Querido diário:
Burrinho sabido. Às vezes finjo-me de algo que não sei definir. Mas vim a aprender algo interessante nesses últimos dias. De minha parte, quanto mais estudo economia política, mais aguço minha percepção de que as instituições humanas (óbvio que tem instituições de abelhas, lobos, etc.) são o elemento fundamental da vida societária, condicionando seu passado e seu futuro. Boas instituições geram bons prospectos para a vida boa, para a qualidade de vida, para a social-democracia e, como tal, para a salvação do planeta das ameaças demográficas e ambientais.
Não faz muito tempo que aprendi, ao ler aqui e ali, que aquela democracia emergente do iluminismo, do século XIX, do pós-II Guerra Mundial, tudo aquilo, toda aquela social-democracia europeia e seus transbordamentos para a periferia do capitalismo, ou melhor, para a periferia das conquistas humanas e humanitárias do capitalismo desenvolvido, tudo aquilo viram-se crescentemente fadados ao fracasso precisamente por falta de aprofundamento:
. com a criação do governo mundial
. com a busca desenfreada pela criação de instituições democráticas universais.
Por isso mesmo, li con gusto o pensamento do dia do Almanaque Gaúcho, hoje na página 44 do jornal Zero Hora:
Um país não muda pela sua economia, pela sua política, nem mesmo pela sua ciência. Muda, sim, pela cultura.
(Herbert José de Souza - 1935-1997, sociólogo brasileiro cuja morte completa 21 anos hoje).
Ou seja, Herbert José de Souza fala em cultura e eu entendo que ele fala em instituições. Então associo-o aos achados de Acemoglu e Robinson no livro "Por que as nações fracassam": países portadores de instituições extrativistas implantadas num mundo eivado de desigualdade, como este em que vimos os 16% de aumento que os juízes acabam de se auto-conceder, são condenados a viver péssimas vidas, sem esgotos, sem justiça, sem as bases de conforto que a vida moderna, numa sociedade social-democrata poderia oferecer.
Falar em desigualdade exige-me falar em Jessé de Souza com a sacada de que a tolice da intelligentsia brasileira é não entender que nosso verdadeiro problema é este e não a incipiente industrialização de hoje, a exagerada industrialização de ontem. Na sociedade desigual, todos são desiguais com relação aos serviços industriais de utilidade pública, como é o caso do saneamento: esgoto para todos, uma rede nacional de esgotos, vale mais que a reindustrialização e o delírio local da construção da indústria 4.0. Sem a cultura de que fala Herbert de Souza, sem a escola técnica, sem o domínio da leitura, da língua portuguesa e da matemática pré-universitária, não há salvação.
Em resumo, àquela litania do "get the prices right", não estamos sendo capazes de conseguir mudá-la para "get the institutions right", daí que até hoje tem economista querendo a reindustrialização.
Pois bem. E que tem a ver o que falei com a sabedoria de Herra, o jornal Zerro Herra, que leio diuturnamente? Tem a ver que o lado ridículo do exemplar de hoje encontra-se na coluna do velho Cláudio Moreno. Ele, volta e meia, diz ofensas a seus leitores. Hoje temos, em sua crônica quinzenal, na página 32 do veio principal:
[...]
Outra consequência do descaso com os provérbios foi o esquecimento de seu significado. Campeiam na internet várias 'releituras' [sic] em que idiotas pró-ativos tiram, das unhas dos pés, a interpretação 'verdadeira' [sic]. Dizia um desses animais: [...]
Nem preciso dizer o que diziam os animais, pois nosso burro lá de cima deixa bem claro: "Às vezes finjo-me de burro para não ser incomodado [ofendido] pelos que fingem ser inteligentes." E que posso dizer de um professor, do porte do Moreno, que desfere esses coices em sua crônica de resto educativa? Só posso concluir que a sabedoria de Zero Hora é marcada por desabotinadas tonteiras.
DdAB
Ou seja, Herbert José de Souza fala em cultura e eu entendo que ele fala em instituições. Então associo-o aos achados de Acemoglu e Robinson no livro "Por que as nações fracassam": países portadores de instituições extrativistas implantadas num mundo eivado de desigualdade, como este em que vimos os 16% de aumento que os juízes acabam de se auto-conceder, são condenados a viver péssimas vidas, sem esgotos, sem justiça, sem as bases de conforto que a vida moderna, numa sociedade social-democrata poderia oferecer.
Falar em desigualdade exige-me falar em Jessé de Souza com a sacada de que a tolice da intelligentsia brasileira é não entender que nosso verdadeiro problema é este e não a incipiente industrialização de hoje, a exagerada industrialização de ontem. Na sociedade desigual, todos são desiguais com relação aos serviços industriais de utilidade pública, como é o caso do saneamento: esgoto para todos, uma rede nacional de esgotos, vale mais que a reindustrialização e o delírio local da construção da indústria 4.0. Sem a cultura de que fala Herbert de Souza, sem a escola técnica, sem o domínio da leitura, da língua portuguesa e da matemática pré-universitária, não há salvação.
Em resumo, àquela litania do "get the prices right", não estamos sendo capazes de conseguir mudá-la para "get the institutions right", daí que até hoje tem economista querendo a reindustrialização.
Pois bem. E que tem a ver o que falei com a sabedoria de Herra, o jornal Zerro Herra, que leio diuturnamente? Tem a ver que o lado ridículo do exemplar de hoje encontra-se na coluna do velho Cláudio Moreno. Ele, volta e meia, diz ofensas a seus leitores. Hoje temos, em sua crônica quinzenal, na página 32 do veio principal:
[...]
Outra consequência do descaso com os provérbios foi o esquecimento de seu significado. Campeiam na internet várias 'releituras' [sic] em que idiotas pró-ativos tiram, das unhas dos pés, a interpretação 'verdadeira' [sic]. Dizia um desses animais: [...]
Nem preciso dizer o que diziam os animais, pois nosso burro lá de cima deixa bem claro: "Às vezes finjo-me de burro para não ser incomodado [ofendido] pelos que fingem ser inteligentes." E que posso dizer de um professor, do porte do Moreno, que desfere esses coices em sua crônica de resto educativa? Só posso concluir que a sabedoria de Zero Hora é marcada por desabotinadas tonteiras.
DdAB
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