14 julho, 2018

Zero Herra e seu Repórter Paulo Germano


Querido blog:

Alguns domingos atrás (9 e 10 de junho passado), li na página semi-final do caderno DOC do jornal Zero Hora -que carinhosamente chamo de Zerro Herra- um artigo de Paulo Germano. Quem o conhece proximamente sabe que ele estudou no Colégio Farroupilha. Eu não o conheço proximamente, mas sei disto da mesma forma.

O artigo que ele Paulo escreveu foi intitulado A Hora da Autocrítica (página 23 do Caderno Doc A Reportagem no Foco. Creio que esta atitude é bastante elogiável, o que não me impede de seguir pensando haver pontos-chave da encrenca toda que são tratados de modo equivocado por ele.

Chamou-me a atenção vê-lo usando argumentos de que eu mesmo lancei mão em torno dos eventos que culminaram com o impeachment da presidenta Dilma. Mas na verdade a burrada -deles, não confundamos- começou bem antes. Nem sei se na campanha eleitoral, mas certamente no dia em que os resultados da eleição foram divulgados e que Aécio Neves, candidato derrotado no segundo turno, ficou histérico, inconformado, canino, desabotinado por ter sido derrotado. Não precisamos falar das qualificações de Aécio Neves para qualquer cargo público. Seu cargo deveria estar em um presídio ou uma clínica de reabilitação de narcisistas. Pois a turma do impeachment considerou que as palavras de ordem bradadas por esse político brasileiro eram suficientes para iniciar o movimento de quebra das regras institucionais.

Meus argumentos daquele tempo e outros tempos se espraiam até os dias de hoje, nas postagens no blog e conversas nos bares e na mesa do almoço familiar, achei que poderia copiar algumas ideias para deixar registradas.

Pois bem. Em seu tópico frasal, ele usa um plural majestático ou um argumento ampliado que não me captura:

Sejamos humildes: erramos. [...]

com aquele "s" grandão, capitulado. Claro que eu não errei. E, se o fiz, foi erro de não ter concebido com mais clareza esses argumentos que o próprio Paulo vai usar no que segue. Eu é que não vou citar verbatim. E por que digo que o Paulo é de direita, intrinsecamente de direita? Pois ele inspira-se para escrever esse artigo de Zero Hora numa matéria da revista Época de título Os paneleiros arrependidos. E já vai tentando livrar sua própria barra:

[...] quando todos apontam o dedo atrás de culpados. Ora, ninguém é culpado: o governo Dilma era um desastre absoluto, e as pessoas protestaram por um país melhor. O governo Temer é uma vergonha mundial, e as pessoas começam, agora, a enxergar o outro lado - o de que seria menos traumático e mais democrático se tivéssemos esperado. [...]

A palavra "culpa", claro, tá condenada. Mas -se a trocarmos por "responsabilidade", tá na cara que a responsabilidade pelos infaustos eventos é em primeiro lugar de Aécio Neves e em seguida de seu séquito e da turma que crescentemente foi-se associando a ele naquele clamor de vingança. Paulo Germano e outros são responsáveis por terem se colocado sempre a favor do movimento. Como não seriam responsáveis se ajudaram a formar multidões nas ruas e na imprensa querendo a derrubada da coroa? E é claro que seria menos traumático se a força fosse usada de outra forma, tentando contornar os desvios.

Felizmente não foi responsabilidade exclusiva de Paulo Germano, inclusive por ter havido gente dentro do próprio PT que jogou o jogo de inviabilizar o governo da coroa. Esses caras também devem ser responsabilizados, pois o partido não acabou e eles devem ser enquadrados como traidores. As chances de uma frente de esquerda eleger-se em outubro são bastante elevadas e, como tal, é necessário que os "termocéfalos" deixem as pessoas mais capazes dirigi o país, fazer as negociações entre executivo e legislativo, e -óbvio- mudar radicalmente o estilo do judiciário.

Minha piada a respeito do tema era que essa macacada esperava que, na linha sucessória de Dilma, não estivessem Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, mas -por sagrado contraste- o Papa Francisco I. E será que é mesmo piada? Vai saber! Segue ele:

[...] O fato é que, aos poucos, parece avançar sobre o Brasil a consciência de que aquilo foi um erro.
   Um erro, não um golpe. Teve uma denúncia fundamentada, teve a soberania do Congresso e teve um Supremo aprovando o rito. Só que o rito garantiu a legitimidade, a constitucionalidade do processo, não garantiu que o processo tenha sido justo. De fato, havia elementos que configuravam crimes de responsabilidade, mas um impeachment precisa de mais do que isso.
   Um impeachment, em um regime presidencialista, é grave demais para ocorrer sem consenso. E nunca houve consenso em torno do impeachment de Dilma - nem na esfera jurídica, nem na política, nem nas ruas. A população queria puni-la pela corrupção e pelo governo horroroso, mas governo horroroso não é motivo para impeachment. Ninguém foi às ruas bradar contra os decretos de créditos suplementares ou contra as pedaladas fiscais.

A consciência de que o impeachment foi um erro sob a responsabilidade inicial de Aécio Neves é claro que sempre foi de uma enorme fração da população brasileira. Mas dizer que o erro, no caso, não se confunde com um golpe é pura retórica. Ademais, os argumentos são razoavelmente contraditórios, descontado o julgamento de valor que houve mesmo as tais pedaladas. A propósito, hoje noticia-se que o ministro do TCU que avalizou o quadro inteiro está se vendo às voltas com a polícia, acusado precisamente de corrupção, o senhor Augusto Nardes.

Mais adiante, Paulo vai falar:

   Faltou a materialidade, a concretude, a dimensão necessária para caracterizar um ato que justificasse o afastamento de uma presidente da república. Faltou a incontestável certeza de que sim, aquilo merecia uma expulsão sumária, como a corrupção de Collor mereceu - e como, aliás, essa enxurrada de escândalos que atropela Temer mereceria.

Pronto: já tá novamente pensando na saída de Temer e na entrada do Papa Francisco I. Mas ele segue argumentando e agora nada poderia ser mais de minha autoria:

   Não estou defendendo Dilma, estou defendendo uma entidade abstrata e disforme chamada instituições. Algumas se esfrangalharam depois do impeachment. Quando não há consenso na sociedade, quando um grupo desmonta sozinho uma instituição tão medular como a presidência, é este grupo que ganha força - não a sociedade inteira. E este grupo, sem o aval da sociedade, sente-se legitimado a praticar os desvarios institucionais que bem entender.

[...]

   Mas que os paneleiros erraram, erraram. Paciência, em uma jovem democracia, é assim que se aprende. Da próxima vez, melhor deixar um governo péssimo sangrar até o fim. Deus queira que não haja próxima vez - merecemos, em outubro, um presidente melhorzindo do q ue os últimos dois.

Pois claro concordo com essa visão, e uma que nem referi, mas que ele falou, que o destino de Temer e seus asseclas é "o xilindró". Mas a questão é perene: a turma que acompanhou Aécio naquela trajetória de ódio (outros nem sentiam ódio) para levar ao impeachment da presidenta Dilma, essas pessoas, deram um fora, um tremendo fora. Agora, que estamos prestes a ver nova campanha eleitoral ganhar a televisão, torna-se claro: o governo Temer é um fracasso, um bando de incompetentes acuados por órgãos policiais, um pega-ladrão diário. Como vai-se governar, tendo como apoio um partido de ladrões e um congresso nacional majoritariamente auto-interessado?

DdAB
A imagem é daqui. E a farsa é filha da farsa que é filha da farsa, ad nauseam.

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