01 setembro, 2016
Política não é Ciência Política
Querido diário:
Depois da queda, posso voltar a gritar meu ponto levantado quando o réu Eduardo Cunha, por vingança, pirraça, o que seja, iniciou o processo de impeachment da presidenta Dilma. Havia, pelo que ouvi, 27 processos, e ele escolheu um deles, assinado por um petista trânsfuga, um jurista levado ao escanteio e uma senhora de olho nas oportunidades que seus pitis lhe dariam. Se não fossem as alegadas "pedaladas fiscais", seria alguma outra coisa. Já vi gente lembrando da fábula do lobo e do cordeiro.
Pois então: sou contra o impeachment de Dilma, fui contra o governo Lula e contra o governo Dilma e agora sou contra o governo Temer. Fora Temer!
Política não é ciência política, nem -menos ainda- economia política (incluindo a teoria da escolha pública). Por ter recebido extenso treinamento na economia política, reluto em entender (talvez por faltar-me mais estudo de ciência politica) como é que gente que está no grupo dos menos aquinhoados consegue manifestar-se alegremente em favor dos resultados dos acontecimentos destes dias no senado da república.
A população brasileira, inclusive os juristas e contadores, está/estão dividida/os sobre a legalidade do processo de impeachment, começando com o pedido daquele trio, continuando pela aceitação do senhor Cunha e seguindo-se outros do "crime de responsabilidade". Uma fração da população queria menos o PT do que o impeachment. Queria novos ares e nem tanto Janaína Pascoal, aliada de ocasião. Divisão assim foi a que constatei na Argentina quando, naqueles tempos, os militares de lá decidiram invadir as ilhas Malvinas, considerada por muita gente como domínio britânico. Pois, nos momentos da invasão, vi imagens de muita gente festejando que "as Malvinas são Argentinas". E, quando os ingleses os expulsaram, vi imagens de muita gente cobrando os responsáveis pela humilhação militar ou diplomática com seu "abaixo a ditadura".
Parábola iniciada, parábola concluída: acho que vivemos agora a mesma situação de divisão inconciliável: o impeachment é ou não é justo? Tem gente que quer o PT fora e outros que querem a ordem institucional preservada. Tem gente que acha que a presidenta Dilma cometeu "crime de responsabilidade" e tem gente que acha que nada disso ocorreu. Em outro momento, sugeri que tal tipo de impasse resolve-se com... eleições (aqui)
Mas acho que não dura 20 anos.
E como é que -pensando em regras metodológicas para chegar à verdade- poderemos saber se o governo que agora se desinterina (cuidei para não escrever desinteria, pois falo da propriedade de tornar-se efetivo) foi ou não benévolo aos menos aquinhoados. Ciclo é, diria o governador Sartori, é ciclo e por isto deve ser chamado de ciclo, o que implica que "tudo que sobe desce", e vice-versa, ou seja, em breve, ao sabor de forças econômicas ainda não completamente entendidas, este PIB cadente dos últimos anos voltará a ascender. Mas, seja na retomada, seja na manutenção da economia no buraco, há perguntas perenes:
.a. o que foi feito da pobreza, aumentou ou diminuiu?
.b. o que foi feito da mobilidade social?
.c. o que foi feito do dinamismo do sistema?
.d. o que foi feito da distribuição dos frutos do progresso econômico?
Que fazer? Buscar um consenso entre os diferentes grupos de esquerda, na tentativa de formar uma frente única. É? Então imagino que podemos começar com questões como voto facultativo/obrigatório, parlamentarismo/presidencialismo, voto distrital/proporcional, periodicidade das eleições, (as)sincronia entre eleições federais e locais, (im)possibilidade de reeleição para alguns, para todos. E por aí vai. Haverá consenso? Qual será o mínimo desta minha lista definitivamente incompleta que permitirá formá-lo?
Meu voto vai para uma coalizão que garanta que mudará o voto de obrigatório para facultativo. Claro que tenho muito mais coisa, algumas de economês escorreito, como substituir os impostos indiretos pelos diretos, mas - deixa prá lá. Vamos ver se isto também é consenso na esquerda, o que duvido.
DdAB
Imagem: colhi-a no Google Images ao digitar "cachorro da classe alta", em homenagem à maioria absoluta de nossos senadores.
P.S. "Quer conhecer o vilão? Ponha-lhe o mando na mão." Pois agora o presidente interino-efetivado Michel Temer informa que vai prender e arrebentar quem o chamar de golpista.
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