante].
[...]
Indagado se o otimismo de cada entidade seria proporcional aos resultados de cada setor - a agropecuária tem o melhor desempenho até agora, seguida por comércio e serviços, enquanto a indústria tem um ano mais difícil -, Luz garante que o cálculo segue o modelo econométrico consagrado. Ou seja, o tamanho da projeção não está relacionado ao humor setorial.
No entanto, o economista admite que a projeção do PIB gaúcho, de 3,14% para este ano, mas menor - 2,53% - para 2020, exigiu mais interpretação do que cálculo. A causa foi a interrupção da série hostórica da apuração do PIB estadual, por sua vez determinada pela extinção da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e o consequente rompimento do convênio com o IBGE, responsável pelo PIB nacional.

Só bebendo! E manifesta-se a importância dos assessores do velho Sartori intitulados Carlos Búrigo, Cleber Benvegnú, Márcio Biolchi. Que fecharam a FEE. De tudo isto, podemos pensar em otimismo desenfreado? O Professor Pangloss não faria melhor. Ainda assim, o que falarei agora é de dar dor de dente: aquela encrenca dos 7,5% sendo gerados parcialmente por um 2,1%.

NÚMEROS ÍNDICES
Vamos imaginar que, nas presentes circunstâncias os preços dos bens e serviços no Brasil estão razoavelmente estáveis e bem comportados. Aliás, as presentes circunstâncias não estão mais presentes, desde que ouço falar que o churrasco está proscrito dos lares dos 80% mais pobres do país. Mas que seja. Então, já que é como quero, um índice de preços de Laspeyres pode estar capturando com desenvoltura o crescimento real da economia gaúcha (ou brasileira, sei lá, ou ambas). 

A equação relevante, neste caso, combina duas taxas de crescimento, fazendo uma média aritmética simples ou ponderada:

7,5% = rR + gG,

onde r é a participação do setor R no total e G é a participação do setor G, claro que r + g = 1. E R é o resto e G representa os grãos. Ora, G = 2,3%. Então vamos supor que r e g valham 50% cada um. Então temos uma equação de primeiro grau em R:

7,5% = 0,5R + 0,5 x 2,3%

ou seja, R = 12,7%, o milagre daquela turma, o Antônio, a jornalista econômica, a outra jornalista, o Gedeão. Mas digamos que os grãos, com aquele crescimento espantosamente inferior aos 7,5% tenham pouco peso, que aqueles r e g sejam respectivamente 0,8 e 0,2. Agora, R = 8,8%. Mais compatível com traços de realidade e dados estimados pela turma. E se fosse o contrário, com r = 0,2 e g = 0,8? Teríamos outro número espantosamente desabotinado: 28,3. Ou seja, para alcançar aquela taxa de crescimento da agropecuária em 2020 no valor de 7,5%,  se os grãos representam 50% da quantidade produzida , então o resto deve crescer 12,7%. Se sua participação 


DdAB
P.S. Como todos sabemos, um índice de quantidades de Laspeyres é uma média aritmética ponderada entre os relativos de preços de todas as mercadorias selecionadas para se aquilatar seu crescimento conjunto. De sua parte, o índice de quantidades de Paasche é a média harmônica entre esses relativos de preços. O índice de Fischer é a média geométrica entre o de Laspeyres e o de Paasche. E o índice de Törnqvist convencional é a média aritmética dos relativos dos preços ponderadas pela média aritmética das participações de cada mercadoria no total da receita obtida com suas vendas. No caso do índice de Törnqvist geométrico, a operação da agregação é feita com um produtório.

P.S.S. A imagem pouco tem a ver, a não ser pelo primeiro P.S., e veio daqui. E a visita é super recompensadora: 

@johanna.tornqvist

Johanna Törnqvist

Johanna Törnqvist is making jewelry and garments out of recycled textile and plastic material #projectprecioustrash @johanna.tornqvist


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