09 dezembro, 2019

Níveis Surrealistas de Paranoia Ideológica

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Nosso título é uma frase encadeada dentro do texto que a profa. Cristina Bonorino publicou no caderno Doc de Zero Hora deste final de semana. O título é "Problemas" e ela comenta os funéreos resultados das crianças brasileiras no PISA - Programme for International Student Assessment. E diz que não podemos esperar muito de um país que não gasta inteligentemente em educação. E eu concordo: como é que uma infância e adolescência abandonados culturalmente poderão fazer algo na linha da ciência e tecnologia, da invenção e da inovação de produtos, processos e organização que diminuam essas quatro vezes de diferença entre a renda per capita do Brasil e aquela hoje vigente nos Estados Unidos da América.

Por alguma razão que talvez nem o inferno explique, nesse contexto sobreveio-me à cabeça a frase da Divida Comédia em que Dante colocou como proêmio à entrada no inferno:

Qui si convien lasciare ogne sospetto. Ogni viltà convien che qui sia morta.

Meu italiano é dantesco, mas fracassou nesta experiência. Então fui ao Google-Tradutor:

Aqui suspeitamos de toda suspeita de que todo covarde está morto aqui.

Meu Dante é mais que esse negócio de suspeitar da suspeita (na linha do Caetano versus David Nasser: "não se esqueça que você já me esqueceu"). Aí pensei nos Beatles e pedi ao mesmíssimo tradutor a versão italiano-inglês:

Here you should set aside all hesitation; here all fear should cease

Aí coloquei esta expressão pedindo a tradução para o português:

Aqui você deve deixar de lado toda hesitação; aqui todo o medo deve cessar

Eu não teria feito melhor: aqui deve-se deixar toda a desconfiança; aqui também todo o medo deve ser contido.

Quem me leu até agora pode estar preparado para enfrentar uma confissão. Na linha da paranoia ideológica, fui por ondas estranhas a essa frase de Dante, pensando tratar-se daquela que Karl Heinrich Marx apôs ao final da introdução da primeira edição d'O Capital. Na citação feita por Marx, estamos tratando de uma situação melhor que o inferno brasileiro contemporâneo: a entrada do Purgatório:

Segui il tuo corso, e lascia dir le genti.

E segue a encrenca. Desta vez peguei a edição do volume 1 em tradução da Editora Boitempo, aquela que traduz "mais-valia" por "mais valor", uma coisa de doido, uma coisa de Américo Pisca-Pisca, reformador da natureza. Diz a Boitempo:

Segue o teu curso e deixa a gentalha falar!

Achei esdrúxulo e peguei meu Penguin:

Go on your way, and let the people talk.

Notate bene: começa que não tem aquele ponto de exclamação. E eu traduzo como:

Segue tua trilha e deixa o povo falar.

E o Google Tradutor tá tão absurdo que nem vou colocar aqui.

Moral da história: se puderes voltar no tempo, convence o Lula a dar lugar ao Haddad desde o primeiro instante da eleição e, depois, não vota no Bolsonaro. Se evitarmos a burrada de 57 milhões de eleitores, podemos pensar que não estamos perdendo tempo.

DdAB
A imagem, ilustração feita por Gustave Doré para "O Inferno" da Divina Comédia é outra homenagem que faço ao presidente Bolsonaro.

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