07 dezembro, 2016

7 x 1 É Melhor que 6 x 5


Querido diário:

Primeiro: coloquei o que segue em meu mural do Facebook:

Eu e o Barbosa (e mais um errito da Zero Herra)
Pois então. Acabo de ler na página 12 do jornal Zero Hora de hoje uma declaração de Joaquim Barbosa, figura pública que me desperta mais arrepios que aplausos. Mas agora, como deixar de aplaudir se eu mesmo andei divulgando ideias assemelhadas? Diga lá, Barbosão:
-A sociedade brasileira ainda não acordou para a fragilidade institucional que se criou quando se mexeu num pilar fundamental do nosso sistema de governo, que é a Presidência. Uma das consequências mais graves de todo esse processo foi o seu enfraquecimento. Aquelas lideranças da sociedade que apoiaram com vigor, muitas vezes com ódio, um ato grave como é o impeachment não tinham não tinham clareza da desestabilização estrutural que ele provoca - disse, em entrevista a Folha de São Paulo."

E a Zero Herra? Obviamente, esqueceram naquele "a Folha de São Paulo" a crasezinha, não é mesmo?

Segundo: pensei em criar um comitê diretivo de minha pessoa. Com isto, espero que, se for julgado pelo supremo tribunal, poderei invocar o voto contrário à prisão e manter-me em liberdade. Renan Calheiros invocou este direito. Por que eu não poderia? Como sabemos, declaro-me imperador da Editora GangeS.

Terceiro: tratei do assunto da estupefação que causa o poder daquela turma de Brasília, em particular, os juízes. Aqui tem algo que remete para aqui. É inimaginável que o Marco Aurélio que cassou o mandato presidencial (do senado) de Renan Calheiros e o Gilmar que quer a cassação do Marco Aurélio tenham lido mais de um ou dois livros em comum. E é inimaginável que essa turma detenha o poder de enfiar-me no xilindró se meus crimes vierem a ser julgados por eles e eu não conseguir, em bom tempo, criar a câmara que votará para que a decisão lá deles não seja cumprida por decurso de algo. Sei lá. É que aqueles 7 x 1 contra a Alemanha não são nada frente àquelas decisões judiciosas que dão vitória para um lado ou outro pelo apertado escore de 6x5.

Quarto: anuncia-se que o brasileiro médio terá que trabalhar 50 anos para ganhar direito à aposentadoria com proventos integrais. Já achei a solução. Dos menos de R$ 6 mil que hoje o trabalhador que contribui "no teto" ganha, devemos aumentá-la para R$ 60 mil, como é o que "retiram" os juízes, os dirigentes das estatais, os deputados, e mais uma turma que abala qualquer argumentação e qualquer orçamento público.

Quinto: anuncio que a maior fria em que já entramos foi reeleger Dilma, uma coroa autoritária que perdeu o apoio de forças (eu ia adjetivar, mas achei desnecessário, pois eu e o Adalberto e mais uma meia dúzia de amigos que lhe hipotecamos apoio não temos qualquer força séria a ser levada a sério) e, notadamente, dentro de seu próprio partido. Estamos pagando agora pela derrota de Aécio Neves naquela eleição. Garanto que o programa de governo lá dele, ainda mais escalafobético do que o de Temer/Meireles, não iria repercutir com tanta força sobre "a economia popular". Estas novas regras da reforma da previdência são de um primarismo de corar aquela escultura de pedra que nos encima, mulheres do povo arrancando os cabelos (parece que vi esta caricatura no traço genial de Sampaulo).

Sexto: tá na cara que o emprego de um velho de, digamos, 75 anos, representa o custo de oportunidade de um, talvez até não mais que 0,25, emprego de um jovem. Tá na cara que o ideal da sociedade é que as pessoas trabalhem pouco e vivam muito. Tá na cara que essas regras contábeis de distribuir a renda entre os ativos e inativos do planeta (não apenas do umbigo do Meireles) devem ser mudadas.

Sétimo: tá na cara que o déficit da previdência e outros déficits do governo tem a ver com causas já altamente comentadas por todo mundo inclusive por mim myself:

.a estrutura tributária grotesca, em que o imposto de renda é vergonhoso e os impostos indiretos também. O imposto de renda ajuda a corrigir a distribuição enviesada que leva os detentores de poder de monopólio a terem rendimentos acima de seu custo de oportunidade. Os impostos indiretos, além de fazerem o contrário, penalizando a classe baixa, é distorcivo sobre o sistema de preços, causando-lhe tropelias que não somos capazes nem de imaginar o que aconteceria se essas idiossincrasias da elite brasileira fossem corrigidas. E ainda temos o imposto sobre heranças e o que atinge as grandes fortunas. E ainda mais: de quebra tem bilhões em sonegação e incentivos fiscais.

.b outra forma de combater o déficit é acabar com o roubo, acabar com os altos salários (ver peroração favorável ao imposto de renda no item acima), ativar os mecanismos institucionais que levem a economia a crescer a taxas civilizadas para um país periférico (mais, por suposto, que a dos Estados Unidos, o que não vem sendo o caso do Brasil por mais de 20 anos).

.c meu conhecimento de macroeconomia é um pouco mais que perfunctório, portanto o que vou dizer é da mais alta obviedade e, por isso mesmo, mais letal à capacidade técnica da atual "equipe econômica", um aglomerado de aecistas e outros crentes na "soberania do mercado", o que os faz rimar com "diagnóstico errado". Então: aumentar gasto público eleva o emprego e a inflação. Reduzir gasto público faz o contrário. Mas há outra forma de reduzir a inflação sem reduzir o gasto público e, com a redução, a inserção ainda mais profunda no país no caos social: cobrar impostos, em especial, o imposto de renda. E tem mais: claro que se isto acontecer, ainda não chegaremos à situação de equilíbrio geral macroeconômico, pois é impossível que, com esta equipe macroeconômica, o Brasil alcance uma harmonia entre a inflação, a taxa de juros, a taxa de câmbio e a taxa de salários. Alguém terá que pagar a conta e o atual governo está convidando a classe trabalhadora para fazê-lo. Meu desamparo é tal que tenho certeza de que o lulismo foi incapaz de mexer com isto.

DdAB
P.S. seria menos vergonhoso, e até razoavelmente necessário que aqueles 20 anos de carência para o caos dados pela PEC 45 deveria ter sido inserido em um pacote voltado a implantar a renda básica da cidadania, corrigir o imposto de renda praticamente proporcional que hoje vigora, substituir impostos indiretos por diretos, acabar com a corrupção, sonegação, altos salários dos três poderes governamentais, enfim, começar a endereçar o país para um projeto nacional sensato.

P.S.S. escrito às 10h20min de 8/dez/2016: pois não é que não é que vi boa parte do "julgamento" ontem. A certa altura, estonteado com aquele palavrório, pensei: Não é que não é que esses caras dizem o contrário do contrário do contrário do avesso do avesso do avesso do que podemos pensar que estão negando? E fiquei ainda mais abisurado com a solução que deram ao caso: Renan é réu, claro, o que o impede de assumir a presidência da república em caso de sucessivas vacâncias de cargo (Temer, fora com ele, e o filho de César Maia), mas segue sendo presidente do senado da república. Já não sei mais se a constituição requer para este tipo de tranquibérnia a "reputação ilibada".

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