11 novembro, 2019

O Muro de Evo Morales

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Notícia originária do Facebook que li às 0h15min de 11/nov/2019:
Alfredo Pereira Jr.
40 min [isto é, tipo 23h40min]

Ruim com Lula, pior sem ele...
Os recentes eventos no Brasil e Bolívia revelam um padrão, que é de interesse para a ciência política. Os projetos de esquerda parecem se vincular a determinadas figuras políticas; parece haver uma dificuldade de abstração programática, o que prejudica a alternância das figuras no poder, ao mesmo tempo se mantendo o projeto. Isso já era notado na insistência da família Castro em se manter no poder, em Cuba; no Peronismo, na Argentina, no Chavismo, na Venezuela, e no esforço heróico de Morales para se manter no poder, na Bolívia. Tudo isso revela a imaturidade da consciência política do eleitor latino-americano. A mesma pessoa que votava em Lula votou em Bolsonaro e amanhã votará de novo em Lula. O mesmo eleitor dos Kirchner votou em Macri e agora vota nos Kirchner de novo. Como conclusão desse raciocínio, me parece que os democratas precisam pensar duas vezes antes de condenar tais figuras políticas. Eles(as) devem ter intuído que não conseguiriam dar continuidade a um projeto político de interesse nacional e popular ao passar o poder para outras pessoas, e daí tentaram (e em alguns casos conseguiram) viciar o processo democrático para evitar uma descontinuidade. Esse é um caminho perigoso, que conduziu também ao Estalinismo, na Rússia. Quando se exagera na dose, se gera um regime totalitário; mas nem sempre. Tudo indica que no caso de Lula não existe o risco do totalitarismo, ao contrário do que dizem os Bolsonaristas. Portanto, entendo que os democratas devam ser complacentes com Lula, no momento atual.

Compartilhei em meu próprio mural facebuquiano e comentei:

Felizmente sou amigo (distante, infelizmente) de Alfredo Pereira Jr.. E o texto dele que acabo de ler diz muito mais do que posso articular. Quando o segundo mandato de Lula se encaminhava para o término, falou-se bastante em terceira eleição. Consta que Lula repudiou esta iniciativa com vigor. Considero essa posição de Lula um acerto. Mas acho que houve um erro importante quando ele não se enquadrou para suceder Dilma logo no final do primeiro mandato.
Hoje eu ainda falava para um amigo que espero ter vida longa o suficiente para ler um livro que deverá levar o título de "O 2014". Parece que tudo aconteceu por lá.
E hoje também vejo muita gente debitando totalmente aquelas manifestações de 2013 à direita. Fui a algumas em Porto Alegre e vi diversos amigos inegavelmente esquerdistas delas participando. Cheirei gás lacrimogênio e fui socorrido por uma amiga de esquerda. Talvez o livro que quero ler deva intitular-se "O Biênio 2013-2014".

Não falei no Facebook, mas falo agora e já devo tê-lo feito aqui pelo blog que, em agosto de 2013, Dilma começou a reagir politicamente às manifestações. Entre outras medidas, ela propôs a convocação de uma assembleia constituinte. E bem lembro que as primeiras oposições a essas propostas originaram-se... da direção do PT, do presidente Ruy Falcão. Aquele 2013 só podia mesmo ter desembocado no 2014. E este triste ano terminou com a eleição de Eduardo Cunha para presidente da Câmara dos Deputados. E o PT, inclusive Dilma, cometeram um erro estratégico de permitir que tal acontecesse. O PT apresentou seu candidato: Arlindo Chinaglia, um político inexpressivo. 

Há pouco mais de meio ano (aqui), citei três nomes, três homens de fibra que não levaram seus povos às vias de fato, pois não adoravam o poder a qualquer custo: Amador Bueno, João Goulart e Simón Bolivar. Que diferença!

DdAB
P.S. Não vejo outro nome para regimes como os da Venezuela, Bolívia e Rússia que não a velha ditabranda, criado, penso, na América Latina para definir situações assemelhadas. Na verdade, chamar de ditabranda o que ocorreu no Brasil é até irresponsável, dada a tortura e os assassinatos. Mas não vejo melhor maneira de descrever o egoísmo de gente como Chavez-Maduro, Evo e Putin, que se encastelam no poder como se não houvesse outro cidadão capaz de aperfeiçoar sua conquista.
P.S.S. Sublime coincidência, estes eventos bolivianos estão ocorrendo precisamente no momento das comemorações da queda do Muro de Berlim.
P.S.S.S. E, em outros cantos do Facebook, escrevi: "Acabo de escrever em outro canto: O 'pobrema' com um líder do porte de Evo Morales é que, saído ou morto, não há sucessores. Se houver nova eleição, duvido que a esquerda tenha algum candidato com carisma suficiente para vencer a direita. Na Venezuela, Maduro é o retrato da falência das democracias bolivarianas em permitir a emergência de líderes à altura dos carismáticos que se consideram insubstituíveis.". E mais: "Talvez eu esteja concordando com Gilvany, no sentido de que não me parece decente a eleição eterna de "presidentes", como é o caso do velho Putin e, claro, Evo e, anteriormente, Chavez. Eles matam a democracia interna dentro de seus partidos."
P.S.S.S.S. E não podemos deixar de evocar as estrondosas manifestações do povo chileno que não mais aguentou aquela versão de neo-liberalismo e tacou fogo na lona. Para os neo-liberais brasileiros, militantes do governo Bolsonaro, não há lição a tirar. Como sabemos, pior cego é o que não quer ver...

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